Resta ao Povo assegurar-lhe um lugar no museu da História Política, para que a memória perdure entre os vindouros, sobre a arte de governar sem sela, como prenúncio de fatal queda, quem por aí e assim cavalgue.
Já não consegue cortar o "nó górdio" dos nossos problemas. Parafraseando a lenda, eu diria que atou de tal maneira esta centenária carroça a uma coluna, que ele próprio, ansioso por resolver a complexidade em que se meteu, mais bloqueada a deixa. Deu um nó cego na política económica, social, cultural e autonómica que, quando mais tenta puxar por um fio, maior dificuldade acrescenta ao entrelaço, por ausência de estudo e racionalidade na busca da solução. Teimosamente, não consegue ouvir sequer as sugestões de quem, em redor, acompanha as frustradas tentativas. Orgulhosamente só, o governo regional, tenta e tenta, sem qualquer sucesso, o necessário e imprescindível corte com o passado. Esta insistência no erro, se há muito é preocupante, hoje, assume contornos suicidários. Aliás, a consciência que tenho é que o governo já não governa. Transmite a ideia de uma máquina velha, gasta, ferrugenta, sem possibilidade de integrar tecnologia recente, pelo que o criador bem tenta olear e manter uma atenção aos parafusos, porcas e roscas que, por aqui e ali, se vão desconjuntando. Resta-lhe, diariamente, apertar os mecanismos à medida que as folgas aparecem e pouco mais do que isso. Nada há a fazer em uma máquina em fim de prazo. Reciclá-la torna-se impraticável e impossível, por velhice e desajustamento nas respostas necessárias ao novo tempo. Resta ao Povo assegurar-lhe um lugar no museu da História Política, para que a memória perdure entre os vindouros, sobre a arte de governar sem sela, como prenúncio de fatal queda, quem por aí e assim cavalgue.
O momento é de indiscutível preocupação para todos os madeirenses e porto-santenses. A situação muito pouco agradável do País, no domínio das finanças públicas, podia e deveria ser contrabalançada com políticas consistentes e amortecedoras das implicações do programa de austeridade. O drama é que a Madeira regista trinta e seis anos de navegação à vista, sem instrumentos, à guisa de Alice que, não sabendo para onde ia qualquer caminho lhe servia, dando-se, agora, no meio do Atlântico, com gigantescas vagas de empresários aflitos, desemprego de tirar o sono, pobreza crescente, uma educação de rastos e facturas pregadas no tecto. Aqueles setecentos e quarenta milhões, que a tragédia de 20 de Fevereiro colocou à mercê, porventura não chegarão para o cimento a metro que, por todo o lado, anda a ser aplicado, como me dizia um Amigo, ao jeito de um "Tratado de Tordesilhas" para os lóbis da construção: tu ficas com esta ribeira e eu com aquela! É a expressão mais evidente de um titânico esforço para os actos inaugurais susceptíveis de mostrarem trabalho. Só que os seis mil milhões que o rol desta mercearia apresenta não serão apagados e os bancos já começaram a dar um claro sinal que isto não vai pela política de "factoring".
O problema é que as gentes da minha terra deixaram anestesiar-se, aplaudiram, comeram e beberam o veneno de uma política traiçoeira que sempre trouxe no seu bojo o maquiavelismo pintado de cores garridas, incapaz, face a "piedosas intenções" de dizer "sei que não vou por aí". Que bom seria, para sair deste remoinho, seguissem o Cântico de José Régio: "eu olho-os com olhos lassos, (há, nos olhos meus, ironias e cansaços), e cruzo os braços, e nunca vou por ali..."
Aproximam-se tempos de tragédia, de insuportável conflito. Pessimista, eu, não! Acredito, até, na teoria do conflito e da reprodução. Por isso mesmo, é tempo dos homens e mulheres de valor que esta Região tem, em muitos sectores, áreas e domínios de actividade, no mais puro acto de cidadania, assumirem, com coragem, a mudança que implica dizer: Basta!.
Nota:
Opinião, da minha autoria, publicada na edição de hoje do DN-Madeira.
Ilustração: Google Imagens.
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