Adsense

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

VELHAS E ULTRAPASSADAS CONCEPÇÕES

Duas notas sobre o Desporto.
1ª Segui, pela comunicação social, a tomada de posse dos novos órgãos sociais da Associação de Natação da Madeira. E escutei o Dr. André Barreto, novo presidente da Direcção, pessoa por quem nutro consideração e estima pessoal. Mas, a dado passo da sua intervenção, assumiu que um dos seus objectivos era ultrapassar a meta dos 1000 praticantes nos próximos anos. Discordo. E discordo porque uma associação federada não deve prosseguir objectivos de natureza quantitativa mas sim qualitativa. O objectivo do sector federado é qualidade dos praticantes. A quantidade deve ficar para o trabalho ao nível escolar. Dir-me-á o Dr. André Barreto que a Escola não trabalha a quantidade, pois bem, compete-lhe denunciar isso e fazer ver às autoridades locais que nem é correcto uma Associação resolver um problema que pertence ao sistema educativo, nem a Associação tem capacidade financeira para suportar encargos organizacionais que uma prática de quantidade exige. Mas isto, como é óbvio, tem muito que se lhe diga embora esteja, desde há muito, estudado. Adiante.
2ª Curiosamente, na edição de hoje do DN, o Dr. Rui Mâncio Caires sublinha o seguinte: "(...)Esteve sempre latente o perigo de reduzir a educação física ao desporto propriamente dito, colocando-a predominantemente no patamar da performance. Conteúdos e formas na expressão corporal não devem ser colocados ao mesmo nível. Valorizar a competência da execução, como fundamento pedagógico, não é exactamente só avaliar a performance. A tentação de reduzir a Educação Física ao Desporto em termos curriculares é um autêntico suicídio, até porque este tem sede maior fora da escola, e não se assume muitas vezes como um meio pedagógico, mas como um fim em si mesmo".
Nada de mais errado. Em 1999 foi divulgado um relatório conduzido por K. Hardeman, da Universidade de Manchester, patrocinado pelo Conselho Internacional de Ciências do Desporto e Educação Física e suportado pelo Comité Internacional Olímpico, que teve por objectivo investigar a situação mundial da Educação Física. As respostas ao questionário, aplicado em 126 países, alertaram para o facto da Educação Física encontrar-se numa profunda crise de identidade e de credibilidade social. E eu pergunto, porquê? Exactamente, porque ela está desfasada no tempo e hoje é, com todas as letras, uma fraude. São tantos os pensadores sobre esta matéria. O Catedrático Gustavo Pires, da FMH, salienta no livro Desporto e Política – Paradoxos e Realidades, pág. 352 e 353: “(…) O sistema de valores, os símbolos, a estética, o espaço e a estrutura do tempo são portadores de novas ideias e pensamentos que devem originar outras soluções organizacionais quando se trata de organizar actividades lúdicas, culturais, recreativas e formativas, em ambiente escolar. (…) Defender a Educação Física não é, por isso, insistir nos modelos e nas soluções do passado. Defender a Educação Física é sermos capazes de encontrar soluções de acordo com as realidades do nosso tempo. Numa dinâmica de futuro. E o futuro é o ensino do desporto”. Sendo assim e porque, sublinha o Doutor Manuel Sérgio “(...) nem científica nem pedagogicamente existe qualquer educação de físicos (...) que a expressão Educação Física se acha incrustada numa ambiência social onde o estudo desta matéria não é conhecido (...) e que a Educação Física deve morrer o mais rapidamente possível para surgir em seu lugar uma nova área científica que mereça dos homens de ciência credibilidade, respeito e admiração (...)" cai por terra a posição do Dr. Rui Mâncio.
Ora bem, a Escola tem de mudar o seu paradigma organizacional. A expressão Educação Física deve ir para o baú da História e, no seu lugar, surgir a EDUCAÇÃO DESPORTIVA sujeita a princípios e valores que não aqueles que a Escola hoje continua a fomentar. Nos anos 70 já tantos autores sublinhavam "paz à sua alma". E não foi por acaso que a Comissão Europeia, em 2004, considerou este o Ano Europeu da Educação pelo Desporto.
Duas notas que, ao fim e ao cabo, se compaginam. É preciso é ter coragem política para ultrapassar velhas e ultrapassadas concepções. E neste aspecto, o Governo Regional, nunca deu um passo.

Sem comentários: