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sexta-feira, 15 de maio de 2009

A VISITA DO PRIMEIRO-MINISTRO

Há situações que, por momentos, envergonham qualquer madeirense que acompanhe o dia-a-dia político, sobretudo aqueles que têm a capacidade de cruzar a informação que vai sendo produzida. Ontem foi um desses dias. Senti-me envergonhado a propósito da presença do Primeiro-Ministro no Funchal. Com o mesmo formato de sempre, institucionalmente, o Presidente do Governo Regional, depois de tantos ataques discursivos mas agora com uma significativa dose de hipocrisia, resolveu dizer que o receberá de braços abertos, ao mesmo tempo que outros, em importantes espaços de intervenção política, zurziam forte e feito na figura que nos visita. Há em tudo isto um claro e intolerável jogo de ataque e defesa, de canelada e de desculpa. Falam de independência e logo depois de uma Pátria una e indivisível. Falam de cortes orçamentais mas logo a seguir inauguram ao mesmo ritmo de ontem, enfim, a mesma cantilena de sempre, a mesma táctica de um jogo feito a meio campo com muitas preocupações defensivas, mas com os olhos felinos, cheios de fome, no contra-ataque impiedoso, demolidor e politicamente enervante. Não há seriedade em tudo o que por aqui se a passa desde há muitos anos.
A pergunta que coloco é esta: como é que há pessoas que se prestam a isto? Precisarão desta total subserviência e deste apagão na consciência individual, ao ponto de se subordinarem a uma cartilha que aos olhos da razão é a antítese dos valores da honestidade e da vida e vivência democráticas? Faço minhas as palavras do sociólogo Dr. António Barreto que ainda há dias, embora num outro contexto, dizia que "somos pequenos, pobres e incultos". Só por aí se explica esta deriva, esta forma de estar e de arregimentar uma consciência colectiva em função dos desígnios de um partido. Isto leva-me a crer que gostam mais de si próprios e das benesses que usufruem (desde a Junta mais recôndita ao Governo) do que propriamente da Madeira e do seu Povo. Isto parece-me absolutamente claro. Porque a normalidade comportamental responsável não é ou não deveria ser esta, a da pressão permanente, do discurso por vezes boçal, da palavra desbocada que ofende e afasta, do discurso das meias verdades que desvia, sistematicamente, para o espaço Continental todos os males que aqui acontecem como se a Região não tivesse órgãos de governo próprio.
Não percebo sequer o alarido de vários anos pela ausência do Primeiro-Ministro. Então não existem canais institucionais próprios de negociação dos dossiês, ligações diárias aos vários ministros e secretários de Estado, não têm estes vindo à Madeira com regularidade, não têm os governantes locais sido recebidos pelas mais altas figuras do Estado, não há Deputados madeirenses nas Assembleia da República, as transferências do orçamento não tem sido operacionalizadas, não tem a Região órgãos de governo, enfim, o que é que acrescenta esta vinda à Madeira? Nada, rigorosamente nada. Tal como a de Jaime Gama. E tal como ontem na Assembleia Legislativa da Madeira, amanhã, o ataque continuará como forma de manter o "inimigo" externo.
É tempo deste governo governar e de deixar-se de mascarar as suas reais insuficiências.

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