O 1º DE MAIO É DOS TRABALHADORES. NÃO É DO GOVERNO!

Um bom dia de reflexão, com o governo bem longe. Ao governo competir-lhe-á reflectir sobre os 15.300 desempregados e sobre as razões mais plausíveis da pobreza e da exclusão. Comecem por aí!


Cada vez mais sentido faz a comemoração do 1º de Maio, Dia do Trabalhador. As ondas liberais, estas marés desumanas que afogam direitos e matam expectativas de vida, esta sistemática turbulência social que constitui um mundo de enganos, gerada de forma engenhosa e calculista, no sentido de fazer crer a bondade das iniciativas, na prática, apenas têm conduzido ao desemprego, à pobreza e à exclusão social.

Na voragem das palavras e do metralhar sistemático das mensagens, infelizmente, nem os trabalhadores se dão conta dos ínvios caminhos que os convidam a trilhar. Aplaudem, até. Os senhores que dominam o conhecimento, que sabem esperar, que conduzem os processos com meticulosa inteligência, dominam as peças do xadrez e, sem escrúpulos, seguem, pacientemente, passo a passo, de decisão em decisão, o seu venturoso e ganancioso caminho à custa dos mais humildes, daqueles que apenas trabalham de forma honesta e distante dos movimentos especulativos.

O 1º de Maio é, portanto, uma data a ser lembrada pelos trabalhadores. Não é uma data, hipocritamente, liderada pelo governo. É ao trabalhador e às suas representações sindicais que compete a organização deste dia que, em 1886, em Chicago, foi de libertação e de exigência de redução da jornada de trabalho para oito horas. Não compete ao governo regional realizar provas desportivas, montar arraiais, promover a espetada ao som de uma qualquer canção de embalar. Quem assim procede apenas está a colaborar com os interesses de uma agenda que não é, certamente, a de quem trabalha. Essa atitude visa o adormecimento, o desvio das atenções, porque enquanto por ali andarem não pensam nas agruras do dia seguinte.

Defendo, sempre defendi, o direito ao trabalho com direitos mas também com deveres. O trabalho é sagrado, as competências têm de ser desenvolvidas, a produção naquelas horas tem de acontecer, mas ao lado deste conjunto de deveres também coexistem os direitos à justa remuneração, a um horário compaginado com a vida familiar e a uma atitude contra a precarização. É tempo de bom senso de ambas as partes sobretudo pelos tempos que estamos a viver, embora, com toda a certeza, não foram os trabalhadores que a criaram. Foram os trabalhadores de topo, os políticos, os especuladores e os mentores de um Mundo que se abrigam sob a signo da ganância e do lucro fácil.

Há uma revolução social a operacionalizar e uma nova sementeira a fazer sobre a vida e o humanismo que dela deve resultar. É fundamental que os políticos ao mais alto nível entendam que, custe o que custar, o Homem deve estar sempre no centro das decisões políticas, que o direito à felicidade é para todos, que a miséria e a fome não são uma fatalidade, que urge medidas que corrijam estas vagas desumanas que esmagam, trituram, angustiam, promovem a infelicidade e potenciam o aparecimento dos confrontos. Invevitavelmente, hoje, um pouco por todo o mundo, o confronto acontecerá, como grito de desespero daqueles que sentem que lhes cortam o direito ao pão.

Muito que haveria a dizer sobre esta matéria. Um bom dia de reflexão, com o governo bem longe! Ao governo competir-lhe-á reflectir sobre os 15.300 desempregados da Região e sobre as razões mais plausíveis da pobreza e da exclusão. Comecem por aí.

Ilustração: Google Imagens.