Não tenho acompanhado, momento a momento, o congresso do PSD-M. Nutro pouco interesse por rituais e por situações de repetição discursiva que nada adiantam. Aliás, ao ler a comunicação social de hoje, concluo que nada do que foi dito constituiu novidade. Apenas fiquei com o sentimento que aquela estrutura partidária parece estar em erosão acelerada face aos interesses em confronto.
Dois aspectos, no entanto, não me deixaram indiferente, por um lado, o paleio em redor da dita "sucessão" do maestro; por outro, a continuidade do tom ofensivo e desprestigiante aos partidos convidados presentes na sessão inaugural do congresso. E começo precisamente por aqui. Entre outras caracterizações, considerar-se o PS-Madeira, líder da oposição, como "aquela coisa caricata que anda para aí, aquele pé de chinelo sem qualidade nenhuma (...) aquilo é uma porcaria", é péssimo para a vivência democrática e desprestigiante para quem pronuncia frases daquela natureza. Ser contundente no plano discursivo é uma coisa, outra, é ser mal educado. Este tipo de discurso só passa em povos e políticos inferiores e nunca em povos e políticos cultos. Talvez, por isso mesmo, continue a ser utilizado como arma de pretensa superioridade e de intimidação. Mas tem, do ponto de vista histórico, os dias contados.
Quanto à "sucessão", palavra que transporta qualquer coisa de cunho político-hereditário, aí o problema é mais complexo para não dizer doentio. Ao colocarem o acento tónico discursivo nesta questão dão a entender que os pequenos poderes e respectivos beneficiários andam apavorados com a saída de alguém que, ainda assim, através da sistemática ameaça interna, mantém um certo controlo sobre a família. Mas há, também, uma deliberada intenção do líder em manter, complexificar e arrastar o tabú, essencialmente por dois sentimentos: por um lado, porque sabe que o tempo das vacas gordas está em dissipação e se aproxima um calvário para os madeirenses; por outro, mais do que qualquer museu ou estátua, o mentor desejar ficar na história, como... no tempo dele é que era bom! E este ambiente difuso faz parte da encenação.
E isto não deixa de ser preocupante pelo que se esconde para além do congresso, isto é, na vida real. De facto, a verdade desta Região está muito para além do que dizem. Está, sobretudo, no que não dizem.
A dramatização de nada valerá. O arquipélago está humanizado há 500 anos. Pelo poder passaram tantos e a terra continuou. Sabemos onde estão os que fizeram passar a imagem de insubstituíveis. Outros vão deixá-la, cheia de dívidas e com 80.000 pobres mas, como sempre, sobreviverá através de novos actores políticos, mesmo que hoje os considerem pé de chinelo e porcaria.
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