"Não vou dar borlas, subsídios para andarem a beber cerveja ou comprarem carros novos", constitui a síntese do discurso do presidente do governo, durante a inauguração do Centro de Acolhimento Temporário Dona Gracinda Tito, na Tabua. Logo a seguir, referindo-se ao funcionamento da Assembleia Legislativa da Madeira deixou claro: "os meus colegas que são deputados no parlamento regional, sabem muito bem, o que combinámos todos, que a oposição pode esbracejar, pode barafustar que nada é aprovado (...) esta é a política certa".
Ora, uma população que se presta a ouvir um discurso destes é evidente que está anestesiada. Pior, está em coma profundo. A própria Democracia deveria resolver estes casos, nos tempos próprios, em defesa dela própria e, por extensão, em defesa dos que menos têm. Já aqui o referi sob a forma de pergunta, sendo assim, pensando o presidente como pensa, referindo-se à Assembleia como se refere, afinal, para que serve aquilo? Para que serve uma Assembleia com representantes de todos os partidos e, portanto, de todo o Povo? Para que servem os projectos apresentados em nome desse Povo quando uma só cabeça pensa e uma só cabeça determina?
Quando um presidente, se dirige aos Deputados da oposição dizendo "(...) apresentem projectos em condições e não apenas propostas para subsídios e borlas, que, muitas vezes, são um truque para depois faltar o dinheiro para os investimentos" é evidente que sabe o que está a dizer. Desde logo ele sabe que não é verdade. Ele sabe que há muitos projectos, técnica e politicamente bem elaborados, oportunos, elaborados com rigor e fundamentação e que vão ao encontro de necessidades sentidas. Ele sabe que os catorze deputados da oposição trabalham muito mais que os 33 da maioria PSD. Não foi por acaso que o presidente escreveu uma carta a todos os seus amigos na Assembleia, pedindo maior empenhamento. Ele sabe que daquele grupo, por circunstâncias várias, sai pouco ou nem pode sair seja o que for pela subordinação a que estão votados. Ele sabe que eles podem ter vontade própria mas não podem ter iniciativa própria. Ele sabe que, a propósito de "subsídios e borlas", que o grande campeão é o próprio governo regional ao atribuir, só em 2007, 455 milhões de euros a centenas de entidades regionais e ele sabe, que se a oposição reclama, no âmbito da Autonomia, um apoio de € 60,00 de complemento da pensão ou um apoio anual para os medicamentos dos idosos, dos que mais precisam, não é para comprarem um carro novo, mas para ir ao encontro de uma população pobre onde muitos milhares fazem das tripas coração para sobreviver. Ele sabe de tudo isto mas prefere inverter o discurso, prefere espezinhar e prefere, ele próprio gerar as condições para que a Assembleia seja aquilo que é: um local de confronto, de divisão, de agressão através da palavra, de desprestígio aos olhos do Povo. Porque desta divisão, emerge a sua figura, imaculada, defensora dos pobres, criadora de uma Madeira Nova que só alguns a desejam. Não foi preciso o "aedes aegypti" instalar-se na Madeira, pois o verdadeiro mosquito de S. Luzia há muito que picou e anestesiou a população.
2 comentários:
Peço imensa desculpa, mas ele tem razão na primeira frase que referiu! Já chega se subsídios para andarem no café o dia inteiro! É o que se passa no país todo e farta de ver tanta mão de obra desperdiçada em subsídios. CHEGA!!
Eu compreendo a sua posição.De facto temos de ser muito mais rigorosos. Lá e cá. Ainda na passada Quinta-feira insurgi-me, na ALM, contra aqueles que evidenciam claros sinais exteriores de riqueza (piscina em casa, por exemplo) e que têm apoios da Acção Social Escolar. Onde está a fiscalização?
Mas a verdade é que temos milhares de pobres, temos milhares de idosos em situação muito difícil e é para esses que o meu Caro, eu e tantas outras pessoas, que têm o suficiente para viver, desejam uma melhoria. Tenho uma filha farmacêutica e outra médica e são elas que me transmitem a realidade que se passa no dia-a-dia das suas vidas profissionais, nas farmácias ou na consulta do hospital. Nos Açores há sensibilidade para atender aos casos mais difíceis. Sinceramente, prefiro menos um tunel, menos um subsídio ao futebol profissional ou menos um templo construído e mais felicidade nos nossos idosos.
Mas eu compreendo-o.
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