A conferência de Anselmo Dias, promovida ontem, no Funchal, pela CDU, apenas vem confirmar o que há muito se sabe. A pobreza está aí, escondida pelos números ditos oficiais, envergonhada no seio de muitas famílias e disfarçada pela acção meritória de muitas instituições directa ou indirectamente ligadas à Igreja. Basta dizer que a Madeira é um paraíso para 376 famílias que arrecadam cerca de 80 milhões de euros e, no lado oposto, existem cerca de 74 mil habitantes que vivem com menos de 8 euros por dia". E aqui vamos. A situação, infelizmente, tende a piorar face às crescentes dificuldades das pequenas e médias empresas e do crescimento do desemprego. Não é por acaso que o Bispo do Funchal, ainda ontem, na passagem dos 500 anos da Santa Casa da Misericórdia do Funchal, falou da necessidade de "(...) promover a sociedade como um todo, onde ninguém pode ser deixado à margem". Melhor do que ninguém, D. António Carrilho sabe do que está a falar e, sobretudo, para quem está a falar.
É confrangedor que um governo não tenha em atenção a realidade social tal como ela se apresenta neste momento, que não dê sinais de mudança no paradigma económico, que não altere a sua postura relativamente às prioridades no investimento, que possibilite que uns continuem a encher o saco e uma maioria fique despojada dos mais elementares direitos, que deixe idosos com o carimbo de "alta problemática" a vaguearem pelos corredores dos hospitais a quem lhes vale, apenas, o carinho de quem lhes assiste. Revolta-me, neste Dia Mundial da Criança, verificar que as políticas de família não existem ou são inconsistentes, que não se respira uma atmosfera de bem-estar e de respeito pelos seus direitos. Neste aspecto, o trabalho da jornalista Patrícia Gaspar, publicado hoje no DN-Madeira, pelas descrições feitas, merece ser lido e compreendido à luz das políticas de família. Diz a jornalista que os dados chocam: "só no ano passado, as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) da Madeira acompanharam 43 casos de abuso sexual" (...) "entre 2001 e 2007, os casos acompanhados na Região - e referentes aos mais variados tipos de agressão - mais do que quadruplicaram, evoluindo dos 364 para os 1601 processos registados no ano passado".
Pergunta-se: que futuro estamos a construir? Tragédia é o que nos espera, inevitavelmente. Não o digo por questões político-partidárias. Assumo esta posição porque os dados não prognosticam outra saída possível. Aos dados disponíveis, junta-se, ainda, o facto das famílias do grande capital não terem contemplações. Aliás, já não investem na Madeira. Estão a divirgir os seus negócios e a colocar os bens longe da terra que os promoveu, não por questões de internacionalização dos negócios (essa não é a questão primeira), mas em sua própria defesa. Portanto, por aqui ficarão os que pouco têm e, daí, ou a Madeira, os seus habitantes e os que se encontram fora da Região, se unem numa cruzada de mudança da política e dos políticos que conduziram a Região para o abismo ou, mais cedo do que se possa imaginar, emergirá um quadro social de solução muito complexa.
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