Ninguém exprime preocupação em conhecer, através de investigação, por exemplo, a FLAMA que matou, destruiu bens e lançou o medo junto da população; não vejo ninguém preocupado em perceber a fortuna acumulada da Fundação Social-Democrata; as fortunas mal explicadas; a utilização de informação privilegiada, alegadas negociatas e negócios obscuros; as regras mais básicas de funcionamento da Democracia onde se destaca o controlo de toda a sociedade e o esbanjamento dos dinheiros públicos. Não vejo ninguém preocupado com a escandalosa promiscuidade política entre a Igreja Católica e o poder maioritário.
Vou ainda na página 187 das 525 do livro "Jardim, a Grande Fraude". Do que leio sinto um constrangimento sem fim. Da engrenagem, altamente sofisticada, sinto asco e até uma ponta de raiva por ver a minha terra a saque de uns quantos. Do que, lentamente, vou lendo, recolocando-me na História, como quem mastiga as palavras e os conceitos, indo ao baú das memórias, regressando umas páginas para melhor compreender outras, do que até agora li, é caso para uma profundíssima investigação, a vários níveis, desde o político ao criminal. O que me leva a dizer que não é aceitável, desde logo, que o Presidente da República não intervenha nesta monstruosidade construída a coberto da Democracia. Anda a Assembleia da República, particularmente o PSD, não os condeno por isso, sistematicamente, volta e meia a querer descobrir a "verdade" da morte de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa e, ninguém exprime preocupação em conhecer, através de investigação, por exemplo, a FLAMA que matou, destruiu bens e lançou o medo junto da população; não vejo ninguém preocupado em perceber a fortuna acumulada da Fundação Social-Democrata; as fortunas mal explicadas; a utilização de informação privilegiada, alegadas negociatas e negócios obscuros; a contínua tolerância no aspecto das incompatibilidades; as regras mais básicas de funcionamento da Democracia onde se destaca o controlo de toda a sociedade e o esbanjamento dos dinheiros públicos. Não vejo ninguém preocupado com a escandalosa promiscuidade política entre a Igreja Católica e o poder maioritário.
Li 187 páginas onde pontifica a ausência de transparência, absolutamente tolerada pela República, secundarizada pelos Órgãos da República que olham para isto como caso perdido. Pior do que isso, vejo, por aqui, uma sociedade acomodada, anestesiada em alguns aspectos e, em outros, completamente rendida, sem força para dizer basta. Curiosamente, li, hoje, uma carta do leitor, no DN, que, por um lado, assume que o livro "Jardim, a grande fraude" não deixa ninguém indiferente, mas, por outro, logo mais abaixo, coloca em causa a autenticidade das fontes e fala de "um duplo plagio" (saberá isso o que é?), quando o livro constitui uma narrativa de acontecimentos históricos, baseada em documentos publicados e entrevistas devidamente identificadas. A História constrói-se com factos e com documentos e não em meras subjectividades. Dir-se-á que, para o leitor, a obra toca nas pessoas e no sistema, mas lá vem a mão protectora do cidadão: talvez não seja assim, porque são testemunhos de um "activista político", próximo do PS, "um mártir" na "denúncia do jardinismo"! Uma posição esquisita, própria de pessoas com lacunas de pensamento histórico e do que significa 36 anos de poder absoluto.
Ora, tudo isto sairá muito caro à Região e ao País, do ponto de vista político, orçamental e social. É uma questão de tempo. Porque há uma demissão de quem deveria colocar isto na ordem, porque a sociedade, apavorada, demitiu-se e não há muitos a olharem para a Região como ilhas onde seria relativamente fácil construir o bem-estar, através de um sustentável crescimento e desenvolvimento. Olham desapontados para a monumental teia criada, para as cumplicidades sem fim e, vergados pelo peso institucional, deixam o marfim correr. Serão, obviamente, CÚMPLICES, porque tudo tem o seu tempo e este governo já teve o seu!
Ilustração: Google Imagens.
9 comentários:
Compreendo a reacção da pessoa que escreveu a Carta do Leitor. É uma espécie de mágoa por ver que alguém de fora, que não sofreu as agruras do jardinismo consegue a atenção que ele própria não terá conseguido. Quase que apostaria tratar-se de um jornalista ou pelo menos um político da oposição! É compreensível mas é preciso perceber que a sociedade da informação funciona assim mesmo. Muitas vezes é mais importante a forma do que o conteúdo. E um livro que faz a história do jardinismo tem um outro impacto bastante diferente das notícias que tem saído ao longo das décadas e que por isso mesmo não dão uma visão panorâmica do regime!
Obrigado pelo seu oportuno comentário.
Meu caro André.
Cada dia que se passa sinto mais asco por repugnante pessoa.
Eu que conheci pessoalmente essa ovelha ronhosa, sinto vergonha de mim próprio de o ter conhecido.
Não posso compreender como o Nobre Povo Madeirense ainda suporta semelhante figura.
Só nos países de ditadura assassina toleram tremenda figura.
Um dia virá a história recordar aqueles que tiveram de abandonar sua terra para fugirem de tirana e tenebrosa figura.
Digo isto com total repulsa, de gente de semelhante calibre.
