Ninguém assume responsabilidades. É como se nada estivesse a acontecer. Só quatro estabelecimentos de ensino da Madeira estão abaixo dos primeiros trezentos lugares do ranking dos resultados dos exames nacionais (76º, 191º, 209º e 274º). Todos os restantes entre o 346º e 596º posições. Isto é preocupante, muito preocupante. É evidente que coloco algumas reservas sobre a natureza dos ranking's. Temos de analisá-los à luz dos contextos sociais, económicos e culturais. Todavia, em abstrato, o escalonamento das escolas, concede-nos uma ideia geral de onde estamos. E é isso que há muito se revela preocupante. O Director da APEL, Dr. Marco Gomes, esse, pelo menos, teve uma atitude de grande sensatez e lucidez ao sublinhar que há, nestes dados e números, uma raiz social sendo, por isso, um tema que merece um estudo aprofundado. "Continuamos a ter escolas da Madeira entre as piores depois do investimento em infra-estruturas (...) é tempo de ver onde estão as nossas falhas". Infelizmente, com total irresponsabilidade política, o Director Regional de Educação, desvaloriza e pede "paciência", diz que o ranking é "redutor", que "a ilha limita os horizontes" (...) "acredita que a televisão e a Internet estão a esbater as fronteiras" (logo a televisão e a internet) e até há um director de escola que compara os alunos às vindimas, isto é, em anos de boa e de má colheita. O Director Regional até lamenta que "os dados sejam, primeiro, postos ao dispor da comuniciação social e não às instituições envolvidas", talvez porque, deduzo eu, o poder não goste da verdade e talvez porque o secretismo seja a nota dominante da Secretaria. Declarações desta natureza são de uma grande irresponsabilidade, repito, política, de fuga ao que de facto caracteriza, hoje, a Escola da Madeira. Trinta e dois anos depois.
Três décadas depois, num sistema autónomo, regionalizado, com uma Secretaria que tem um batalhão de pessoas a trabalhar a tempo inteiro, com todo o controlo que exercem sobre o sistema, não querer admitir o desastre é mesquinho e de políticos que não devem merecer confiança. E se falo assim é porque tenho o entendimento que estão a matar a escola pública e porque estão a hipotecar o futuro da nossa Região. Qualquer pessoa, com bom senso, que se dê ao respeito, com resultados destes e continuados, deveria colocar o seu lugar à disposição.
Estes resultados, infelizmente o digo, porque sou professor e porque sinto a Escola no meu dia-a-dia, embora desempenhando temporariamente outras funções, preocupam-me e não deveriam passar em branco. Há responsabilidades políticas num sistema que contou com estabilidade política durante 32 anos. Não se pode sacudir responsabilidades políticas locais para o Continente (afinal têm melhores resultados) nem comparar com os Açores (faz lembrar o menino que diz ao pai que perdeu o ano e logo adianta que o José, filho do merceeiro também perdeu!). Tiveram tudo para criar um sistema de sucesso, para serem inovadores, para irem ao encontro da sociedade, para criarem as condições de igualdade no acesso a um ensino de qualidade, mas preferiram, controlar o sistema e espezinhar os professores. A Escola, na dimensão educativa que ela deve ter está em falência. Os resultados provam-no. E a culpa não é dos professores. Genericamente, eles são vítimas não são culpados. Por isso, em qualquer Democracia séria, os responsáveis políticos já tinham arrumado a secretária e estariam de saída, porque, inequivocamente, o fruto colhido é consequência das opções e estratégias políticas.
2 comentários:
Talvez já tivéssemos uma resposta para as razões destes resultados se estudássemos os seguintes factores e variáveis (mas será que existe vontade para tal):
- Factores sociais como os hábitos, projectos e estilos de vida no seio da família, a linguagem, as atitudes face ao conhecimento e à escola, as condições de vida (alimentação, vestuário, horários), o acesso a bens culturais como livros, jogos e novas tecnologias, a zona de residência no que diz respeito às condições comunitárias de lazer, serviços e vida associativa.
- Factores directamente relacionados com as dinâmicas internas das escolas e com as políticas educativas, como, por exemplo, a estrutura do currículo escolar, os manuais escolares, os métodos de avaliação, a qualidade dos espaços e dos equipamentos escolares, a formação e a estabilidade do corpo docente, a dimensão das escolas e das turmas.
- As variáveis pessoais dos alunos (motivação, capacidades, atitudes em relação à escola e às aprendizagens).
- As variáveis pessoais do professor (competência científica e pedagógica, personalidade).
- As interacções educativas entre professores e alunos (comunicação, liderança, métodos de ensino e de avaliação).
- O ambiente relacional na escola (relacionamento interpessoal, dinâmica e trabalho em equipa, clima institucional, liderança e coordenação).
Já é tempo de sabermos onde está o problema!!!
Obrigado pelo seu comentário. Não poderia estar mais de acordo. Infelizmente, ninguém quer debater os itens que elenca no seu comentário. Todos eles são de uma grande pertinência. Só que não há vontade para tal.
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