Nos anos 90 tive o ensejo de investigar o serviço público de rádio e televisão da Europa de então. A minha Dissertação final de Mestrado foi, precisamente, o "Operador Público de Televisão". Esta oportunidade fez com que, obrigatoriamente, lesse muitos autores, desde os que se debruçaram sobre esta temática mas também os do campo da informação e da comunicação em geral. A questão que tenho vindo a equacionar fez-me regressar a um dos livros, escrito por Jorge de Campos, em 1994, editado pela Universidade Fernando Pessoa e subordinado ao título A Caixa Negra. Folheei-o até à página 29 e dou com o seguinte texto:
"(...) O telejornal é constituído por um conjunto de temas debitados a alta velocidade e organizados de determinada maneira, prosseguindo objectivos previamente determinados, tal como na propaganda. O telejornal não exige reflexão por parte do espectador, o qual pouco retém daquilo que viu e ouviu. Simplesmente, o telejornal vai para o ar todos os dias veiculando sempre os mesmos pontos de vista, eventualmente com novas roupagens de modo a sugerir a ideia do novo, e projectando os estereótipos que hão-de permitir ao espectador proceder ao reforço das suas crenças e à construção dos seus mitos. É, novamente, o que se passa com a propaganda. Segundo Aor da Cunha o telejornal não cumpre a função de noticiar ou divulgar factos respeitantes à sociedade, reflectindo-a. Pelo contrário, a função do Telejornal é a de "moldar, esticar ou comprimir imagens com textos que reproduzam a vida política, social, cultural e económica à sua maneira, conforme critérios ideológicos e particulares do momento, não só dos jornalistas (...) quando a televisão mostra o excepcional, diferente, estranho, curioso, insólito rompe a estabilidade psíquica do espectador e ameaça a sua "consciência feliz" (...) a imagem que a população acaba por constituir, fortemente influenciada pelas notícias, é uma finalidade não incomodante, não provocadora de tensão, ao mesmo tempo que consegue fazer a industrialização da cabeça (...)".
A RTP-Madeira, encaixa-se precisa e lamentavelmente no texto discursivo de um jornalista (Jorge de Campos), sobre o discurso da televisão. Aqui, na Madeira, qualquer pessoa atenta percebe o jogo, isto é, temos uma televisão não incomodante, uma televisão que não abala a consciência feliz (?) do espectador. O Telejornal é isso mesmo. O que a Madeira precisa é de debate aos olhos de todos. Depois disto, ENTÃO, MEUS SENHORES, QUANDO É O DEBATE?
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