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quarta-feira, 16 de abril de 2008

EDUCAR ATRAVÉS DO DESPORTO (I)

A partir de hoje publicarei alguns excertos do livro "ANO EUROPEU DA EDUCAÇÃO PELO DESPORTO", editado, em 2004, pelo autor deste blogue.
(...) Buscando as razões mais profundas de um sentimento que se multiplica a cada ano que passa, encontro uma causa que explica, se não no todo pelo menos em grande parte, a desmotivação e a fuga dos professores para outros ambientes profissionais porventura mais estimulantes e gratificantes. As causas mais evidentes de tais desencantos situam-se, indisfarçavelmente, na desadequação organizacional das instituições e na concomitante incapacidade de resposta da Escola aos interesses de quem a frequenta quer como aluno quer como docente. São estas as razões, deduzo, de maior consistência para a procura de outros âmbitos de intervenção profissional. Aliás, recordo que este não é um sintoma novo. Já no longínquo ano de 1969, enquanto estudante, recordo-me e não me canso de amiudadas vezes repetir, pela profundidade das palavras, no decorrer de uma aula, julgo de Psicopedagogia, o Jubilado Doutor Paula Brito dizer qualquer coisa como isto:

“(…) Como pode uma escola sempre igual competir com a vida que é sempre diferente. O desencontro é inevitável”.

Esta expressão de um pensamento estratégico
, eu diria, revolucionário na época, exprimia e continua, apesar das mudanças introduzidas nos sistemas educativo e desportivo, a caracterizar a ausência de uma desejável sintonia entre o microcosmos escolar e um mundo que, como bem cantou António Gedeão, “pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança”. É esse desencontro, esse desfasamento, gerador de uma incontrolável angústia pela incapacidade de poder transformar, que está a conduzir e a estrangular vontades múltiplas no despontar de uma prática educativa escolar na qual, através do desporto, “cada um se sinta bem dentro da sua pele” como sintetizou Christian Pociello.
De facto, a Escola continua a não a responder de forma eficaz. A Escola pró-activa continua distante. A sua autonomia coarctada. O que dão com uma mão logo retiram com a outra. Consequentemente, o seu projecto educativo continua mais próximo das rotinas do passado do que das exigências que a conquista do futuro convida, pese embora, reconheço, as notáveis excepções resultantes do entusiasmado esforço militante de muitos professores. Daí que, a Educação Física, porque não constitui uma ilha dentro da sociedade e da Escola, como corolário, sofra duplamente: primeiro, pelo próprio ambiente interno, demasiadamente condicionador e dependente; segundo, pelo desadequado sentido organizacional, de gestão e de conteúdos que caracteriza aquela área curricular.
Daí que me pareça evidente que a Educação Física precise de ser desacorrentada, liberta das amarras trituradoras de qualquer veleidade. E porque assim penso, repito, este despretensioso texto tem por objectivo um contributo no desmantelamento de uma engrenagem velha e ferrugenta, a caminho de um paradigma desenvolvimentista assente em pressupostos de “valorização pessoal e social do ecossistema desportivo”, como caracterizou e bem o Doutor Gustavo Pires, no livro Da Educação Física ao Alto Rendimento. Mas sejam quais forem os posicionamentos dos leitores, este livro só pode ser interpretado como uma achega para o debate que urge. De resto, na esteira do pensamento do meu Amigo Dr. Nelson Mendes eu diria que “não inventamos nada, vamos talvez relacionando cada vez mais (…) tornando presente o ausente”. (Continua)

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