Gosto de futebol, mas não me deixo enlear numa desmesurada loucura sem sentido. Gosto de gritar golo e fico, muitas vezes, com os olhos congestionados de lágrimas quando um português, independentemente da modalidade, sobe ao pódio e ouço o Hino de todos nós. Sei o que está por detrás, de esforço e de trabalho. Li um livro de um treinador americano, Peter Daland, que dizia que o treino "é dor, sofrimento e agonia". Nada mais certo, sobretudo em algumas modalidades que não passam o tempo "em banhos e massagens". Portanto, nutro um grande respeito pelos nossos representantes. Todavia, sem miserabilismos de espécie alguma, olho para as reportagens da televisão e parece que tudo começa ou recomeça e acaba em 23 jogadores. Que a nossa vida depende do êxito de uma equipa que seguiu, até, no avião da Esperança. Mas qual Esperança, meus senhores? A Esperança de estancar o ritmo de uma emigração crescente, a Esperança de nos tornarmos num país com futuro, liberto das amarras económicas, sociais e culturais que nos fazem estar na cauda da generalidade dos sectores e áreas de actividade?
Ora, não é a Esperança de um hipotético título europeu que nos vai fazer entrar nos carris do bem-estar. Não é esta acéfala anestesia de um mês colado ao écran, aos pulos nas praças e com muito álcool à mistura, que nos atirará para fora do perigoso redemoinho que todo o País se encontra. Não é com 15 a 20 minutos diários na abertura dos telejornais, com directos de todo o lado, vasculhando tudo e mais alguma coisa como quem enche um chouriço, que nos vamos safar da fome, da exclusão social, das empresas em falência ou a caminho dela, dos problemas da educação, das pescas, da agricultura, enfim, de tudo o que realmente preocupa.
Como em qualquer anestesia, o paciente regressará ao seu estado normal. Pode ser uma anestesia em dose elevada e, durante um mês, o país ficará adormecido nos seus problemas; mas pode acontecer que a anestesia dure duas semanas e, logo a seguir, feito o luto, todos se recomponham para a vida real.
Sinceramente, preferia um estado de emoção contida e preferia, sobretudo, que para além do futebol, embora com problemas, vivessemos num país sem uma permanente corda na garganta. Apesar disso, vou gritar golo se tal vier a acontecer. E ficarei com a lágrima a escorrer se Portugal for bem sucedido. É o meu País!
1 comentário:
Concordo plenamente!
Até escrevi algo sobre isso no braganza mothers!
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