Quatro notas:
1ª Ontem, a FIC abriu portas no Madeira Tecnopólo. Quem ouviu os discursos (oficiais) e os compaginou com as declarações do presidente do Sindicato da Construção Civil, certamente que ficou esclarecido. Como é possível duas perspectivas completamente opostas? De um lado, o sindicato a sublinhar que, nos últimos tempos, sete empresas de construção civil faliram e que o desemprego no sector é muito alto; do outro, em discursos nitidamente concertados, governo e representante da ASSICOM, falam em crescimento, desenvolvimento e paz social, ao mesmo tempo que, paradoxalmente, culpam o primeiro-ministro (a tecla é sempre a mesma) de todos os constrangimentos. Ora, quando está aos olhos de todos que a crise está aí, que a paz social é uma treta a avaliar pelas falências e pelo desemprego, que o mercado imobiliário está parado, que há centenas de apartamentos devolvidos à banca, que os empresários temem o futuro, por que raio estes senhores não assumem a realidade? Enganam quem? É evidente que se torna necessário fazer um discurso gerador de confiança mas negar os contornos da realidade, atirando para os outros culpas próprias, é de uma intolerável patetice política.
2ª Ouvi o Secretário dos Assuntos Sociais dizer que o governo já tinha "gasto" € 10.000,00 na figura do Cuidador do Idoso, enquanto figura próxima e da confiança do idoso que o ajuda nas suas tarefas diárias. Declaração ridícula. Quando se sabe que há idosos abandonados, que, no mínimo, encontram-se 700 em lista de espera por um lugar num lar, que há dezenas de idosos nos corredores dos hospitais (as designadas altas problemáticas) à espera de um outro enquadramento, falar de € 10.000,00 no enquadramento de 49 idosos é, na minha opinião, ridículo. Era melhor que não dissesse nada. Certamente que foi chocante para muitos que nutrem um grande respeito e um sentimento de profunda mágoa pela situação de largas centenas de idosos (nos planos da saúde, pensões e afectos), ter de ouvir o responsável pelos Assuntos Sociais enaltecer a aplicação de dois mil contos numa área tão sensível e desprotegida.
3ª Fui Vereador da Câmara do Funchal entre 1993 e 2005. Lembro-me, logo no primeiro mandato, ter dito ao Presidente da Câmara que, no núcleo histórico de S. Maria, havia muitos prédios com uma placa dizendo "prédio em recuperação". E que parecia que a Câmara estava à espera de ver o que caía primeiro, se a placa ou o prédio! E disse-lhe isto mais do que uma vez. Quinze anos depois vem o mesmo presidente dizer que os particulares ou recuperam ou a Câmara vai tomar medidas de acordo com a lei. Quinze anos depois. Lamento.
4ª Teleférico no Rabaçal. A pergunta que coloco é apenas esta: para quê?
Mas outras questões podem ser colocadas. Por exemplo: para chegar mais rápido? Para aplicar materiais de construção para manter em alta o investimento público? Para justificar a existência da Sociedade de Desenvolvimento?
O Rabaçal e os seus percursos devem ser preservados, deixados intactos como se o Homem não tivesse por ali passado. A melhor obra que ali está é a levada e a deslumbrante força da natureza. Como canta Pedro Barroso, na Menina dos Olhos de Água... "se houver alguém que não goste, não gaste, deixe ficar...".
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