Adsense

sexta-feira, 29 de abril de 2011

UMA SESSÃO HISTÓRICA


Penso que aquele encontro de ontem poderá constituir um marco histórico na viragem do processo político regional. Se, por um lado, abana consciências adormecidas, por outro, o livro acaba por revelar-se como uma chamada de atenção para quem tem a responsabilidade de garantir que a Constituição da República é cumprida, que o exercício da Democracia não pode ser um faz-de-conta e que o desenvolvimento não pode, em circunstância alguma, estar assente em processos de permanente chantagem.


Uma centena de cidadãos assistiram, ontem, na Livraria Bertrand, no Dolce Vita - Funchal, à apresentação do livro "Jardim, a Grande Fraude". Uma apresentação que, do ponto de vista político, o livro é, indiscutivelmente, um documento político, me deixou com uma indiscritível sensação de vontade em continuar, no quadro da minha cidadania activa, esta luta por uma terra onde pode ser semeado um tempo novo, libertador e construtor da felicidade das pessoas. No actual contexto da Região, embora constitua um paradoxo, senti-me ali entre a clandestinidade e a liberdade. Clandestinidade no sentido da luta honesta e séria de um punhado de gente que entende que esta terra merece um outro destino, e a liberdade (aí está o paradoxo) mitigada que, só depois de vários contactos encontrou um espaço para anunciar, a todos os outros, o livro que pode ser libertador das consciências amarradas por um sistema impuro.
Os apresentadores da obra, a Drª Violante Saramago Matos, o Padre José Luís Rodrigues e o Dr. Cabral Fernandes, cada um com uma leitura própria e profunda, durante quase duas horas, não só traçaram a importância e o significado para o futuro daquelas 525 páginas do livro do Jornalista Ribeiro Cardoso, no quadro do exercício da política na Madeira, mas também porque foram mais longe ao dissecarem as razões pelas quais a Região chegou ao ponto a que chegou. Eu penso que aquele encontro de ontem poderá constituir um marco histórico na viragem do processo político regional. Se, por um lado, abana as tais consciências adormecidas, por outro, o livro acaba por revelar-se como uma chamada de atenção para quem tem a responsabilidade de garantir que a Constituição da República é cumprida, que o exercício da Democracia não pode ser um faz-de-conta e que o desenvolvimento não pode, em circunstância alguma, estar assente em processos de permanente chantagem. Aliás, o livro desperta para a responsabilidade dos Órgãos de Soberania no que concerne aos fundamentos da Democracia e desperta a população para os princípios e valores da Autonomia Político-Administrativa que não podem ser desrespeitados, subvertidos e maltrados por uma clique que utiliza o poder de forma tendencialmente totalitária, enganadora e perigosa.
E neste processo não deveriam (infelizmente existem) alguns sentirem um certo desconforto, argumentando que são histórias já conhecidas. Esse discurso parece-me redondo e muito pouco inteligente. O autor, Jornalista, teve o mérito de compilar elementos, de, pacientemente, estruturá-los e apresentá-los sob a forma de livro, enquanto contributo para a História deste processo político. Não há aqui qualquer secundarização do que outros escreveram, no devido tempo dos acontecimentos, pelo contrário, existe sim o enaltecimento daqueles que escreveram, denunciaram e transcreveram posições que colocam em causa a dignidade e a capacidade política de quem nos levou a estes 36 anos de enganos. Portanto, a hora, não é de crítica leviana, nem de subserviências nem de indirectas bajulações, antes é de conjugação de esforços a partir de um "tiro de partida" dado por um Jornalista que, no fundo, veio avivar a memória colectiva e confrontar-nos sobre o que desejamos para esta terra: uma terra livre do medo, livre de uma certa mordaça, livre da pobreza, do desemprego e das dívidas. A hora é de trabalho conjugado no sentido de devolver a esta terra a esperança, a dignidade e o bem-estar para todos e não apenas para alguns!.
O desafio está aí. Aquela sessão de ontem fez-me bem. Não por ser contra Jardim, pessoa, mas contra Jardim, político, e por ser a favor de uma terra que eu amo.
Ilustração: Google Imagens.

6 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro amigo

A Bertrand está de parabéns e todos nós estamos de parabéns.
Tive pena de não ter podido assistir, mas encontro-me em Lisboa há uns dias.
Espero que, a partir de agora, as pessoas percam o medo de se manifestar e de protestar contra os abusos de poder, venham eles donde vierem.
Espero também que este acontecimento abra as mentes timoratas dos que, a nível nacional, ainda temem os políticos que chefiam o Governo da República.
Estou, obviamente, a falar do livro "O Dossiê Sócrates" cuja publicação em Portugal tem sido boicotada.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Estou a reler algumas passagens deste livro, no sentido de melhor compreender o que se esconde por detrás das palavras ditas. É um exercício interessante.

António Trancoso disse...

Caro André Escórcio
Ribeiro Cardoso, na justa crítica que faz aos "jornalistas" que funcionam, abúlica e acriticamente,como meros receptores de mensagens,impingidas pelo poder dominante,incomodou,seriamente,a quem a carapuça serve...
O "Dossier de Imprensa" de ontem, para além do incómodo,revelou um espírito corporativo, de todo em todo,inadequado e medíocre.
Espantou-me o posicionamento de Raquel Gonçalves, que me merecia consideração pelo seu moderado bom-senso,versus,designadamente,ao non-sense,permanente e atabalhoado,do correspondente da TVI, Mário Gouveia,ao afirmar que se recusava à leitura do livro do seu prestigiado colega de profissão!!!
No seu conjunto,a ligeireza(para não dizer leviandade) com que se pronunciam sobre os assuntos agendados,traduz-se num mau serviço prestado a um auditório, maioritariamente, merecedor de uma rigorosa informação, contraponto da propaganda tendenciosa do poder instalado.
Ribeiro Cardoso,bem como a população madeirense,mereciam,e merecem,uma outra qualidade jornalística.

Anónimo disse...

Senhor Professor,

Não repique a necessidade que lhe encontro sempre, de procurar separar o homem do político, porque isso é uma falácia: a pessoa por detrás do político é tão ruim quanto este, creia!
....Não se pode ser simultaneamente uma BOA pessoa e um político pérfido - isso não existe!
Os Nazis demonstraram-no. Foram excelentes actores.

V.D´A.

André Escórcio disse...

Obrigado, Caríssimo António Trancoso.
Chamaram-me à atenção para esse programa. Confesso que deixei de o ver por clara falta de rigor e de estudo.
Mas sobre esta matéria, a do livro, vou passar os olhos se estiver disponível no sítio da RTP.
Ainda ontem uma ilustre pessoa desta nossa terra disse-me o pior do programa. É pena, quando necessitamos de análises sérias, profundas e sensatas.
Um abraço.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário (V.D'A).
Compreendo-o. Não existe um político que não seja o espelho daquilo que efectivamente é enquanto pessoa. Mas, sabe, tento sempre separa as situações, sobretudo para que não haja a tentação de me dizerem que se trata de uma perseguição pessoal. Há muito essa tendência. E eu tento evitá-la. Mas compreendo e dou-lhe total razão.