A baixíssima formação académica dos pais e encarregados de educação não me surpreende. Quem é docente sabe que assim é. Os que desempenharam ou desempenham funções de gestão intermédia num estabelecimento de ensino, quem foi ou é Director de Turma e elaborou a necessária caracterização da turma no início de cada ano lectivo, reconhece o drama que há muito se vive no interior dos estabelecimentos de ensino. Aliás, se compaginarmos os índices de pobreza na Madeira com os resultados da política de educação só podemos chegar a conclusões muito preocupantes. É inquestionável que, trinta anos depois de Abril, se um terço dos pais e encarregados de educação não possuem mais do que o actual 1º ciclo do Ensino Básico, é porque a política educativa não foi considerada prioritária. Construiram estabelecimentos de ensino mas esqueceram-se que tão importante quanto o espaço físico é o que lá se faz e porque se faz, bem como as políticas económicas, sociais e culturais a montante do sistema.
Por outro lado, é evidente que quando há pobreza a família não pode pensar no investimento na educação que é sempre de longo prazo, de vinte anos, no mínimo. Quando há pobreza a família é naturalmente empurrada para pensar ao mês, à semana e muitas vezes ao dia. Porque a fome não pode esperar, os bens de primeira necessidade não podem ficar para depois, a casa, a energia eléctrica, a água, etc. etc. têm prazos de pagamento. E sendo assim, entra-se cedo no mundo do trabalho, num círculo vicioso muito complexo e de consequências muito graves na arquitectura do futuro.
A ausência de formação académica e para a vida, a limitação cultural, a incapacidade para cruzar a informação e, entre outras, as necessidades do dia-a-dia geram, naturalmente, a falta de ambição, potenciam o comodismo e conduzem ao condicionamento do desenvolvimento. Aliás, não nos podemos esquecer que o desenvolvimento não é neutro e, por isso, não se pode separar a dimensão educacional da dimensão económica, social e cultural. Há, de facto, três dimensões inter-relacionadas que geram o desenvolvimento:
A dimensão económica, ligada à produção e distribuição dos bens;
A dimensão social, relacionada com as condições de vida e com as desigualdades;
A dimensão cultural, que tem a ver com o património cultural de cada um num sentido lato do termo.
É por isso que entendo que o desenvolvimento deve ser endógeno e integrado, resultado de considerações de ordem filosófica, ideológica e metodológica. O desenvolvimento tem pouco a ver com o crescimento do consumo de cimento. São aqueles três factores que permitem o desenho e a contextualização do desenvolvimento. Ora, façamos uma aproximação ao que se conhece da Região nos planos económico, social e cultural e chegaremos à conclusão que a pobreza dos resultados ao nível da formação dos pais e encarregados de educação é a consequência inevitável das políticas desintegradas que têm vindo a ser seguidas. Daí que, para já, estejamos num beco de difícil saída e não há congresso que consiga dar a volta à presente situação.
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