Compreendo que é difícil contrariar, politicamente, a verdade que a frieza dos números transporta. Ignorar a existência de uma significativa mancha de pobreza na Madeira constitui, acima de tudo, uma atitude reveladora de ausência de humanidade e de sensibilidade.
Sendo, desde logo, uma questão política e de políticas, o que é inadmissível é o facto do Governo não sentir e não interiorizar as dificuldades, algumas extremas, de milhares de famílias da Madeira. O debate desta manhã, na Assembleia Legislativa da Madeira, sobre a pobreza, envergonha o governo e a política que dele emana desde 1976. Não pode, por uma questão de respeito por aqueles que nada têm, por uma questão de bom senso e até de habilidade política, o Secretário Regional dos Assuntos Sociais reafirmar que "só temos 4% a viver com rendimentos inferiores ao limiar da pobreza" (€ 365,00). Pergunta-se, tal como sublinhou e bem o Deputado Edgar Silva, e os 36.197 reformados por velhice que recebem, em média, € 314,00? Só esses constituem 15% da população. E os 17.000 pensionistas que dispõem de um valor médio mensal de € 157,00?. E os que são abrangidos pelo Rendimento Social de Inserção? Ora bem, negar estas evidências factuais, estatísticas, negar esta realidade social que se esconde por toda a Região de uma forma envergonhada, equivale a uma palavra: DESUMANIDADE. Há, na verdade, desumanidade nas políticas sociais quando se interpreta os indicadores disponíveis.
Com o desemprego a crescer, o regresso da emigração, as limitações académicas e profissionais de uma significativa parte da população, a manutenção de altas taxas de alcoolismo e de toxicodependência, a crescente assimetria entre ricos e pobres, as pequenas e médias empresas atoladas em dívidas, a colossal dívida da Região na ordem dos três mil milhões de euros e a incapacidade de mudança de paradigma económico, deduz-se que estão criadas, infelizmente, as condições para um desastre social. Aliás, o Deputado Bernardo Martins (PS) tem toda a razão quando sublinhou na sua intervenção: "(...) Neste quadro social há uma centena de pessoas sem abrigo, há 8.000 beneficiários do RSI, há uma preocupante onda de crianças e jovens em risco a deambular nas ruas, há um aumento da marginalidade, há o crescimento em 34% dos crimes violentos e temos a quarta maior taxa de homicídeos em 36 países europeus".
Não me restam dúvidas, a continuarmos assim, o desastre social vem a caminho e é irreversível.
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