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domingo, 20 de abril de 2008

O ELOGIO DO TAMANHO DA REGIÃO

O Presidente da República, na sua visita à Região, quase todos os dias, teve a preocupação de sublinhar que não comentava atitudes político-partidárias, mantendo, assim, uma aparente distância entre a função de mais alto Magistrado da Nação e o desempenho dos políticos. Não gosto do estilo mas tolero. Não gosto porque entendo que essa história do distanciamento é uma treta. O Presidente foi eleito com um programa, é a primeira referência institucional do País, é o garante de um conjunto de obrigações que jurou cumprir e, portanto, não pode fazer de conta, não pode fazer que não sabe, enfim, não deve assobiar para o lado passando pelos verdadeiros problemas como gato sobre brasas. Mas, repito, tolero.
Todavia, tudo tem um limite. É-me difícil poder aceitar que o Presidente, ainda ontem, no jantar da despedida, a convite do Senhor Presidente do Governo, tenha feito um elogio do tamanho da Região ao político e às suas políticas, esquecendo-se, até como economista, que a situação da Região é gravíssima e que os indicadores gerais e sectoriais não abonam em função de um desenvolvimento equilibrado, harmonioso e sustentável. Dizer que "(...) o senhor pode orgulhar-se da obra que realizou ao longo de 30 anos da Autonomia", constitui um exagero e um eventual desconhecimento da realidade se, no outro prato da balança, tivesse tido o cuidado de colocar os graves problemas gerados com tais opções políticas. E não estou a falar dos constrangimentos à acção política que ele, na qualidade de Presidente de todos os portugueses e garante da unidade do Estado e do regular funcionamento das instituições democráticas, deveria garantir e actuar, no pressuposto que tais garantias não se esgotam nos actos eleitorais. Estou a falar de outras coisas.
Há obras bem pensadas, obviamente que sim. Outras, nem por isso. O Presidente deveria interrogar-se se com o mesmo volume de financiamento da União Europeia e dos Orçamentos de Estado, não teria sido possível um outro paradigma de desenvolvimento que não gerasse o caos na pobreza e na exclusão social, no desemprego e no domínio cultural, factores esses geradores de um futuro pintado em tons escuros. E aí o Presidente tinha a obrigação de assumir um discurso claro, inequívoco e corrector das políticas.
Depois, há qui uma questão de hipocrisia política. Ao longo dos anos, entre outros mimos, o Presidente do Governo Regional caracterizou o Professor Cavaco Silva de "tecnocrata, "político caloiro", ida para Belém como "nociva para o País", "cavaquismo só por cima do meu cadáver" e ontem, caracterizou-o como "um grande português, que tanto fez e faz pela pátria comum e que tanto ajudou e impulsionou na concretização de muitas das ambições e expectativas legítimas do povo madeirense". É por estas e por outras que o desempenho dos políticos enoja aqueles que pensam a política como um acto nobre, sério, honesto e transparente.

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