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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

PAREM DE BUROCRATIZAR A ESCOLA

Se, na Madeira, o sistema educativo está como está, há 32 anos que tem políticas e rostos de um só partido. Ignoraram os alertas, ostracizaram políticos, sindicatos e docentes, meteram a Autonomia na gaveta e alaparam-se à generalidade da produção legislativa nacional. A História demonstra que a preocupação nunca foi a de reinventar um sistema educativo próprio, subordinando-o ao essencial da matriz nacional, mas a de o complexificar. Afundaram-no na ânsia do controlo das escolas, dos executivos, dos educadores e professores, asfixiando a autonomia da docência e a diferenciação pedagógica, impondo a uniformização através de uma trituradora burocratização. Por via disso estabeleceram comportamentos esperados, geradores de desconfiança e até de medo. Mataram a alma de ser educador ou professor ao ponto de, hoje, ser difícil um diálogo livre entre docentes em matéria pedagógica.
Hoje, a secretária dos docentes, não está cheia de livros para despertar o conhecimento, mas de papel, fichas, planificações, intermináveis folhas com competências gerais, transversais e específicas, projectos curriculares de turma, planos de recuperação e respectivas reavaliações, exaustivas estratégias e metodologias, grelhas, relatórios, por turma e aluno, enfim, fizeram da escola um local onde o prazer de ensinar, de aprender e de reaprender fica para depois e, dos docentes, uns burocratas. Hoje, ser director de turma é manter os nervos em franja todo o ano escolar, tal a burocracia imposta à qual se junta a preparação das aulas, as reuniões de grupo, de departamento, de conselho de turma, os problemas disciplinares e a difícil ligação às famílias. A falta de visão gerou um sistema vertical e autocrático criador de subserviência, desconfiança, formação de grupos por afinidades que, silenciosamente, se digladiam, e uma revolta interior que tem conduzido ao cansaço e à aposentação antecipada de muitos educadores e professores de qualidade. Ora, isto não é culpa do ministério ou da Constituição, mas de quem governa, de quem teve e tem Autonomia para conceber um sistema próprio portador de futuro.
Não basta estar atrás de uma secretária, ler uns livros de autores que teorizam sem nunca terem vivido a escola, ou por lá passaram fugazmente, achar interessante, aplicar e inspeccionar. E há gente assim, que se refugiou por não ter nem paciência nem jeito para a leccionação e que, hoje, impõe anacrónicos modelos de actuação que estão a conduzir ao desastre do sistema. Para alguns a escola deve funcionar tipo prateleira de supermercado com todos os produtos no seu lugar e com os códigos certos. Desde que a acta, o projecto curricular, o relatório, os sumários, as faltas, enfim, desde que tudo, no final do ano, se encontre de acordo com a circular, o despacho e as grelhas, nada há a opor. É esta postura, com a complacência política, que está a matar a escola, a liberdade criadora e os resultados.
A Educação não é nada daquilo, é muito mais! Para os educadores e professores a actividade educativa tornou-se um inferno. Já não bastava a ausência de políticas de família que se reflectem na escola, para agora juntarem-se a esse drama a perda de direitos, entre outros, a não contagem do tempo de serviço congelado, a inqualificável prova pública no 5º escalão, a irresponsável avaliação de desempenho e a ratoeira que é o Estatuto Regional da Carreira Docente. E ainda vem o presidente do governo falar de Mao, de Fidel e de Estaline como se eles fossem os culpados. Mas eu compreendo-o. O Dr. Jardim nunca foi professor, apenas desenrascou umas aulas, o que é bem diferente!
Artigo de Opinião, da minha autoria, publicado, hoje, no
DN-Madeira.

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