Adsense

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

TOCADOS PELO DOM DA INFALIBILIDADE


"Esclareceu" na sua qualidade de Engenheiro Civil, não esclareceu na qualidade de Educador, de Psicólogo, de Sociólogo ou de uma qualquer outra área afim. Defendeu o indefensável chegando ao ponto de assumir, obviamente, "que não faz sentido avaliar o modelo em causa". Para este (des)governo nada deve ser avaliado, porque foi tocado pelo dom da infalibilidade.

O Sistema Educativo precisa
de governantes humildes
e dispensa os que se julgam
portadores de certezas absolutas.
O JM de hoje coloca, em foco, o problema das Escolas a Tempo Inteiro, um assunto que o DN, na sua edição de 15 de Outubro de 2010 equacionou em múltiplas variáveis, num excelente trabalho do Jornalista Luís Calisto. Digamos que o Jornal Oficial, o Jornal Controlado pelo Poder, veio tentar justificar e defender a sua dama. Ninguém estava à espera, certamente, que outra coisa não acontecesse. Para mim não correspondeu a qualquer surpresa. Ademais, o Director Regional de Planeamento e Recursos Educativos da Madeira fez muito bem em "esclarecer" a problemática. "Esclareceu" na sua qualidade de Engenheiro Civil, não esclareceu na qualidade de Educador, de Psicólogo, de Sociólogo ou de uma qualquer outra área afim. Defendeu o indefensável chegando ao ponto de assumir, obviamente, "que não faz sentido avaliar o modelo em causa". Para este (des)governo nada deve ser avaliado, porque foi tocado pelo dom da infalibilidade. É o primeiro sinal que o Projecto do PS será chumbado na Assembleia Legislativa da Madeira, para "contentamento" do governo e prejuízo das crianças, pais e encarregados de educação. Mas o Engenheiro disse mais: que devemos ver a Escola a Tempo Inteiro "muito mais pelos seus efeitos sociais e pelo que deu a ganhar aos seus alunos e famílias, do que pelos seus sucessos educativos". ESPANTOSO! Estamos conversados porque subsiste aqui uma total confusão. 
Ora bem, desde logo, todos os sistemas, modelos, etc., devem subordinar-se a uma avaliação. E essa avaliação implica necessários estudos. E sobre esta matéria tenho dados que a seu tempo serão públicos. Depois, pergunto, quais efeitos sociais, à luz do que especialistas vários assumem como altamente nocivos? Depois, ainda, "deu a ganhar às famílias", pois, através da "escravização dos pais" como salientou o investigador Santana Castilho? Então, para que serve a ETI se o objectivo que subjaz não é o sucesso educativo mas o que dá a ganhar às famílias? Uma vez mais, estamos conversados.
O que o Director Regional não quer ver (mas sabe, porque reconheço-lhe inteligência) é que a Escola a Tempo Inteiro constitui uma resposta certa para um problema errado. E o que está errado é a organização social, o mundo laboral e a capacidade de produzir mais em menos horas de trabalho. O que está em causa é o respeito pela família que implica não termos pais a meio tempo ou avós a tempo inteiro. A defesa da ETI, sublinha o Mestre Paulo Guinote, "é a admissão de um fracasso, de uma derrota e não o seu contrário".
É aqui que se deve centrar a discussão e não em papel com letras que não adiantam nada. É preciso ir ao âmago do problema, à sua centralidade, à importância da emancipação e reconhecimento da família neste processo. O sistema não pode nem deve responder a absurdas necessidades, porque a missão e vocação da Escola não é a de remediadora social. A Escola encerra um conjunto de objectivos bem definidos e nesses objectivos não cabem certamente as funções de "armazém de crianças" no sentido que o Dr. Daniel Sampaio enquadra. Posso admitir que a ETI tivesse nascido de uma necessidade, eu sublinharia, temporária, para dar resposta às insuficiências da organização social, todavia, é dever de quem governa não laborar no erro e, pelo contrário, dar contributos sérios e consistentes no sentido de uma mudança, graduada no tempo, que corresponda a uma sociedade trabalhadora, empreendedora, geradora de resultados económicos, que possibilite uma melhor distribuição da riqueza e melhor bem-estar às pessoas. 
Esta procissão ainda vai no adro, muito será discutido, porque há relatórios sobre esta matéria. É preciso que o governo não se esqueça desse pormenor.
Ilustração: Google Imagens.

Sem comentários: