No XIV Congresso do PS-M produzi, no início dos trabalhos, a seguinte intervenção:
"Caros Amigos, desde logo uma primeira nota. Este é o primeiro congresso que não podemos contar com o grande Amigo e o inspirador da estabilidade do Partido, o nosso ilustre João da Conceição. Ele partiu mas deixou o exemplo que nos compete seguir. Curvemo-nos perante o seu exemplo de vida e de democrata.
"Caros Amigos, desde logo uma primeira nota. Este é o primeiro congresso que não podemos contar com o grande Amigo e o inspirador da estabilidade do Partido, o nosso ilustre João da Conceição. Ele partiu mas deixou o exemplo que nos compete seguir. Curvemo-nos perante o seu exemplo de vida e de democrata.
E por falar de democracia, meus caros, por um se ganha e por um se perde. Para quem perde deve ficar, apenas, a luta pelas convicções. No plano interno dos partidos políticos, com uma única diferença: terminado um acto eleitoral, todos, sem excepção, devem convergir para a unidade no sentido do combate político maior, isto é, para a conquista do poder. É de bom senso que assumamos que há um momento para discutir projectos, com empenhamento e determinação, e um momento para implementar uma estratégia.
Isto não significa que não se mantenham espaços próprios de debate (e eles existem) cujo objectivo seja o do estudo de todas as variáveis de processo, todavia, sempre, mas sempre, no pressuposto que o fim último de um partido político é o da conquista do poder externo, no sentido de gerar as condições propiciadoras de uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais desenvolvida. Trata-se, aliás, de um acto de inteligência e de maturidade política, quando por aí se envereda e quando se toma consciência que o povo eleitor não troca o conhecido pelo desconhecido, tampouco aceita desinteligências internas discutidas na praça pública.
Nas instituições é evidente que há sempre conflitos, o problema é saber se esses conflitos são de natureza funcional ou disfuncional. Quando tomam a característica disfuncional, isto é, quando não é a grandeza do projecto que está em causa mas os interesses pessoais, muitas vezes mesquinhos, aí não existe qualquer hipótese de convencer a população sobre os eventuais caminhos traçados. Podem até os projectos serem consistentes, todavia, a corrosão interna acaba por sobrepor-se e os aniquilar completamente.
Para além desta questão de princípio, acresce ainda que o exercício da política deve constituir sempre um serviço público à comunidade. Definitivamente, o exercício da política não pode ser um emprego. E não o sendo, porque a participação deve assentar em princípios e valores de natureza ideológica, o que faz um cidadão filiar-se ou ser adepto de uma corrente partidária, como todos os que aqui estão, é essa panóplia de enraizadas convicções e nunca o pequeno poder a qualquer preço. Daí que, o que a população espera de um partido político é que se apresente com um sentido de doação à causa pública, na perspectiva da solução dos problemas que a aflige. Essa deve ser a primeira e a mais sincera ligação ao eleitorado. Depois, há a questão da qualidade dos projectos políticos, só possível quando há rigor e competência no domínio dos vários dossiês da governação. Esse aspecto é determinante pois não basta falar alto e diariamente. Lembro, aqui, uma afirmação do nosso Camarada e presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César. Numa entrevista ao Diário de Notícias da Madeira, em 2008, Carlos César dizia: “o PS-M deve recrutar gente qualificada”. Digo eu, agora, a conquista do poder, já de si difícil quando o existente tem características carismáticas e assenta numa megaestrutura de subserviências, só é possível quando for criado um ambiente, de efeitos multiplicadores, sustentado na qualidade dos actores políticos e nas propostas apresentadas. Só por aí é possível romper o círculo, repito, já de si difícil. Não há outro caminho possível. E esse caminho apela ao bom senso e ao respeito por quem está legitimado para liderar. Todos são importantes mas cada um deve saber ocupar o seu lugar na estrutura interna do PS.
Caros Amigos,
Para mim e estou certo para todos os que aqui estão, o partido não está dividido em dois. Em circunstância alguma pode estar. Constitui um acto de egoísmo e de mau senso político brincarmos com uma instituição cujo objectivo é a conquista do poder. Um partido não é uma associação recreativa. O nosso partido político, em concreto, tem uma responsabilidade política e social perante 253.000 habitantes fora aqueles que, lá fora, nos países de emigração, mantêm laços a esta terra onde nasceram. Portanto, o PS não pode estar virado para dentro, numa lógica de uns contra os outros. Para dentro temos de estar uns com os outros e, para fora, contra os outros.
O PS está a sangrar há muito tempo com alguns, poucos, intervalos de permeio. Tomemos consciência de quantos camaradas e amigos do PS se afastaram ou foram afastados. Pessoas de valor, com formação académica, técnica e política. Pessoas, enfim, com credibilidade social que nos deixaram e andam por aí sem aproveitamento político. Terá alguma lógica, pergunto, o partido investir em pessoas, levá-las para o Parlamento Europeu ou para a Assembleia da República e terminados os mandatos vão à sua vida não beneficiando o partido com o conhecimento e as relações institucionais adquiridas? Não faz sentido, algum.
E isto acontece, meus Amigos, porque o partido tem estado mais virado para as quezílias internas, para as pequenas ou grandes manifestações de poder, para os interesses de uns quantos e não voltado para a sua missão e para a sua vocação que é a ser poder nas autarquias e na região, da qual a vida de milhares de pessoas podem beneficiar.
É tempo de dizer basta. Chega de tanta marosca, de tanto trabalho de bastidores, de ausência de pensamento estratégico, de contradições e de camaradas contra camaradas. Chega!
Todos os que aqui estão, diariamente, sentem, de uma ou de outra maneira, os desencantos da governação regional. Sentem este poder de trinta e tal anos que esmaga, asfixia, tritura, espezinha e ofende. Todos nós sentimos isso e todos nós olhamos para o dia a partir do qual possamos levar a esperança de um futuro melhor aos milhares que, lá fora, aguardam que nós nos entendamos e nos concentremos naquilo que é fundamental para disputar o poder de igual para igual.
Ao contrário de um que se diz importante, aqui, todos somos importantes, mas cada um de nós terá de perceber, de uma vez por todas, que não é possível granjear a simpatia e o voto, se os sinais que forem dados para o exterior forem de desentendimento e de má qualidade na prestação política. A política, hoje, cada vez mais exige qualidade. Temos de saber do que falamos e, neste aspecto, meus caros, temos a obrigação de, humildemente, ocupar o lugar que nos for destinado e para o qual podemos dar bons contributos. A desunião e as lutas internas acéfalas só conduzirão a um resultado: à derrota de todos nós.
A Região Autónoma da Madeira precisa, urgentemente, de mudar o rumo político face aos indicadores disponíveis. E essa mudança exige consistência, rigor, disciplina, experiência, humildade, abertura, participação e conjugação de múltiplas vontades. A mudança não se operacionaliza com quezílias, com olhos enviesados, com desconfianças e com a prevalência do interesse pessoal sobre o interesse colectivo.
Termino. Espero que este Congresso decorra sob o signo do bom senso e do respeito por todos. Deixemos de lado aquilo que não tem significado e que ao longo dos anos nos tem prejudicado e concentremo-nos naquilo que nos pode levar ao poder. Antes de falarmos pensemos nas palavras e do que nos move ser socialistas. Lembremo-nos de duas coisas: primeiro, que há forças na sociedade madeirense que desejam que este Congresso decorra mal e que tudo o que aqui for dito será amanhã ampliado; segundo, não nos esqueçamos que 2011 está ali ao virar da esquina!
Isto não significa que não se mantenham espaços próprios de debate (e eles existem) cujo objectivo seja o do estudo de todas as variáveis de processo, todavia, sempre, mas sempre, no pressuposto que o fim último de um partido político é o da conquista do poder externo, no sentido de gerar as condições propiciadoras de uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais desenvolvida. Trata-se, aliás, de um acto de inteligência e de maturidade política, quando por aí se envereda e quando se toma consciência que o povo eleitor não troca o conhecido pelo desconhecido, tampouco aceita desinteligências internas discutidas na praça pública.
Nas instituições é evidente que há sempre conflitos, o problema é saber se esses conflitos são de natureza funcional ou disfuncional. Quando tomam a característica disfuncional, isto é, quando não é a grandeza do projecto que está em causa mas os interesses pessoais, muitas vezes mesquinhos, aí não existe qualquer hipótese de convencer a população sobre os eventuais caminhos traçados. Podem até os projectos serem consistentes, todavia, a corrosão interna acaba por sobrepor-se e os aniquilar completamente.
Para além desta questão de princípio, acresce ainda que o exercício da política deve constituir sempre um serviço público à comunidade. Definitivamente, o exercício da política não pode ser um emprego. E não o sendo, porque a participação deve assentar em princípios e valores de natureza ideológica, o que faz um cidadão filiar-se ou ser adepto de uma corrente partidária, como todos os que aqui estão, é essa panóplia de enraizadas convicções e nunca o pequeno poder a qualquer preço. Daí que, o que a população espera de um partido político é que se apresente com um sentido de doação à causa pública, na perspectiva da solução dos problemas que a aflige. Essa deve ser a primeira e a mais sincera ligação ao eleitorado. Depois, há a questão da qualidade dos projectos políticos, só possível quando há rigor e competência no domínio dos vários dossiês da governação. Esse aspecto é determinante pois não basta falar alto e diariamente. Lembro, aqui, uma afirmação do nosso Camarada e presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César. Numa entrevista ao Diário de Notícias da Madeira, em 2008, Carlos César dizia: “o PS-M deve recrutar gente qualificada”. Digo eu, agora, a conquista do poder, já de si difícil quando o existente tem características carismáticas e assenta numa megaestrutura de subserviências, só é possível quando for criado um ambiente, de efeitos multiplicadores, sustentado na qualidade dos actores políticos e nas propostas apresentadas. Só por aí é possível romper o círculo, repito, já de si difícil. Não há outro caminho possível. E esse caminho apela ao bom senso e ao respeito por quem está legitimado para liderar. Todos são importantes mas cada um deve saber ocupar o seu lugar na estrutura interna do PS.
Caros Amigos,
Para mim e estou certo para todos os que aqui estão, o partido não está dividido em dois. Em circunstância alguma pode estar. Constitui um acto de egoísmo e de mau senso político brincarmos com uma instituição cujo objectivo é a conquista do poder. Um partido não é uma associação recreativa. O nosso partido político, em concreto, tem uma responsabilidade política e social perante 253.000 habitantes fora aqueles que, lá fora, nos países de emigração, mantêm laços a esta terra onde nasceram. Portanto, o PS não pode estar virado para dentro, numa lógica de uns contra os outros. Para dentro temos de estar uns com os outros e, para fora, contra os outros.
O PS está a sangrar há muito tempo com alguns, poucos, intervalos de permeio. Tomemos consciência de quantos camaradas e amigos do PS se afastaram ou foram afastados. Pessoas de valor, com formação académica, técnica e política. Pessoas, enfim, com credibilidade social que nos deixaram e andam por aí sem aproveitamento político. Terá alguma lógica, pergunto, o partido investir em pessoas, levá-las para o Parlamento Europeu ou para a Assembleia da República e terminados os mandatos vão à sua vida não beneficiando o partido com o conhecimento e as relações institucionais adquiridas? Não faz sentido, algum.
E isto acontece, meus Amigos, porque o partido tem estado mais virado para as quezílias internas, para as pequenas ou grandes manifestações de poder, para os interesses de uns quantos e não voltado para a sua missão e para a sua vocação que é a ser poder nas autarquias e na região, da qual a vida de milhares de pessoas podem beneficiar.
É tempo de dizer basta. Chega de tanta marosca, de tanto trabalho de bastidores, de ausência de pensamento estratégico, de contradições e de camaradas contra camaradas. Chega!
Todos os que aqui estão, diariamente, sentem, de uma ou de outra maneira, os desencantos da governação regional. Sentem este poder de trinta e tal anos que esmaga, asfixia, tritura, espezinha e ofende. Todos nós sentimos isso e todos nós olhamos para o dia a partir do qual possamos levar a esperança de um futuro melhor aos milhares que, lá fora, aguardam que nós nos entendamos e nos concentremos naquilo que é fundamental para disputar o poder de igual para igual.
Ao contrário de um que se diz importante, aqui, todos somos importantes, mas cada um de nós terá de perceber, de uma vez por todas, que não é possível granjear a simpatia e o voto, se os sinais que forem dados para o exterior forem de desentendimento e de má qualidade na prestação política. A política, hoje, cada vez mais exige qualidade. Temos de saber do que falamos e, neste aspecto, meus caros, temos a obrigação de, humildemente, ocupar o lugar que nos for destinado e para o qual podemos dar bons contributos. A desunião e as lutas internas acéfalas só conduzirão a um resultado: à derrota de todos nós.
A Região Autónoma da Madeira precisa, urgentemente, de mudar o rumo político face aos indicadores disponíveis. E essa mudança exige consistência, rigor, disciplina, experiência, humildade, abertura, participação e conjugação de múltiplas vontades. A mudança não se operacionaliza com quezílias, com olhos enviesados, com desconfianças e com a prevalência do interesse pessoal sobre o interesse colectivo.
Termino. Espero que este Congresso decorra sob o signo do bom senso e do respeito por todos. Deixemos de lado aquilo que não tem significado e que ao longo dos anos nos tem prejudicado e concentremo-nos naquilo que nos pode levar ao poder. Antes de falarmos pensemos nas palavras e do que nos move ser socialistas. Lembremo-nos de duas coisas: primeiro, que há forças na sociedade madeirense que desejam que este Congresso decorra mal e que tudo o que aqui for dito será amanhã ampliado; segundo, não nos esqueçamos que 2011 está ali ao virar da esquina!
Foto: DN-Madeira, publicada na edição de hoje.
2 comentários:
Mas, que gente qualificada se mete entre a matilha que por aí anda?
Obrigado pelo seu comentário.
É verdade, percebo a profundidade da sua questão. Mas há que fazer um esforço porque também é sensível muito descontentamento.
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