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sábado, 31 de maio de 2008

MADEIRA: POTÊNCIA ECONÓMICA

A Madeira tem todas as condições para ser até ao final deste século uma grande potência no Atlântico", disse o Presidente do Governo Regional. Isto é, teremos de esperar oitenta a noventa anos, o que significa que mesmo os que agora estão a nascer dificilmente desfrutarão desse eventual bem-estar económico e social que o Presidente prognostica. Ele não estará por cá e, na melhor das hipóteses, talvez os historiadores possam analisar esta declaração à luz dos acontecimentos dessa altura. Até lá os madeirenses e porto-santenses estão condenados a pagar as dívidas e suportar os juros das assimetrias sociais e culturais consequentes das loucuras de trinta e muitos anos de insustentáveis políticas.
Aquela declaração é inaceitável. Desde logo porque não se fundamenta em estudos previsionais. Constitui uma convicção pessoal e não mais do que isso, ou melhor, bem analisada a situação, um disparo político de quem tem a consciência pesada relativamente ao preocupante momento que se vive em consequência do modelo económico seguido. Aliás, no quadro do horizonte temporal das previsões, tendo em conta os níveis de instabilidade e de turbulência, o próprio planeamento estratégico de longo prazo subordina-se às contingências e tem hoje uma característica de actuação em tempo real, porque implica as ameaças e oportunidades previsíveis e parcialmente previsíveis e, sobretudo, o rol de situações que Igor Ansoff classifica de surpresas imprevisíveis. Daí que, ao mesmo tempo que há necessidade de projectar o futuro para que o possamos interpretar e responder adequadamente, cresça, ao mesmo ritmo, o grau de incerteza relativamente à organização desse mesmo futuro. Logo, a declaração do Presidente do Governo é gratuita.
Ademais, a previsão assenta sempre no processo de planeamento (é, inequivocamente, a primeira fase do processo de planeamento) e este aspecto, todos sabemos, não constitui uma marca do governo Regional. Tome-se em consideração como têm sido tratados os instrumentos de planeamento. Por outro lado, as questões da previsibilidade ligam-se às questões da mudança. E aqui podemos considerar três tipos de mudança: fechada, contida e aberta. A fechada corresponde a um tipo próprio de sistemas deterministas. Digamos que, baseado na extrapolação, situa a causalidade entre os acontecimentos do passado e o futuro. A mudança contida, tomando em consideração dados estatísticos, possibilita uma relação de probabilidade entre a causa e o efeito. Finalmente, na mudança aberta não se consegue chegar a um entendimento sobre as repercussões futuras das políticas hoje desencadeadas.
A questão que se coloca agora é a de saber em que tipo de mudança o Governo se situa. Eu aproximo-me da mudança aberta, porque é sintomático que o governo, desde sempre, navegou à vista, sem instrumentos. A propagandeada "democracia directa", no adro das igrejas, em contacto com o povo, constitui o exemplo mais acabado da actuação política movida por interesses eleitoralistas locais e pontuais e não numa perspectiva mais ampla portadora de futuro. Sendo assim, aquela declaração constitui, no plano técnico, uma balela igual a tantas outras face às quais apenas caem os incautos. É espuma política ou apenas fumo. Porque se baseia num critério lógico (portanto, não causal) de natureza qualitativa, fundada na intuição, em conjecturas e especulações e, portanto, de uma total subjectividade. Outro seria o meu posicionamento se as previsões do Presidente assentassem num método matemático aplicado por especialistas.
Parafraseando vozes no Parlamento, Dr. Jardim, reme para terra!.
Opinião, da minha autoria, publicada, hoje, no DN-Madeira. www.dnoticias.pt

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