Adsense

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

ESCOLA, ESQUERDA E EDUCAÇÃO

Na Assembleia Legislativa da Madeira, apresentado pelo PS, encontra-se em fase de elaboração de pareceres, uma proposta de Regime Jurídico do Sistema Educativo Regional. Neste sentido, tenho vindo a reunir com Sindicatos, Conselhos Executivos, Juristas e, na agenda, constam, ainda, audições aos estabelecimentos de ensino particulares. Trata-se de uma fase de relevante importância, pois, a partir de um documento base, há que explicar e sobretudo ouvir o pensamento dos vários actores do sistema educativo. Têm sido muito interessantes e profícuos estes contactos, uma vez que há sempre mais qualquer coisa que nos põe a reflectir. Aliás, tenho tido o cuidado de sublinhar que esta proposta de diploma constitui um ponto de partida e não de chegada e, portanto, é óbvio que sejam bem-vindos todos os contributos. Saiba a Assembleia os aproveitar.
A propósito, acabo de ler um texto dos Professores Ariana Cosme e Rui Trindade, ambos da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, da Universidade do Porto, publicado na revista de Outono de 2009, de A Página da Educação (pág. 68/69), que ajuda a compreender uma Escola que não seja "um espaço de reprodução das desigualdades". Este projecto vai nesse sentido.
"(...) para a esquerda política é inaceitável, do ponto de vista dos princípios, que a Escola se afirme como um espaço de reprodução das desigualdades, assim como é inaceitável que os professores definam a sua intervenção como profissionais em função de um tal pressuposto. Neste sentido, importa reconhecer que o problema que se coloca àqueles que se situam à esquerda é, certamente, um problema que resulta de um desafio mais ambicioso e complexo. Um desafio que decorre de um imperativo ético e não tanto da resposta, por exemplo, a uma necessidade de maior conforto profissional. Daí a exigência de se desenvolverem projectos de gestão democrática nas escolas e de se construírem colectivos docentes suficientemente solidários para possibilitarem a participação dos professores nesses projectos de forma reflectida e interessada.
Se, hoje, um tal projecto nos conduz a produzir um discurso de carácter utópico, isto só pode querer dizer que há um percurso difícil a fazer. Um percurso que nos obriga a uma reflexão sobre os seus azimutes e o modo de o realizar. Um percurso cujas dificuldades e armadilhas se afirmam, actualmente, de forma mais explícita, após uma legislatura em que um governo que reivindica a sua pertença ao campo da esquerda, e com o apoio de uma maioria absoluta no Parlamento, nos mostrou como a fragilidade de alguns dos conceitos que alicerçam o projecto de uma Escola Pública, subordinada a uma racionalidade político-pedagógica de inspiração democrática, podem constituir não só um obstáculo à afirmação de um tal projecto, como um meio estratégico através do qual se promove a ilusão de que esse projecto foi ou está em vias de ser construído".
Fotos: Google Imagens.

5 comentários:

Camacho disse...

A grande questão:

"A esquerda política" acha "inaceitável, do ponto de vista dos princípios, que a Escola se afirme como um espaço de reprodução das desigualdades".

O problema reside no seguinte: é que esse pressuposto é válido também para a "direita política"...

O problema da esquerda é que pensa aquilo (o que não está mal) mas trabalha para outra coisa : para uma escola que se afirme como um espaço de produção de... igualdades.

O que é - de todo - diferente.

E quando se sabe que a igualdade se atinge sempre por baixo (para lá chegarem os coitadinhos) e, iterativamente, mais tarde, ainda e sempre cada vez mais por baixo, pelo que o fim só pode ser "o fundo"...

Imagine que o seu Camacho Olimpico tinha que treinar ao ritmo dos colegas de nível inferior para que todos pudessem ser iguais. E que o tempo que a ele (você) dedicou deveria ter sido mais bem rentabilizado a elevar do medíocre para o suficiente os restantes atletas da equipa...

E não vale a pena distinguir situações pois como Camacho era necessário naquele nível à Região e ao Clube, também temos que zelar pela qualidade e pela elite (a verdadeira, não as cunhas) nas nossas escolas. Pois essas elites é que nos poderão levar adiante...

É difícil à esquerda este raciocínio. Sabemos bem. Mas paciência...

Camacho levou a natação da Madeira até onde nunca tinha chegado e até onde ainda não voltou desde essa altura. Se fossemos evitar a "desigualdade", ele nunca tería lá chegado...

Por muitas voltas que tente dar... o fim das desigualdades é um erro "geracional de esquerda". Lute-se pela elevação dos mínimos, mas não se pare por aí. Pois no futuro (como sevê, claramente, no desporto) os melhores é que farão a diferença. Quem os tiver, avançará. Quem os relega para a média medíocre estará em dificuldades.

