Para um madeirense relativamente bem informado eu diria que o livro não traz grandes novidades, mas constitui um documento de singular valor pela sequência e pelo grande contributo para a compreensão destes 36 anos de liderança absoluta e sobretudo como ela foi construída, tecida e manietada, não apenas pela figura central, mas também por figuras de segunda linha, tão ou mais importantes que o mentor da "fraude".
Acabei de ler o livro "Jardim, a Grande Fraude", do Jornalista Ribeiro Cardoso e editado pela Caminho. O que poderei dizer de imediato? Que estou chocado. Não porque naquelas 525 páginas não reconheça o dia-a-dia do político em causa, todo o manancial de trinta e tal anos de histórias, declarações, ofensas, contradições, jogadas abstrusas, fugas, controlos, pequenas e grandes perseguições, prepotências, oportunismos, favores da Igreja, política de subsídios, expropriações, défices de todo o género, questões de Justiça, enfim, página a página, folheando e dissecando a narrativa, confesso que várias vezes dei comigo a reflectir, como é possível uma população tolerar isto? Como pode tolerar o maquiavelismo político, em que tudo gira, meticulosamente, em redor de uma figura e de um poder absoluto. Como é possível tanta gente agachada, de nariz colado ao joelho, incapaz de abrir os olhos e dizer não?
O livro não tem nada de uma narrativa ficcionada. O autor teve a paciência de coligir dados, todos eles identificados, a paciência de ouvir pessoas de todos os quadrantes, dar forma e sequência aos conteúdos da história de todo este processo, pelo que o livro tem o essencial de produção pessoal e muito de testemunhos. E são esses testemunhos, devidamente cruzados e sequencialmente contextualizados que me levaram a ficar chocado. Para um madeirense relativamente bem informado eu diria que o livro não traz grandes novidades, mas constitui um documento de singular valor pela sequência, o avivar da memória e pelo grande contributo para a compreensão destes 36 anos de liderança absoluta e sobretudo como ela foi construída, tecida e manietada, não apenas pela figura central, mas também por figuras de segunda linha, tão ou mais importantes que o mentor da "fraude".
Faltarão alguns dados, provavelmente que sim. Existirão algumas imprecisões, talvez. Para suprir essas eventuais lacunas, uma próxima edição certamente que complementará o que ali está escarrapachado sobre a natureza deste regime travestido de democrata. Do que não me restam dúvidas é que este livro é, simultaneamente, aterrador e precioso. Várias vezes tive de voltar atrás, para compaginar umas declarações com outras, na perspectiva de um melhor entendimento do que se esconde para além das palavras.
Um livro político que todos os madeirenses deveriam ler, em síntese, para perceber o significado da declaração do Dr. Jardim: "A Madeira é uma prostituta de luxo. Os seus vícios são caros". Por detrás desta frase, está tudo ou quase tudo!
Ilustração: Google Imagens.
3 comentários:
Também acabei ontem a leitura deste brilhante documento que, espero eu, ande a tirar o sono ao UI ! Aconselho lerem a coisa acompanhados de umas pastilhinhas contra os vómitos ! Não há dúvida que é um documento importante para a História da Madeira pós 25 de Abril. É com certeza um avivar de memória e um grande auxiliar para a compreensão de certas atitudes, tomadas de posição e o revelar de jogos corruptos que acabamos por ver agora que fazem sentido para aqueles que estavam menos informados a coberto das núvens de fumo da propaganda governamental. Não há dúvida que depois desta leitura, ficamos mais conscientes sobre o tipo de calibre da gente que tem o futuro da Madeira nas suas mãos e que nos usa como marionetas. Nunca tinha lido um livro tão depressa ! É que é constantemente e a cada página. Agora é que a careca fica visível. Espero bem que o conteúdo do livro não passe de mais uma cabala contra o "povo superior" e fico na expectativa ansiosa de o ver desmentido. Caso contrário ficaremos a pensar que quem cala consente !
Obrigado pelo seu comentário.
Este livro, como já referi, pode ser para a Madeira, aquilo que "Portugal e o Futuro" de António de Spínola foi para o País.
Uma vez mais obrigado pelo seu texto.
Muito bom, mas não convence simplesmente oposição que estão a fazer e claro a oposição não ia dizer bem,é o normal que se pode esperar.....
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