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segunda-feira, 4 de abril de 2011

QUANTAS PATAS TEM UM ARTRÓPODE?


"Está tudo definido. Não há nenhuma instituição na sociedade com mais prescrições do que a Escola. Se não há autonomia também não há responsabilidade"


Há dias, transcrevi partes de uma entrevista ao Professor Miguel Santos Guerra, Catedrático na Universidade de Málaga. Regresso a essa entrevista e a uma pergunta do Jornalista de A Página da Educação: "Esta edição inclui uma reportagem sobre a pobreza infantil. É um dos muitos problemas e das realidades sociais com que os professores se deparam. As escolas estão preparadas para lidar com estas questões?" Respondeu o Professor:
"Há aqui um problema - a Escola está separada da vida, está distante dos problemas da realidade. Eu vejo aí um problema: os livros, os conhecimentos inertes que, por vezes, não têm que ver com a realidade. A Escola não pode permanecer separada dos problemas da vida, porque a Escola é para a vida. Há um artigo que conta a história de uma professora de Biologia que pergunta a uma adolescente quantas patas tem um artrópode. E a adolescente, suspirando, diz-lhe: ai senhorita, quem me dera ter os problemas que a senhora tem...
Isto é um exemplo muito certeiro. Para mim, para a minha vida, isso das patas dos artrópodes, o que significa? A Escola tem de ser uma escola de vida e para a vida. É preciso entender a realidade: porque há pobres e ricos, como se evitaria essa diferença, porque uns estão condenados a ter tudo e outros não. A Escola tem de reflectir sobre isso e sobre o que se pode fazer. Não entendo uma escola que esteja afastada da vida, dos seus problemas, das suas realidades. (...) Por isso digo que a Escola tem de melhorar, tem de avançar, tem de abrir-se à realidade que está lá fora. A Escola está carregada de inércias, pressionada deste cima por um programa que os professores têm de desenvolver com pouca autonomia. Penso que as escolas têm de ter mais autonomia, mais autonomia curricular, naquilo que se faz lá dentro, mais autonomia organizativa, mais autonomia económica, porque está demasiado prescrito o que faz, o que têm os alunos de estudar, os horários, os exames... Está tudo definido. Não há nenhuma instituição na sociedade com mais prescrições do que a Escola".
Nota:
É bom ler os investigadores confirmarem aquilo que, humildemente, defendemos. Quando assumimos que a Escola que temos transporta a matriz da Sociedade Industrial, é uma Escola, organizacionalmente, para ontem e não para hoje e muito menos para o futuro, quando reclamamos autonomia e melhor investimento, quando colocamos em destaque a necessidade de redução do número de alunos por estabelecimento de ensino e por turma, quando salientamos a necessidade de uma profunda revisão curricular e programática, quando defendemos que deve existir autonomia para que as escolas construam, a partir de uma matriz básica nacional (o Português e a Matemática e outras são iguais do Minho ao Corvo) os seus currículos e programas, é óbvio que nos situamo no campo de uma Escola com vida e para a vida. Mas, infelizmente, há quem não perceba do que estamos a falar... 
Ilustração: Google Imagens.

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