Ou bem me engano ou, então, estamos face a uma cena de contornos já vistos. Os próximos tempos serão clarificadores. Do que parece não restar dúvidas é que o Dr. Alberto João Jardim nutre um grande amor pelo poder. Retirá-lo ou deixá-lo sem outras hipóteses de saída política, é situação que, certamente, não lhe agrada por mais que refira o seu interesse em se ir embora. Max Weber caracterizou o poder como "a possibilidade de alguém impor a sua vontade sobre o comportamento de outras pessoas", sobretudo aos que se mostram relutantes ou contrários; Galbraith, sublinha que "quanto maior a capacidade de impor tal vontade e de atingir o correspondente objectivo, maior o poder". E ele sabe, por outro lado, tal como escreveu W. Somerset Maugham "que um general sem exército não passa de um dócil herói de um vilarejo". Não é por acaso que nas últimas eleições internas do PSD ele falou de generais e de tropas.
A esta caracterização sumária junta-se uma outra leitura não menos importante, precisamente a situação interna no seu partido. A ideia que se generaliza é que aquilo ainda funciona à custa da pressão e do medo imposto pelo grupo duro, que mantém a estrutura aparentemente estável. Mas está ferida de morte. Há sensíveis sinais de desagregação, candidatos que, silenciosamente, se posicionam para o assalto e até, na juventude, a existência de três candidaturas à liderança, certamente ancoradas em linhas de pensamento de grupos seniores, não deixam de ser demonstrativas do que está a acontecer.
Ora bem, num quadro destes, a máquina, sem válvulas de escape, porque funciona em sistema fechado, gera entropia. Não há volta a dar a este desgaste. E sendo assim, porque ele ama o poder e porque a sua ausência pode significar, como diz o povo, comerem-se uns aos outros, os últimos sinais não deixam de ser curiosos: o fabricado lançamento ou a assunção de uma eventual disponibilidade do Dr. Sérgio Marques (como se estivesse interessado em meter-se num saco que não é o seu!), que apenas serve para esbater ou mesmo travar a luta de outros interessados e a vinda a público de algumas figuras do aparelho para dizer que o Dr. Jardim deve continuar para além de 2011, são factos políticos interessantes que, enfim, ou bem me engano ou dão a entender que o quadro está a ser pintado no sentido de uma romaria, em tempo devido, subir a avenida para pedir-lhe mais um esforço, mais quatro anos de sacrifício pessoal. Simplesmente porque a estabilidade de algumas torres, cavalos e de alguns peões passa por não trocar o conhecido pelo desconhecido.
Esta é uma hipótese que não deve ser descurada. Por mim, acho que ele deveria se candidatar mais uma vez, sobretudo porque entendo que ele deve ser julgado nas urnas, não pelo que fez mas, sobretudo, pelas consequências futuras por aquilo que não fez. Todavia, com regras claras de candidatura: com debates, muitos debates gerais e sectoriais, no serviço público de rádio e televisão, com a sua presença; debates no parlamento sobre preocupantes dossiês da governação; compromisso de não fazer inaugurações em período de pré e de campanha eleitoral; fiscalização sobre as autarquias e outras organizações próximas ou dependentes do poder, no que diz respeito à oferta de cabazes, cheques e materiais de construção; fiscalização sobre a utilização de carros oficiais no acto eleitoral e no voto acompanhado; distanciamento da Igreja num acto que não lhe diz respeito.
Ele que aceite as regras e que, como mandam as mais elementares regras da Democracia, venha a terreiro, com as mesmas armas, discutir a verdade desta Região. Só que, a avaliar pela história de todo o processo, é evidente que ele não tem coragem porque sabe que corre o perigo do povo dizer BASTA!
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