"Medo, medo." É assim que a Drª Manuela Ferreira Leite vê o país ao fim de quatro anos e meio de mandato de José Sócrates e da maioria absoluta socialista. "Vivemos numa sociedade bloqueada da qual só se pode esperar decadência, porque enquanto não ultrapassarmos o medo não é possível crescermos". A candidata do PSD disse tudo isto e muito mais, ainda ontem durante um jantar em Aveiro.
Ora bem, penso que esta é uma cassete que não passa, pois dá todos os sinais de se enquadrar numa atitude de algum desespero eleitoral. Basta que, serenamente, passemos um olhar sobre a sociedade portuguesa a quatro níveis:
1º Olhe-se para o Continente e se alguém, hoje, tem algum problema em afirmar, publicamente, o que pensa. Olhe-se para os telejornais, onde desde o patrão da Sonae, Engº Belmiro de Azevedo, ao mais humilde trabalhador de uma empresa, surgem aos olhos de todos em severa crítica ao governo.
2º Olhe-se para a presente campanha eleitoral e quantas centenas ou milhares de pessoas por todo o País, acompanham os candidatos da direita à esquerda.
3º Olhe-se para a comunicação social em geral, fundamentalmente, para os programas de rádio e de televisão onde intervêm jornalistas e convidados e facilmente se depreenderá da liberdade existente.
4º Olhe-se, ainda, para a Assembleia da República e, sobretudo para o seu novo Regimento, implementado pelo partido que suporta o governo e facilmente se constará a abertura que hoje existe ao nível do debate sério e actual, quase sempre transmitido em directo.
5º Olhe-se, ainda, para as grandes manifestações de trabalhadores, algumas que atingiram mais de uma centena de milhar de participantes e interroguemo-nos se haverá medo na sociedade.
Portanto, penso que se trata de um desespero de campanha de uma candidata e de um partido que não se conforma em não ser poder.
Agora, que por aqui, na Região, esse sentimento de castração do pensamento existe, obviamente que sim. Pela mesma ordem, pergunto, (1) quem se atreve, desde empresários a trabalhadores (afora alguns representantes sindicais), a criticar o governo; (2) quantos, livremente, sem filiação partidária, acompanham os políticos na rua durante a campanha; (3) que programas (só conheço o "dossier de imprensa" livre) analisam, profundamente, a actividade governativa; (4) que regimento regula a actividade parlamentar madeirense; (5) quantas manifestações se fazem na Madeira e quantos se atrevem a participar. Ora, se há constrangimentos políticos, sociais e culturais, parece-me evidente que, infelizmente, a Região da Madeira está no topo.
Finalmente, considero grave que a candidata entre por estes caminhos sobretudo porque acaba por despoletar e gerar nos portugueses esse sentimento que considero pavoroso numa sociedade que se deseja livre e responsável. Deveria, isso sim, a Drª Manuela Ferreira Leite combater o que aqui se passa, onde, diariamente, se joga madeirenses contra madeirenses e se destila um ódio aos portugueses do Continente. Deveria começar por aí.