O fim das desigualdades será o principio do fim... da sociedade que por aí avançar.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Desde logo, como se deduz do texto, eu não produzi qualquer juízo de valor, apenas publiquei um excerto de um artigo que entendi interessante.
Perdoar-me-á o leitor mas, penso que não dedicou toda a sua atenção ao texto. É que quando os autores falam de desigualdades, eles estão a referir-se às desigualdades sociais que todos nós, o meu Caro incluído, sabemos existirem. Somos um povo pobre e com graves lacunas culturais. A Escola, não pode, por isso, ser uma reprodutora dessas desigualdades, por exemplo, na estrutura dos currículos. E sabemos que estes, por exemplo, repito, têm uma matriz política que não ajuda a esbater tais desigualdades.
No caso da Escola Pública, todos, mas todos, devem partir em igualdade de circunstâncias, que nada tem a ver com "coitadinhos" (quantos pobres chegaram ao Doutoramento...) mas com as políticas de inclusão, sem armadilhas e obstáculos, eu diria, intencionais. Aliás, a um nível macro, pode-se dizer que os senhores do mundo sabem como o querem à medida dos seus interesses.
Ora isto não tem nada a ver com a produção da qualidade, da exigência, do rigor e da disciplina que deve constituir a matriz da Escola. E não tem nada a ver porque uma coisa é o domínio organizacional, curricular e programático, outra, a qualidade que deve ser apurada. É, por isso, que defendo a reinvenção do sistema educativo, compaginado com políticas de família sérias e exigentes, para que a Escola não nivele por baixo. Quando mais alto for o rendimento melhores serão as possibilidades de uns se sobressaírem aos demais. É esse o princípio.
Ah, quanto à "direita", é óbvio que tem responsabilidades históricas neste processo. Também a título de exemplo, enquanto nós ainda temos uma taxa de analfabetismo gritante, países como a Suécia, Dinamarca, etc, resolveram esse problema há mais de um século. Quase meio Século de Estado Novo produziu uma taxa de analfabetismo que nos coloca, ainda hoje, numa situação muito complexa. Nestes últimos trinta anos é verdade que poderíamos ter feito muito melhor.
Uma vez mais obrigado pelo seu comentário.

Camacho disse...

O seu primeiro parágrafo permite-me deduzir que poderá eventualmente discordar dos autores. Seria um bom princípio. Mas, logo de seguida contraria isso. Volta ao tal erro geracional de ser contra as desigualdades…
As desigualdades não são más. Sociais e económicas incluídas. O que é mau é até onde podem cair os mínimos (limites inferiores) que definem – também – essas desigualdades.
Indo à analogia desportiva, prefiro, sem sombra de dúvidas um Barcelona com evidentes desigualdades (também salariais) mas com os seus génios a produzir, do que uma equipa média-pequena como o Marítimo, onde o equilíbrio entre os jogadores é uma realidade mas onde não se encontra uma referência ou um líder que alavanque a equipa…
(ou o Nacional que pode para lá caminhar sem o Ruben)
Isto é válido para uma sociedade no seu todo. E essa sociedade constrói-se na Escola pois os nossos jovens passarão lá o terço preparatório da sua vida. Se ali tudo se faz para produzir “igualdades” – cortando as pernas a quem faz para além das médias - está essa Sociedade “lixada”. Mais uma vez, o tal erro geracional de esquerda…
(a condição de todos os professores atingirem o fim da carreira têm exactamente estes mesmos contornos)
E a Escola da esquerda é esta Escola: a que toma o fim das desigualdades como objectivo mas que, na realidade, prossegue esse objectivo procurando garantir “igualdades”. Ou seja, reduz-se as desigualdades cortando por cima em vez de acrescentando em baixo…
Mas esta é a dialéctica esquerda-direita.
Enquanto a primeira acaba por conduzir a sociedade à mediocridade, a segunda “liberta” os topos. Fica a faltar um pequeno “acerto”: esses topos vão alavancar a sociedade e libertar recursos que vão garantir melhor vida aos tais “coitadinhos”. “Coitadinhos” numa leitura de esquerda: aqueles que estão nos tais limites inferiores, por todas e mais algumas razões (não apenas económicas). Os tais “coitadinhos” defendidos pela esquerda e que balizam os seus objectivos. Que têm o direito (na concepção esquerdista) de não ter que conviver com outros que conseguem mais – por todas as razões incluindo o mérito próprio. E este não ter de conviver traduz-se no “cortar” as pernas desses. Para que se juntem, cá em baixo, aos tais “coitadinhos”. Na mediocridade mediana.
Nadadores olímpicos? Nunca. Gaste-se esse dinheiro a assegurar que todos nadam borboleta. Partindo do princípio, claro, que todos sabem nadar…

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu novo comentário.
Já expliquei o essencial do meu posicionamento. Nada mais tenho a adiantar, ou melhor, até teria porque o assunto é demasiado complexo. Porém, fico por aqui.
Ah, e quanto aos nadadores olímpicos, acrescento que sempre foi minha orientação apostar, por igual, em todos, sendo certo que uns, por talento próprio, iriam evoluir mais do que outros. E a estes teria de os trabalhar com cargas superiores. Uns foram campeões regionais, outros nacionais e outros chegaram mais longe. Só mais um aspecto, sempre com uma preocupação EDUCATIVA e integradora de um desporto para a VIDA.

Camacho disse...

E fez bem.
Mas simplesmente, a tal Escola de Esquerda não encontra lugar para esses que precisam de trabalhar com cargas superiores. Pois está consumida inglóriamente na atenção e recursos dados aos tais coitadinhos que, por limitação própria e natural não chegam ás médias. E aí, a igualdade pode ser atingida, não pelo crescimento destes, mas pelo "corte" nas ambições e resultados dos outros...
Desta maneira, alegremente, a Esquerda vai conseguindo que se reduzam as "desigualdades"...
Menos uma: a do País em relação aos outros.