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segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A EDUCAÇÃO NÃO É CONNOSCO...!

Duas notas oriundas de leituras do fim-de-semana:
"(...) Perante os resultados e algumas declarações de atletas portugueses que participaram no Jogos de Pequim 2008, o presidente do Comité Olímpico Português veio a público exigir "apenas profissionalismo" por parte dos atletas, lamentando alguns dos seus comportamentos e discursos. Ao menos implicitamente, aquele responsável atribui ao nível cultural e educativo dos desportistas às reacções que neles critica, embora reconheça a incapacidade institucional, e não apenas pessoal, para ultrapassar o problema. Como reconheceu, enfaticamente, "Nós preparámos os atletas desportivamente, mas culturalmente não, a educação não é connosco". A frase comporta todo um programa que, em boa verdade, nos caracteriza historicamente como Estado-Nação, com um passado marcado por políticas educativas não democráticas e por elites mesquinhas e de vistas curtas, descomprometidas face à elevação do nível cultural e educativo dos seus concidadãos.
(...) Não há pior "Estado Educador" do que o "Estado Educador" novo, sem recursos mas mantendo o controlo, já em estádio de mutação e em busca de novas formas de regulação de inspiração mercantil. É precisamente nos novos contextos de supervisão estatal, de parceria, de contratualização e de gestão por resultados que a performance competitiva atinge o clímax. Mas, com efeito, a educação nunca foi connosco, tal como a promoção da cultura e da cidadania democrática".
Licínio Lima, Jornal A Página da Educação, Out. 2008.
"(...) Num belo filme, que dá pelo nome de "Vermelho como o céu", um menino cego guia uma menina por corredores escuros. E uma metáfora de Saramago diz-nos que o grande crime é não cegar quando todos já são cegos. Do "Ensaio sobre a cegueira" ao "Ensaio sobre a lucidez", Saramago não faz outra coisa que não seja lembrar-nos a tragédia edipiana, que nos fala daqueles que, tendo olhos, não vêem, e de cegos que conseguem ver. Em "Vermelho como o céu", somente quando alcançam a saída da platónica caverna, a menina reassume a missão de conduzir (...).
(...) Almada Negreiros escreveu: Quando eu nasci, todos os tratados que visavam salvar o mundo já estavam escritos. Faltava apenas uma coisa: salvar o mundo. Quando me fiz professor, todos os tratados que visavam salvar a Escola já estavam escritos. Só faltava salvar a Escola. Eu sei que estou sempre a dizer o mesmo. Mas não desisto. Algum dia, os professores hão-de compreender por que razão, para certos modos de ver, o céu pode ser vermelho".
José Pacheco, Jornal A Página da Educação, Out. 2008.

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