Acabo de ler o último artigo do notável Dr. José Paulo Serralheiro, Director de A Página da Educação. O seu texto situa-se na actual crise financeira que abala o Mundo. Não resisto a transcrever aqui algumas partes que merecem séria reflexão:
"(...) Desembaraçado de adversários e de críticos a sério, o capitalismo submeteu tudo e todos e pode, nas últimas décadas, assumir a sua forma mais pura e dura: transformar dinheiro em mais dinheiro sem precisar sequer de produzir mercadorias. Economia virtual. Especulação pura. Desastre previsível. Estados aprisionados. Governos subservientes e ausentes.
(...) Os neoliberais criaram uma economia-mundo capitalista com três pilares fundamentais em relação aos quais temos estado praticamente indefesos: 1) o desenvolvimento do terrorismo internacional, privado e de Estado, favorecido pela livre circulação de capitais; 2) uma mistura explosiva da economia-criminosa com a economia-legal, valendo tudo desde que dê lucros; 3) o desenvolvimento do terrorismo financeiro, exigindo o desmantelamento do Estado, o desarmamento politico dos povos e lançando sob estes uma constante acção de rapina e perda de direitos de cidadania. Progressivamente foi a actividade criminosa, sobretudo o terrorismo financeiro, quem comandou a ditadura do mercado ao qual se submeteram servilmente os governos. Os planos de salvação do capitalismo especulativo, a compra dos podres [ontem ainda lhes chamavam produtos sofisticados de engenharia financeira, hoje já os chamam produtos tóxicos] e o pagamento da vigarice praticada pelos especuladores não são mais do que a continuação do servilismo e da subserviência dos governantes a estes interesses terroristas. Será que os povos do mundo, «as opiniões públicas», serão capazes de se opor a esta absolvição e pagamento do crime? Será que somos capazes de nos libertar do jugo a que temos andado atados e de nos mobilizar para obrigar a reinventar o Estado Social? «Tudo o que não avança cai», diz a parábola da bicicleta.
(...) Ontem pediam a completa privatização das funções do Estado. Hoje pedem que o Estado [nós] lhes paguemos a incompetência e o lixo que produziram. Ontem o Estado não tinha um cêntimo para tirar da miséria milhões de cidadãos. Hoje surgiram milhões e milhões para salvar a minoria dos terroristas financeiros espertalhões. Ontem a penúria do Estado e o sagrado equilíbrio orçamental não permitia lançar politicas de criação de emprego para socorro dos desempregados. Hoje surgem somas fabulosas disponíveis para pagar os podres do sistema ao serviço dos poderosos. Ontem a gestão privada era a perfeição absoluta e o que era do Estado era degenerado. Hoje pedem ao Estado [ao povo] que pague a ganância e a incompetência criminosa das estrelas da gestão privada. Ontem os «sofisticados produtos da engenharia financeira», as bombas financeiras, rebentaram nos gabinetes das grandes sumidades do sistema. Hoje, nós cá estamos para pagar o desastre. Pagamos? Com que condições?.
1 comentário:
veja o blogue da Mafalda a contestatária. Interessante!
Enviar um comentário