Li, no semanário de O Desporto Madeira (24 a 30 de Outubro), um trabalho de reportagem sobre o jantar de aniversário do Marítimo. O presidente do Governo Regional, ao iniciar o discurso, começou por dizer que, estando em família, "há o à-vontade de dizer está calado e não digas asneiras". Concordo, se bem que a prática seja diferente. E logo a seguir explicou que o atraso na remodelação do Estádio dos Barreiros fica a se dever "a um plano de sabotagem engendrado por pessoas que já beneficiaram da política desportiva regional". Quando cheguei a este ponto da peça jornalística, o da sabotagem, obviamente que me lembrei da sua primeira tirada. Mas qual plano de sabotagem, Senhor Presidente? Exigir seriedade no cumprimento das disposições legais será sabotagem? Exigir uma adequada e racional aplicação dos dinheiros públicos será sabotagem? Pedir que a pista de atletismo seja considerada na remodelação será sabotagem? Penso que não.
Mas sabotagem da economia regional, porque coloca em perigo a estabilidade social e cultural, já o é, pelo menos do meu ponto de vista, enredar-se em obras megalómanas numa terra tão pequena, pobre e dependente, gastando em infra-estruturas desadequadas da realidade.
Disse, ainda, o presidente: "o que se tem gasto no desporto não prejudicou o desenvolvimento regional, social e cultural da região. Ninguém deixou de ter estrada, casa e escola por causa dos apoios ao desporto, por isso, todos aqueles que falam contra os apoios revelam má-fé. Analisemos, agora, esta frase ao pormenor:
- Fala de gasto. Porém, no desporto, numa verdadeira política desportiva, entenda-se, deve-se falar em investimento, porque o desporto é um bem cultural;
- Fala em desenvolvimento social e cultural. O que se verifica é que, passados 32 anos, os indicadores sociais e culturais são baixíssimos na Região. No desporto a Madeira acompanha Portugal Continental na pior taxa de participação desportiva da Europa (22%). Aliás, quanto a indicadores, basta consultar o INE ou o Eurostat.
- Ninguém deixou de ter a estrada, etc. etc.. O que se constata é que a actual geração tem em mãos uma hipoteca do seu futuro, com três mil milhões de dívidas por pagar, encerramento de lojas e desemprego em crescendo. Situação que vai custar os olhos da cara.
Pergunto: onde está a má-fé? A que "tipos que estão cá dentro (no jantar?) e que são péssimos para a própria Madeira", se referia o presidente? Péssima para a Madeira é a política do governo. Porque o desporto, mesmo quando há dinheiro, apenas pode ser a primeira das segundas prioridades. O que acontece por aqui é que o desporto, em muitos casos, tornou-se a primeira das primeiras prioridades e, entretanto, o novo hospital e a saúde ficam para depois, o apoio aos idosos fica para depois, melhor escola pública fica para depois, a política de família fica para depois, as toxicodependências ficam para depois, o combate à pobreza fica para depois, enfim, podemos percorrer uma série sectores e áreas da governação onde o que é prioritário fica para depois. E fala o presidente de má-fé!
Nota: E o C. F. União também quer um Estádio e um Pavilhão para o centenário. Será má-fé assumir que já é demais, que alguém tem de travar esta histeria e esta necessidade de uns quantos, sugando o orçamento regional, se se servirem do associativismo para serem notados e ascenderem social e politicamente?
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