Adsense

quinta-feira, 20 de maio de 2010

SÓ AGORA? MAS HÁ QUANTOS ANOS ISSO É DITO?



"Há muita coisa que precisa de ser rectificada", obviamente que sim, mas também há uma responsabilidade política a apurar e essa pertence ao Povo, em 2011.


Ouvi o Vice-Presidente do Governo Regional dizer, no decorrer de uma visita à freguesia do Monte (Funchal) que "há muita coisa que precisa ser rectificada" (...) "quando estamos a falar de reconstrução, não quer dizer recuperar exactamente como estava feito antes. É preciso melhorar, fazer diferente, para que não se cometam os mesmos erros" e que "há casas em cima de ribeiros que não podem aí continuar e vão ter que ir abaixo, naturalmente realojando as pessoas depois". Mas, só agora? Há quantos anos isso é dito?
Fui Vereador da Câmara do Funchal durante doze anos. Basta consultar as actas, os textos escritos e transcritos para as actas das sessões, as discussões sobre o que havia a fazer nas zonas altas do concelho, mais ainda, basta ler os sucessivos programas apresentados aquando das eleições autárquicas, para percebermos que estas declarações do Vice-Presidente do Governo só pecam por tardias.
Foram necessários trinta anos para perceber que o que estava a acontecer nas zonas altas correspondia a um claro desordenamento, por ausência de planeamento e, em muitos casos, por incompreensíveis cedências e fechar de olhos relativamente à construção espontânea e de risco.
Recordo uma visita que empreendi, há já uns anos, a toda a zona alta, na companhia de técnicos especialistas em ordenamento do território. No final, um deles disse-me: corrigir isto leva tantos anos quantos os de democracia temos e à custa de muitos milhões. E é verdade, basta um olhar para a forma como o solo foi ocupado, para a estrada que surgiu quase sempre depois da habitação, para o saneamento básico, enfim, para as infra-estruturas que surgiram depois da habitação, para percebermos os graves erros cometidos. A primeira foto dá-nos conta disso mesmo, da existência de boas habitações (elas xistem em quantidade, pelo meritório esforço das pessoas) mas nos locais errados sem obedecerem às regras de um ordenamento integrado, sem risco e sustentável a todos os níveis.
E o desordenamento foi tal que, agora, é a cota 500, sorvedora de milhões, já em construção, com toda a certeza para agravar a pressão urbanística em zonas que deveriam ser de protecção à própria baixa citadina. Se outro tivesse sido o ordenamento do território, aquela via poderia tornar-se desnecessária. Não sou eu que o digo, mas os especialistas com quem tenho falado e aprendido.
Acresce aqui um outro aspecto importante, é que as declarações do Vice-Presidente demonstram, inequivocamente, um raspanete ao Presidente da Câmara do Funchal que ali está há dezassete anos. Quando ele diz que "há muita coisa que precisa de ser rectificada", obviamente que está a se referir aos erros de planeamento da responsabilidade da Câmara. Mas são todos do mesmo partido político, são todos, ao longo dos anos, co-responsáveis pelo desastre urbanístico. Tudo aquilo não é obra do acaso, quando se sabe que, em tantas zonas de risco, gratuitamente, foram distribuídos materiais de construção através das juntas de freguesia ou de associações. Porque as habitações ficavam mais apresentáveis, isto é, não sujavam a paisagem.
"Há muita coisa que precisa de ser rectificada", obviamente que sim, mas também há uma responsabilidade política a apurar e essa pertence ao Povo, em 2011. Espero que percebam que a Região já não aguenta tanta incúria.

Sem comentários: