(...) Esquecem-se que o Mundo está a passar por uma grave crise que a todos atinge, esquecem-se que nenhuma instituição credível internacional foi capaz de a prever, entram em estado de completa amnésia e toca a colocar o acento tónico das críticas em uma só figura: Sócrates, o culpado de todos os males. E pergunto, onde estavam esses comentadores, os economistas, os grandes empresários, os banqueiros, os políticos que passam uma esponja sobre todo o processo, onde estão registadas as suas posições devidamente fundamentadas, muito para além da mera crítica política?
O Congresso do PS já estava marcado muito antes da crise política. Eu penso que veio em boa altura, a menos de dois meses de um importante acto eleitoral, pois permitiu clarificar muita coisa. Não constituiu, apenas, um momento de exaltação e de afirmação do colectivo partidário, mas sobretudo, um momento para trocar por miúdos as razões que levaram à crise política. Já aqui desenvolvi o meu posicionamento sobre esta matéria, o qual não se filia na maioria dos comentadores que oiço, que não só não observam com rigor toda a história deste processo, como influenciam o eleitorado que não é portador de todos os dados contextuais.
Mas, atenção, faço aqui, desde logo, um ponto prévio: sou dos que entendem que para a democracia funcionar em pleno e em defesa dos cidadãos, a manutenção de um partido no poder por mais de oito anos consecutivos não me parece saudável. As curas de oposição são fundamentais, pois é aí que se encontra a inovação, a criatividade, os novos desenhos que reflectem posicionamentos estratégicos portadores de futuro. As longas permanências no poder não são de todo benéficas. Neste momento, não está aqui em causa, o meu ponto de vista, a defesa das minhas convicções partidárias, mas muito mais do que isso. E regresso ao que interessa. Observo comentários enviesados, que não vão a montante, não regressam às causas, não contextualizam, comentários que, facilmente, se esquecem do que foi realizado em muitos sectores, áreas e domínios da governação, facilmente se esquecem das reformas sistémicas que foram operacionalizadas, esquecem-se que o Mundo está a passar por uma grave crise que a todos atinge, esquecem-se que nenhuma instituição credível internacional foi capaz de a prever, entram em estado de completa amnésia e toca a colocar o acento tónico das críticas em uma só figura: Sócrates, o culpado de todos os males. E pergunto, onde estavam esses comentadores, os economistas, os grandes empresários, os banqueiros, os políticos que passam uma esponja sobre todo o processo, onde estão registadas as suas posições devidamente fundamentadas e que devem se situar muito para além da mera crítica política? Onde estavam para equacionar o dilema entre um PEC 4 e um FMI guloso e contrário aos princípios que nortearam a sua criação entre 22 de Julho de 1944 e 27 de Dezembro de 1945, para promover a cooperação monetária internacional e o crescimento equilibrado do comércio internacional? Onde estavam? Não os ouvi a comentar a necessidade de um esforço colectivo nacional para combater os interesses obscuros de uma Europa onde 24 dos 27 países são da direita política e o que isso significa neste contexto, no contexto da política de finanças! Mas, enfim, esse é assunto que lá vai. O problema, agora, é a crise política que temos pela frente e que só se resolve com eleições.
Bem disse o Engº José Sócrates a abrir o Congresso que nestes seis anos de governo já conheceu cinco líderes do PSD e que “isto não vai ficar por aqui”. Acredito. E acredito porque o que verdadeiramente está em causa parece ser, para o PSD, o assalto ao “pote”, como se o exercício da política pudesse ter o significado que aquela palavra arrasta consigo. Quando o que está em causa, e esse é um grande desafio que todo o Portugal tem pela frente, é o que diz respeito às suas contas públicas e um regresso, tão cedo quanto possível, a uma situação de normalidade para todos os cidadãos no quadro do seu bem-estar.O que este Congresso veio dizer a Portugal foi, exactamente, essa denúncia sobre os porquês da crise política. E veio dizer mais, que este não é o momento para “brincadeiras” e jogos de poder, mas de concertação de esforços e de entrega a quem conhece os dossiers e a quem tem melhores relacionamentos na Europa, a responsabilidade de governar. A inexperiência pode-nos ser fatal, porque cada hora pode significar uma eternidade! Este momento é bem diferente de uma situação considerada normal, onde o testemunho do poder é passado sem turbulência. Este é um momento que não admite "estados de graça", é extraordinariamente complexo e isso o eleitorado deverá ter em conta. Ora bem, dir-me-ão, se neste percurso de seis anos, entre o muito que de positivo foi concretizado, muitos aspectos merecem reflexão e até alguma condenação, obviamente que estou de acordo. Eu próprio, neste Congresso, por variadíssimas razões de política nacional e internacional, perante um texto extremamente bem escrito e acutilante, apoiei uma Moção cujo primeiro subscritor foi o Presidente do PS-Madeira. E essa Moção tornou-se importante neste Congresso, porque ali foram equacionados aspectos fulcrais que uma grande parte evita falar. Tão importante, que a Moção foi muito aplaudida e garantiu, em votação dos delegados ao Congresso, o triplo do número de lugares na Comissão Nacional (5 pela Lista A de José Sócrates e 13 pela Lista B de Jacinto Serrão, o que significa que muitos, de Norte a Sul, votaram na lista encabeçada pelo Dr. Jacinto Serrão), órgão mais importante entre congressos. Mas uma coisa é o momento da divergência de opinião, da luta ideológica ou do pensamento estratégico acerca do futuro, outra é a convergência que tem de existir a partir do momento que o Congresso encerrou as suas portas. Agora, é Portugal que está em causa. Agora, é o nosso País que deve constituir o desígnio de todos.
No dia 06 de Junho estará em causa exactamente isso: ou o Povo entrega o País aos que vêem nele um grande “pote” ou entregam-no à experiência, reforçando, concomitantemente, a esquerda política no sentido de combater uma Europa onde, repito, vinte e quatro dos vinte e sete países são liderados por partidos ou coligações de direita. Se olharmos para a História de todo este processo, de toda esta crise, pergunto, quem esteve na sua origem? A esquerda certamente que não foi.
Bem disse o Engº José Sócrates a abrir o Congresso que nestes seis anos de governo já conheceu cinco líderes do PSD e que “isto não vai ficar por aqui”. Acredito. E acredito porque o que verdadeiramente está em causa parece ser, para o PSD, o assalto ao “pote”, como se o exercício da política pudesse ter o significado que aquela palavra arrasta consigo. Quando o que está em causa, e esse é um grande desafio que todo o Portugal tem pela frente, é o que diz respeito às suas contas públicas e um regresso, tão cedo quanto possível, a uma situação de normalidade para todos os cidadãos no quadro do seu bem-estar.O que este Congresso veio dizer a Portugal foi, exactamente, essa denúncia sobre os porquês da crise política. E veio dizer mais, que este não é o momento para “brincadeiras” e jogos de poder, mas de concertação de esforços e de entrega a quem conhece os dossiers e a quem tem melhores relacionamentos na Europa, a responsabilidade de governar. A inexperiência pode-nos ser fatal, porque cada hora pode significar uma eternidade! Este momento é bem diferente de uma situação considerada normal, onde o testemunho do poder é passado sem turbulência. Este é um momento que não admite "estados de graça", é extraordinariamente complexo e isso o eleitorado deverá ter em conta. Ora bem, dir-me-ão, se neste percurso de seis anos, entre o muito que de positivo foi concretizado, muitos aspectos merecem reflexão e até alguma condenação, obviamente que estou de acordo. Eu próprio, neste Congresso, por variadíssimas razões de política nacional e internacional, perante um texto extremamente bem escrito e acutilante, apoiei uma Moção cujo primeiro subscritor foi o Presidente do PS-Madeira. E essa Moção tornou-se importante neste Congresso, porque ali foram equacionados aspectos fulcrais que uma grande parte evita falar. Tão importante, que a Moção foi muito aplaudida e garantiu, em votação dos delegados ao Congresso, o triplo do número de lugares na Comissão Nacional (5 pela Lista A de José Sócrates e 13 pela Lista B de Jacinto Serrão, o que significa que muitos, de Norte a Sul, votaram na lista encabeçada pelo Dr. Jacinto Serrão), órgão mais importante entre congressos. Mas uma coisa é o momento da divergência de opinião, da luta ideológica ou do pensamento estratégico acerca do futuro, outra é a convergência que tem de existir a partir do momento que o Congresso encerrou as suas portas. Agora, é Portugal que está em causa. Agora, é o nosso País que deve constituir o desígnio de todos.
No dia 06 de Junho estará em causa exactamente isso: ou o Povo entrega o País aos que vêem nele um grande “pote” ou entregam-no à experiência, reforçando, concomitantemente, a esquerda política no sentido de combater uma Europa onde, repito, vinte e quatro dos vinte e sete países são liderados por partidos ou coligações de direita. Se olharmos para a História de todo este processo, de toda esta crise, pergunto, quem esteve na sua origem? A esquerda certamente que não foi.
