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segunda-feira, 5 de maio de 2008

D. ANTÓNIO CARRILHO: DISSE, NÃO DIZENDO

Tenho por D. António Carrilho, Bispo do Funchal, especial apreço. Acompanho-o na sua missão e a leitura que dele faço é a de ser um Pastor cuja Palavra, apesar das limitações impostas pela hierarquia, tende a acompanhar os tempos. Não fica pelo Paço, transmite a ideia que a sua agenda diária é de permanente actividade, ora visitando paróquias ou participando em festas escolares. Até prova em contrário parece-me ser o Bispo renovador que a Madeira precisava. Oxalá, todos nós sintamos, a prazo, a intervenção da Igreja, distante do ambiente por vezes bafiento das sacristias, como importante instituição nos alertas e correcção dos caminhos políticos, sociais, económicos e culturais do conturbado mundo que vivemos.
E porque tenho apreço por D. António Carrilho, permito-me também referenciar e comentar as suas declarações ontem produzidas na paróquia da Nazaré, quando sublinhou que lhe fazia "confusão" o facto de muitos jovens optarem por percorrer os "caminhos de marginalidade" e por viverem "em desorientação", em vez de abraçarem um caminho de fé com Cristo. "Há jovens que vivem mergulhados na droga e na criminalidade, que não têm um ideal, nem gosto para viver", lamentou, na paróquia da Nazaré.
Talvez perceba o que D. António Carrilho quis dizer, não dizendo, com a palavra "confusão". Há contextos que obrigam a fazer alertas de forma subtil. Terá sido este o caso? Penso que sim. Porque D. António Carrilho sabe que todos os aspectos referidos tem muito a ver com a legião de pobres que cresce na Madeira, tem a ver com as políticas económicas que a Madeira segue há trinta anos, tem a ver com a ausência de políticas de família, tem a ver com a ausência de uma escola que não está a formar para a vida, tem a ver com a ausência de princípios e de valores gerados nesta comunidade.
D. António Carrilho é evidente que não está confuso. Ele conhece os números do Rendimento Social de Inserção, o número de pensionistas, o número de famílias desestruturadas, o número de jovens licenciados sem emprego, o número de idosos que aguarda um lar ou que está na situação de altas problemáticas, ele sabe o que as paróquias fazem para matar a fome de crianças e adultos e, de resto, o que todas as instituições directa ou indirectamente ligadas à Igreja fazem para esbater as carências sentidas. Eu sei e muitos madeirenses sabem que o hino fala de paz e pão mas que é aqui onde existem as maiores desigualdades, onde a riqueza produzida é distribuída de forma escandalosamente desigual.
D. António Carrilho sabe que se vive numa Região onde há mais direitos do que justiça, por isso toda a comunidade, julgo eu, espera do seu múnus pastoral uma atitude inteligente e firme no combate à sociedade que estamos a construir que só pode gerar "desorientação", "caminhos de marginalidade" e "jovens que vivem mergulhados na droga e na criminalidade".

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