Um abraço solidário. João
Ainda estou na página 130. Já notei alguma falta de rigor, logo a começar pela data de nascimento de AJJ. Foi em 1943 e não 1942. O dia está certo. Outra coisa que passa uma ideia errada é sobre o conceito de cubano. Naquela época, todo aquele que tivesse nascido no rectângulo continental, na Madeira, era considerado cubano. Nem mais nem menos, era assim . parágrafo ! O livro (pág 79) passa a ideia que todos os que não fossem laranja eram cubanos. Havia comunistas cubanos e comunistas madeirenses. Os comunistas madeirenses não eram considerados cubanos. Os continentais, comunistas ou não, eram todos considerados cubanos. Outra ideia incorrecta é a de que AJJ e seus seguidores, não deixavam todos os que não fossem PPD, pôr "pé em ramo verde" quando na página 100 refere que só em 14 de Março de 1976 é que o CDS tinha conseguido fazer um comício com princípio meio e fim. Ora isto é uma tentativa de atribuir as culpas desse facto a AJJ, o que é incorrecto. O CDS tinha dificuldades devido às constantes perseguições e insultos por parte das forças de esquerda, isto é do PS para a esquerda. Aliás, quanto a bombas, não me consta que alguém do CDS tenha sido alvo de alguma. Alguns militantes do PS foram alvo porque no ambiente anti-comunista primário que se vivia, o rosa era a cor mais próxima do vermelho e como tal também considerada erva daninha, logo indesejável. Nesse tempo o CDS e o PPD eram como que duas peças da mesma máquina que combatiam os avanços comunistas. A ameaça de independência era uma pressão anti-comunista. Mais ou menos assim, a Madeira queria dizer ao Continente : "amigos amigos, negócios à parte. Se querem ser comunistas então vamos ter de seguir caminhos diferentes. O receio do comunismo era tal que isso era um ponto absolutamente inegociável para uma grande parte dos madeirenses. E esse sentimento anti-comunista acabou por ser aproveitado pelo Bispo Santana e por AJJ que também tinha a seu favor a posição de não agressão, não interferência por parte do Brigadeiro Azeredo que fazia "vista grossa" e que do seu ponto de vista seguia as acções do Bispo e de AJJ como que a interpretação da vontade da maioria da população. Vivi essa época de forma activa e tenho uma ideia que penso clara e real em relação ao que se passou a partir de princípios de Março de 1975. O período anterior a Mar75 estava no continente embora com algumas passagens pela Madeira para curtas férias. A ideia que tenho é que se o PCP não tivesse sido legalizado em Portugal, Alberto João Jardim nunca teria tido os sucessos eleitorais que teve que quer se goste ou não, tiveram como base toda a mentalidade de ambiente anti-comunista primário. Também acho que o PCP não deveria ter sido legalizado uma vez que também não são permitidos partidos extremistas de sinal contrário. Se aceitam uns têm de aceitar os outros. O ideal era ter dito não a todos os extremismos viessem eles de onde viessem. A justificação para a legalização do PCP foi um reconhecimento pela sua participação nas lutas contra o anterior regime...mas já chega ! Outro aspecto que também não tenho qualquer dúvida, é que há males que às vezes vêm por bem. Se não tivesse havido as bombas e incêndios a sedes do PCP, especialmente no norte do país, não se tinha contido mais ou menos de forma rápida o avanço comunista. Neste aspecto acho que o PPD era a única força com músculo suficiente para esgrimir com as forças que andavam à solta no PREC. Nunca votei PPD e hoje enoja-me toda esta situação de assalto ao poder por parte dos labregos que quanto mais têm mais querem ! Digamos que há trinta e tal anos foram úteis mas há muito que deveriam ter sido corridos por indecentes e más figuras !...mas o povo não vê...ou não quer ver ! ou tem medo de mudar...Até onde li o livro, o autor baseia-se em dois jornalistas que pelo menos na altura tinham simpatias com o PCP. É também conveniente ter isso em consideração.
Muito obrigado pelo seu comentário.
Também já notei uma ou outra imprecisão. Pormenores que, tal como concluo do seu texto, não desvirtuam a questão de fundo.
Penso que a sua vivência e memória são importantes, pelo que, se me permite, julgo que deveria juntar os aspectos de maior relevância e expedi-los para o autor do livro. Eu penso que haverá mais do que uma edição e o seu contributo será, certamente, apreciado pelo Jornalista em questão, pois garantirá maior rigor histórico.
Muito obrigado, uma vez mais.
Caro amigo
Passei agora mesmo por na livraria onde comprei o exemplar que estou a ler (os comentários são para depois). Qual não foi o meu espanto não vi nenhum livro na montra. Fui indagar e, em surdina, disseram-me que alguém os comprou todos...
E esta?
Caríssimo,
Não me admira nada. Vem aí a 2ª Edição...
Sr. Fernando Vouga, mas isso é excelente para a editora ! Por acaso há dias, quando comprei o meu exemplar vi uns tantos na montra da livraria.
Caro anónimo
É o chamado "tiro pela culatra". Mas a cegueira é tanta (e os dinheiros por fora sobram) que nem isso enxergam.
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