"os mercados especulativos não vão desistir de ganhar dinheiro. Outros Estados vão ser igualmente atacados. A Bélgica, a Espanha, a Itália e talvez mesmo a França, poderão ser as próximas vítimas, o que obrigará a União a mudar de política, quer os seus líderes queiram ou não".
Ontem, pela televisão, acompanhei excertos de uma intervenção do Dr. Mário Soares. Excelente. Caracterizou a Europa, hoje governada por medíocres, meteu Berlusconi e Sarkozy nesse saco e, quanto a Merkel, disse, cuidado com a tentativa de germanização da Europa. Gostei. Aliás, tinha lido, ao princípio da tarde, um seu artigo no DN-Lisboa a que atribuiu o título de "O desvario europeu". Aqui deixo o primeiro parágrafo: "A União Europeia vai mal, sem rumo e sem valores. Tenho insistido, nestes modestos artigos, que a União Europeia não vai poder aguentar, por muito mais tempo, a política neoliberal que tem prosseguido, em especial desde que a crise nos afecta. Porquê? Porque ao contrário da América do Norte, tem persistido em não ver a realidade e em não querer mudar de paradigma: o modelo económico de desenvolvimento. Os mercados especulativos continuam a dominar a política dos Estados membros da União, por enquanto apenas os considerados mais fracos, e a sobrepor-se a todos os outros valores: às conquistas sociais, às políticas de bem-estar, ao pleno emprego - ideal (esquecido) dos anos cinquenta - aos próprios valores éticos" (...) "os mercados especulativos não vão desistir de ganhar dinheiro. Outros Estados vão ser igualmente atacados. A Bélgica, a Espanha, a Itália e talvez mesmo a França, poderão ser as próximas vítimas, o que obrigará a União a mudar de política, quer os seus líderes queiram ou não".
Ora, é exactamente este o centro do problema. A Europa está a ser governada por políticos medíocres. Falta nesta Europa políticos de mão-cheia, gente com princípios e com valores, gente com sensibilidade social e que não esteja rendida aos interesses de umas centenas de famílias que determinam desde o que comer até em quem votar. Esta Europa desmembra-se dia-a-dia, o Euro está em causa, porque os Estados não conseguem suportar esta cegueira ultraliberal, desde há muito silenciosamente alimentada por uma direita paciente, meticulosa e que, inclusive, sabe, pela sua experiência histórica, colocar os trabalhadores e o povo em geral a aplaudir modelos sem se darem conta que, tarde ou cedo, passam à situação de vítimas. E veja-se esta onda cega que varre a Europa, onde 24 em 27 países são dominados pela direita, com Portugal e Espanha por um fio. Desespero das pessoas? Não. Condução científica dos povos, isso sim. Tenhamos em atenção a actividade secreta do Clube de Bilderberg (pode ler-se aqui um texto que publiquei há já algum tempo) que, este ano, reunirá, entre 9 e 12 de Junho na cidade de St. Moritz, na Suiça. No essencial, eles determinam tudo, congeminam tudo, colocam aqui e ali quem mais jeito dá num determinado momento. Os que se sentam nos vários poderes europeus constituem apenas peões de outros poderes.
Mas o que me parece mais espantoso é que uma significativa parte da população portuguesa, muito especialmente, pessoas que deveriam ter uma consistente leitura do Mundo, os que divulgam, os comentam e os que fazem opinião, se mostrem incapazes de ver o outro lado das "coisas", ver o que se esconde por detrás das palavras pretensamente imparciais, a quem servem os interlocutores das mensagens políticas, no fundo, capazes de cruzar a informação disponível.
De política e de engrenagens europeias pouco sei. Faço o possível por ler e compreender o que me chega por vários canais. Por isso, quando leio figuras de conhecimento tão profundo e sustentável, sinto o lamento de as ver, aos poucos, desaparecem da política activa e até do tablado da vida num momento que tanta falta fazem os políticos de pensamento e de cultura.
Ainda ontem, este é um mero exemplo, ouvi na RTP1, o Director do DN Lisboa, João Marcelino, a comentar a última sondagem que atribui 36% aos dois maiores partidos, nesta corrida legislativa de 2011. Já não bastava o sectarismo mais extremo de Maria João Avilez que, à força, quer que o PSD vença as eleições, pois também aquele, elabora raciocínios elementares, próprios de mesa de café e nunca de pessoas que deveriam trazer outra leitura do processo, mais profunda, mais consistente, melhor elaborada e sobretudo não denunciando quais as suas preferências. Mas são aqueles os líderes da Europa e são estes os comentadores que temos. Como me sugere um amigo... muda para a Odisseia, os bichinhos são melhores!
Ilustração: Google Imagens.
4 comentários:
há muita gente socialista nesse clube.
Obrigado pelo seu comentário.
É contra isso e muito mais que me revolto.
Video das palavras do Mário Soares - http://www.youtube.com/watch?v=CeV-CaVwQsw
Obrigado.
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