Chocante a reportagem do DN-M: "(...) As lágrimas vieram aos olhos quando a conversa resvalou para a constatação: "É triste chegar aos 50 anos nesta situação, vermos que não temos nada". E a situação de 'Mónica' (nome fictício) não é para menos. Funcionária pública, marido desempregado, com um T2 no Caniço que vai devolver ao banco porque o seu ordenado não dá para pagar a prestação. Ganha cerca de 800 euros líquidos, sensivelmente o mesmo que a prestação bancária. Há um ano deixou de pagar a prestação ao banco e agora tem um prazo para deixar o apartamento (...)".
É este o drama que larguíssimas centenas de pessoas estão a enfrentar. Não apenas a habitação devolvida, mas a fome ou as fomes de muitas coisas básicas. As denúncias estão aí reflectidas, quase todos os dias, nas páginas da comunicação social, ora em discurso directo pelas pessoas directamente envolvidas quer através dos políticos que, a todo o momento, denunciam situações que deveriam envergonhar quem tem a responsabilidade de governar. O Diário, numa outra peça, caracteriza a este governo de "gestão regional"; eu diria que nunca como hoje se tornou necessário um "governo de salvação regional". O que se está a passar no âmago desta nossa sociedade é de uma gravidade extrema. O tecido social está apodrecido. Esta "laranja" de casca bonita por fora está completamente apodrecida por dentro. Aquele exemplo, o da família que nada tem, é apenas uma pontinha do icebergue das carências sentidas e afogadas em silêncios sem fim. Quando juntamos os dramas, quando à lupa cruzamos e analisamos a configuração desta sociedade, facilmente se conclui que estamos a caminho do caos. Estamos a arder em lume brando.
Não há aqui qualquer sentimento pessimista, derrotista ou partidário. É a noção da realidade, da factualidade dos inúmeros dados e dos testemunhos oriundos de pessoas e de instituições. Mas no dia em que é dada pública divulgação de mais um alerta, neste mesmo dia, o Presidente do Governo inaugurará mais um campo para a prática do futebol ainda por cima num concelho a braços com gravíssimas necessidades económicas, sociais e culturais. Trata-se de uma pouca-vergonha, de uma total ausência de sensibilidade social e de uma clara incapacidade para o exercício da governação.
Esta semana, refere o Jornalista Luís Calisto do DN, o (...) "único importante" político da Madeira voltou a alertar para o estado em que o país se encontra, naturalmente por culpa de José Sócrates e agora de Vital Moreira. Foi mais uma semana a secar terreno à volta do eucalipto - graças a um impressionante impudor político dos submissos corifeus de aldeia (...)". Exactamente isso, a culpa do desastre é sempre dos outros, nada temos a ver com a vida difícil da "Maria Cachucha ou com a do zé dos anzóis". Prioritário é falar com os dirigentes dos clubes com futebol profissional e gastar mais 31 milhões de euros no estádio do Marítimo. A fome que espere, os desempregados que não sejam malandros, os pequenos empresários que se façam à vida e a pobreza que se desenrasque.
É chegado o tempo de dizer basta a tudo isto. É tempo dos milhares de silêncios darem lugar a um grito de esperança. É tempo de muita gente ter vergonha em apoiar quem assim se comporta.
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