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sábado, 16 de abril de 2011

QUE TRISTEZA DE PRESIDENTE DA REPÚBLICA!


O Parlamento funciona assim porque não se sabe onde termina o Parlamento e começa o Governo ou vice-versa. O Parlamento está desvirtuado nos seus princípios e valores, enquanto instituição fiscalizadora dos actos do governo. A maioria parlamentar entretém-se a justificar o injustificável, a intervir apenas para falar da República e a realizar umas visitas para "confirmar" as políticas do governo regional. Não tenho presente uma única iniciativa legislativa própria. Portanto, o Parlamento nega-se a si próprio.


O Dr. António Fontes, Deputado pelo PND, tece, na edição de hoje do DN uma série de considerações sobre o Parlamento Regional. Um déjà vu, tantas vezes comentado. Ainda esta semana fiz uma série de considerações a esse respeito. Ele apenas disse por palavras mais duras aquilo que muitos comentam de forma mais soft. Seja como for o que se passa é grave e é consequência de dois aspectos essenciais: primeiro, o resultado de 36 anos de maiorias absolutas que tornou o Parlamento um espaço ditatorial, de uns e de outros, um espaço não de pares eleitos que através de posicionamentos políticos distintos, democraticamente, constroem o óptimo social, mas um espaço que legitima uma política com laivos terroristas do ponto de vista social.
Há quem por aí diga que a Oposição é fraca. Nem por isso, digo eu. É resistente e propositiva, apesar dos sistemáticos cortes regimentais no sentido do condicionamento da palavra. A quase totalidade das propostas legislativas partem da Oposição, sabendo a Oposição que elas têm um destino: o arquivo, para não dizer o lixo! Falo pelo meu grupo parlamentar que apresentou, ao longo destes quatro anos, dezenas e dezenas de projectos e nem um foi motivo de debate negociador. Em todos os sectores e áreas da governação, sobretudo, nos planos da Economia, das Finanças, da Educação, da Saúde e dos Assuntos Sociais. Tudo menosprezado, como se, de um lado, estivessem os iluminados, do outro, os incapazes. No caso pessoal, apresentei quatro extensos e importantíssimos documentos que muito trabalho me deram: o Regime Jurídico do Sistema Educativo Regional, (documento estruturador enquanto espécie de lei de bases do sistema educativo regional), o Estatuto da Carreira Docente (duas versões), As Bases do Sistema Desportivo Regional e Regime Jurídico de Comparticipações Financeiras ao Associativismo Desportivo (duas versões) e o Projecto sobre A Escola a Tempo Inteiro. Tudo para o lixo. Trabalhos elaborados ao longo de meses, com muitas reuniões de permeio, muitos pareceres solicitados e, no fim, em meia-dúzia de minutos, CHUMBO em cima, sem qualquer argumentação palusível. E o que dizer das propostas do Deputado Carlos Pereira, na campo da Economia e das Finanças, no fundo, de onde tudo depende! Porque podemos falar muito de educação, de agricultura e pescas, de saúde e de assuntos sociais, em geral, mas se não se souber estruturar o plano da Economia, se não se souber de onde vem a produção de riqueza, obviamente, que nada feito. Mas, nem aí houve e há um espaço de compreensão e de debate. 
Em segundo lugar, o Parlamento funciona assim porque não se sabe onde termina o Parlamento e começa o Governo ou vice-versa. O Parlamento está desvirtuado nos seus princípios e valores, enquanto instituição fiscalizadora dos actos do governo. A maioria parlamentar entretém-se a justificar o injustificável, a intervir apenas para falar da República e a realizar umas visitas para "confirmar" as políticas do governo regional. Não tenho presente uma única iniciativa legislativa própria. Portanto, o Parlamento nega-se a si próprio pela força irracional da maioria. Falta-lhe mentalidade democrática e respeito pelos outros. Naqueles corredores respira-se o ar pesado de uma instituição onde prevalece a força de uma maioria castradora e impostora. São sensíveis os constrangimentos até junto dos próprios funcionários.
Compete ao Povo resolver esta situação e compete ao Presidente da República não continuar a olhar para o lado, fazendo de conta que não sabe o que se passa. Em Outubro os madeirenses têm mais uma oportunidade para mudar tudo isto. Agora, se mudar, tenho eu a certeza que será muito difícil para a actual maioria.
Ilustração: Google Imagens.

2 comentários:

Anónimo disse...

Só li as primeiras linhas do seu artigo sobre as declarações do Dr. António Fontes e chegam-me perfeitamente para fazer já um comentário. Vi a entrevista dele na integra e ouvi bem o que ele disse. O Prof. André Escórcio diz que é um "dejá vú". Acredito que sim, mas o que é facto é que eu nunca ouvi a oposição ou até talvez tenha ouvido muito "lá longe". O que acontece talvez tenha a ver com uma questão de tom, de estilo directo, de objectividade, chamando os "bois pelos nomes" sem preocupações de "politicamente correcto" e também talvez por a gente já saber que ele não faz muita cerimónia para dizer o que tem a dizer naquele estilo calmo e frio como se se tratasse da coisa mais banal do mundo e que não necessita de espécie nenhuma de coragem para ser dita. Outra coisa que acontece, pelo menos comigo, é que quando há uma entrevista dele, eu faço tudo para não a perder porque já sei que vai fazer faísca e isso talvez faça a diferença. Se por qualquer motivo não tiver visto a entrevista e dela tenha conhecimento posterior, vou logo ao site da RTP-Madeira para ver em repetição ou até mesmo no site do DN como foi o caso de hoje. Há também um aspecto que joga a favor dele que é o facto de ser por enquanto novidade na Assembleia e isso naturalmente provoca alguma curiosidade e motivação para o ouvir, ao passo que os outros, por diversas razões e também pelo facto de a grande maioria serem sempre os mesmos há anos, a gente já não os ouve e até muda de canal porque normalmente já não há pachorra. Como que uma música que já se ouviu vezes sem conta !...

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Ora bem, como é evidente, não critiquei, negativamente, o Dr. António Fontes. Não é isso que o meu Caro leitor diz. Eu percebi. Quando assumi que constituem palavras já ditas, constitui um facto. São anos de luta e de denúncias que parece ninguém querer ouvir. Aliás, considero a presença do Dr. António Fontes importante, porque é mais um, talvez de forma mais dura e frontal, a dizer que o rei vai nu.
Obrigado.