Ilustração: Arquivo próprio.
5 comentários:
Caro amigo
Lamento desapontá-lo mas o mundo não se governa com esquerdas e direitas. Governa-se com competência e seriedade, venha elas donde vierem.
Entristece-me ver um país em que os partidos se continuam teimosamente a comportar como clubes de futebol, onde o importante é ganhar, mesmo com trapaças. Passa-se na República, passa-se aqui na RAM. E não me venha dizer que aqui as coisas vão mal porque o partido daqui é blá blá blá, etc. Enfim, o paleio de sempre.
Sócrates, que não me parece que tenha muitos escrúpulos, provou ser ao mesmo tempo um exímio político e um governante desastrado. Só lhe acontecem azares e nunca tem culpa de nada. Mas não é diferente de Jardim. Vai ver que, se ele voltar ao governo, vai servir-se da crise para justificar toda a sorte de negociatas e de atropelos aos nossos direitos, liberdades e garantias. Vai meter Salazar num bolso. Porque com o velho ditador, pelo menos a sensura e a polícia pol+itica davam a cara... Mal, mas davam. A partir dessa altura, oxalá não aconteça, lá no rectângulo, como se diz aqui, vão passar a olhar com desconfiança o companheiro de viagem, o vizinho, o porteiro.
Eu sei do que estou a falar.
Meu Caro André.
Segui a par e passo o congresso do PS.
Quando ouço comentários tipo PPC, AJJ, PC, BE entre tantos outros, fico com as orelas a arder de tal forma, que me apetece mergulhar no Oceano.
DEpois de ver um "porco de asas" nada me espanta.
Quande se pede a cabeça do 1º ministro e, do ministro das finanças e, não se pede os intestinos de AJJ,para fazer chouriços, que mais se há-de pedir?
Será que o FMI vai ser mais brando que o PEC IV?
Será que o FMI vai saldar as contas que o GR da Madeira deve às farmácias? Vai devolver o dinheiro que o Dias Loureiro e o Sr. Silva arrecadaram?
Fico sentado para ver. Vou aproveitar para comer amanhã um coelho de churrasco.
Um abraço. J.S.
Obrigado pelos vossos comentários.
Começo pelo Caríssimo Amigo Fernado Vouga.
Eu compreendo-o relativamente à competência que deve ser o apanágio de quem governa. Quando falo de esquerdas e de direitas é simplesmente no quadro dos princípios e dos valores, fundamentalmente os de natureza social. Apesar de hoje estarmos confrontados com situações onde não se sabe onde termina a direita e começa a esquerda, a verdade é que teimo na definição dessa fronteira. Exemplo: defendo a escola pública e o sistema nacional de saúde, a direita parece dizer que sim, mas não tem essa convicção. Este é um mero exemplo.
Agora, concordo com um aspecto que referiu e que é para mim determinante: a competência, o rigor, a disciplina, a seriedade, a frontalidade, a transparência e racionalidade. Não abdico destes princípios que devem noretar a governação. Quanto ao resto, vamos conversando, porque é bom dialogar com Amigos com profundidade de análise.
Caríssimo João, vamos esperar para ver, sendo certo que aquilo que aqui se passou no último fim de semana, é o estertor de um partido velho e cansado.
Quando ele denuncia que isto não está fácil é porque sente, apesar da máquina que montou, que o plano inclidado não permite regresso.
Caro amigo
Aprecio sinceramente o seu "fair play". Algo que tem feito muita falta neste país.
Quanto às doutrinas partidárias, tudo bem. São modelos que não podem ser esquecidos e que devem servir como eixo de convergência para os simpatizantes ou membros. Mas o que normalmente acontece é que, atingido o poder, são "metidas na gaveta" ou, pior ainda, inteiramente subvertidas como fez José Estaline, o tal dos bigodes.
O que me preocupa é o mal que a partidarite faz na oftalmologia dos partidários. Passam a "ver um largueiro no olho alheio" mas...
Ou será que Jardim e Sócrates são assim tão diferentes?
Obrigado pelo seu comentário.
Eu designaria, se me permite, não por modelos mas por paradigmas. O modelo é qualquer coisa mais estática, enquanto, como sabe, o paradigma é qualquer coisa pela qual me guio, mas não copio. Portanto, aceito que se verifiquem algumas adaptações ao tempo do nosso tempo, mas há princípios que devem balizar o que identifica uns e outros. É contra essa falta de fronteiras que me insurjo.
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