Adsense

domingo, 25 de maio de 2008

EDUCAÇÃO ATRAVÉS DO DESPORTO (VII)

Continuação:
Regresso a Tofller e a uma sua curiosa entrevista publicada na revista Executiv Digest[1] quando se refere às escolas (leia-se universidades):

“(...) o Sistema Educativo assemelha-se a uma fábrica que produz informações obsoletas de forma obsoleta; não por não ter os manuais académicos actualizados, mas porque, simplesmente, não estão relacionados com o futuro dos estudantes. Se o modelo de produção que lhes é ensinado é a produção em linha, eles ficarão preparados para trabalhar em processos de rotina, repetitivos, que ignoram o indivíduo. Já foi moda, mas nos últimos 100 a 150 anos”. E diz mais: quando iniciou a sua actividade profissional o seu chefe “não queria o seu cérebro mas sim os seus músculos”.

Compaginada com esta asserção, afirmou, por exemplo, Tom Peters: “bem vindos ao mundo do soft e da massa cinzenta”.
Há, por tudo isto, muitas questões que deverão ser debatidas e esclarecidas. Por exemplo:

- Afinal, que paradigma organizacional escolar poderá satisfazer os direitos e anseios educativos mais legítimos dos alunos e dos encarregados de educação?

- Qual a responsabilidade da Escola no cumprimento do Artigo 79º da Constituição da República que salienta, no ponto 1): “Todos têm direito à prática do desporto”.

- Qual a responsabilidade da Escola no percurso para o alto rendimento, sendo certo que a excelência é um outro direito constitucionalmente assumido?

- Justificar-se-á, face às características da prática desportiva formal, a manutenção de turmas mistas nas aulas de Educação Desportiva?

- Qual o futuro das práticas físicas na Escola face ao desenvolvimento dos vários sectores e áreas de actividade, a um melhor esclarecimento das pessoas e à prevalência do informal sobre o formal?

- E para que serve, relativamente ao aluno, o processo de avaliação nas aulas de Educação Física?

- Por que motivo se assiste a uma clara disfunção entre os Sistemas Educativo e o Desportivo?

- Relativamente à substância do planeamento, qual a vocação e missão, que objectivos ou metas, que estratégias, que políticas e que procedimentos devem ser assumidos pelo governos e pela Escola?

São algumas entre um alargado rol de questões que devem ser elencadas e sujeitas a um grande debate nacional. Porque a função maior do desporto, na escola e também fora dela, porque não, é, como disse o filósofo Manuel Sérgio
[2], a de constituir-se como “projecto orgânico e dinâmico, devidamente enxertado no projecto-esperança que se ergue do humanismo contemporâneo”.
A Escola não deve colocar-se à margem destas preocupações de formação básica. Nem a Escola nem as instituições de governo e outras directa ou indirectamente relacionadas com a necessidade de encontrar uma matriz orientadora. Um debate que terá, necessariamente, de ultrapassar as paredes dos ambientes fechados onde normalmente acontecem. Quero dizer, concretamente, que os operadores públicos de televisão e rádio, ao contrário de serem contribuintes diários de uma catarse colectiva, devem assumir responsabilidades neste processo. Referi, isso mesmo, num livro que editei em 1997 (O Desporto no Operador Público de Televisão): "(…) o desporto, no operador público, tem de ser visto, também, como instrumento de educação e sendo os media, preferencialmente a televisão, um dos motores do desenvolvimento, se lhe exija um contributo no combate ao desporto que o País não tem, porque inorganizado e injusto do ponto de vista social".
Continua.
[1] Edição de Janeiro de 2001, pág. 23.
[2] A Prática e a Educação Física, pág. 95.

Sem comentários: