“O céu é de quem o ganha; e o mundo de quem mais arrebanha.” Os arrebanhadores estão em alta.
Reality shows: a inevitabilidade da exclusão
Os reality shows, que as cadeias televisivas divulgaram a todo o mundo, são uma metáfora da realidade: a inevitabilidade da exclusão.[1] Esta não é uma possibilidade, mas antes uma certeza cuja confirmação é só uma questão de dias ou semanas e de saber quem será primeiro excluído. Não há forma de escapar e evitar a eliminação, de ser poupado à norma universal do descarte e rejeição. Não há regras nem receitas e também não é necessário fazer nada para merecer a condenação. É um destino inexorável como o da morte, que só podemos tentar manter à distância por algum tempo.
É assim que o mundo está hoje a ser estruturado: não para incluir e posicionar a maioria das pessoas dentro do sistema de realização e afirmação, mas para as atirar para fora, para o caixote do lixo e para o mais longe possível, criando ainda barreiras para se assegurar que elas não voltarão. O formato é ditado por uma minoria, já que, contrariando o que é propalado, a desigualdade de oportunidades é a carta marcada do aviltante e revoltante jogo de identidades contemporâneas. A sorte, a felicidade, a realização luzidia, a exaltação e a ostensiva riqueza de alguns são garantidas pela desdita, pela infelicidade, pela degradante humilhação, pela vergonhosa pobreza e pelo amargo barrar do caminho de muitos. E no tocante à liberdade o panorama é em tudo idêntico: ela conserva e acentua as marcas de uma mercadoria sempre escassa e distribuída de forma desigual, avidamente monopolizada.
Eis mais uma prova insofismável de que o modelo actual da sociedade da globalização, do mercado e consumo, ao contrário do que tanto propala, não só não é aberto a todos, nem de jure nem muito menos de facto, como resiste fortemente à sua extensão e alargamento. É expressão do insaciável e omnívoro apetite de uns quantos empoleirados nas alturas da riqueza e superioridade e do seu desdém e alheamento face à imensa legião de espoliados que não cessa de engrossar.[2] Uns poucos gozam de licença de exploração e saque dos muitos surpreendidos e atordoados que persistem em acreditar que a crise é uma inevitabilidade passageira que, para seu futuro bem, devem suportar no presente. Esta sociedade, ao fazer tais concessões aos primeiros e mentir descaradamente aos últimos, coloca-se à margem da cultura, da decência e da moralidade. Não adianta prometer ou querer ver o que não virá: a luz não brilha no fundo do túnel e não vai acender-se a pedido da premência dos desejos e necessidades. O apagão ético e estético está para durar, enquanto se mantiverem a cegueira e o desconcerto das vontades.[3]
“Feridos pela experiência do abandono, homens e mulheres desta nossa época suspeitam ser peões no jogo de alguém, desprotegidos dos movimentos feitos pelos grandes jogadores e facilmente renegados e deitados à pilha do lixo (...) Consciente ou subconscientemente (...) são assombrados pelo espectro da exclusão” – acusa Zygmunt Bauman.[4]
[1] A disfunção mais potencialmente explosiva do mercado neoliberal actual não é a exploração, típica da economia capitalista, mas sim a exclusão. É esta que origina os casos mais evidentes da polarização social, do aprofundamento da desigualdade e do aumento da miséria e humilhação. (Zygmunt Bauman, IDENTIDADE – Entrevista a Benedetto Vecchi, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2005, p. 47).
[2] Há um ditado das gentes trasmontanas que se aplica bem a esta conjuntura; reza o seguinte: “O céu é de quem o ganha; e o mundo de quem mais arrebanha.” Os arrebanhadores estão em alta.
[3] Mário Soares, ex-Presidente da República, acentua que estamos perante a mais grave de todas as crises: “crise moral, crise de valores ou melhor da falta deles, a negação da ética, (...), crise civilizacional, (...) a impunidade da corrupção, (...) numa sociedade individualista, egoísta e consumista, por excelência, em que conta, acima de tudo, o dinheiro – como supremo valor.” (Diário de Notícias, Lisboa, 21.10.2008)
[4] E, porque a voz dorida desses homens e mulheres não é ouvida, entregam-se à mudez, à apatia, à descrença e ao desespero, não surpreendendo que muitos vejam na “promessa fundamentalista de ‘renascer’ num novo lar cordial e seguro (...) uma tentação à qual é difícil de resistir”. Na ausência de uma alternativa de certo preferida, a “terapia fundamentalista (...) parece sedutoramente simples”. (Ibidem, p. 53-54).
Nota:
Continuação do texto do Professor Doutor Olímpio Bento.
1 comentário:
ACTO DE FÉ NUM LIDER QUE DESCONHEÇO.
Não sei se terei pachorra para entrar no jogo dos bloggers anónimos, nem sequer se o esforço vale o objectivo. Se não fora um “Da Purificação” que estivera à frente dum “ Terreiro da Luta “ e acolhe as palermices escritas por lá, e sendo o dito afinal um destro usuário da Palavra, o que me alegro por tal, certamente passaria ao largo, e contemplaria distraidamente,as cagarras várias que esvoaçam.
Pois bem .
Ainda hoje alguém ligado a comunicação, dita social, nesta Ilha dizia que os blogues começam a ser uma terceira força alternativa na informação. Queixava-se no entanto o dito , dizendo que nestes espaços se lança o insulto gratuito, a verborreia a leilão, deixando um rasto de calunias e meias verdades, sem possibilidade de réplica, pois mal esguichado o espirro,retira-se a pluma para a fossa comum. Assim é de facto, e pode-se facilmente constatar. Mas é o preço a pagar pela chamada “ liberdade de opinião”, embora essa liberdade tenha anexado as responsabilidades civis e criminais de quem as lança., quando são infundadas e tremendamente injustas. Nunca há que esquecer também esta faceta legalista, pouco usada ainda entre nós, é certo, mas contemplada nos códigos da Republica que nos encoberta.
Vamos então colocar como hipótese que o AJJ anda há anos tentando saber duas coisas; se nas profundezas dos oceanos que nos cercam há petróleo, logo uma fonte “ milagrosa de auto-sustento” económico, e se é viável a sua exploração. Na havendo, ou pelo menos não tendo acesso a essa informação na posse dos grandes grupos exploradores que esses sim têm as ferramentas de o confirmar ou desmentir, e obviamente não o fazem, quais as outras alternativas para que este conjunto de Ilhotas perdidas no Oceano em paralelos africanos, se autonomizem e tenham os meios económicos sustentáveis para levar por diante uma autodeterminação ampla, ou mesmo uma Independência, da Nação Europeia que nos “ ampara” há séculos.
È do conhecimento publico que durante anos foram sondadas as comunidades madeirenses no exterior, e suas capacidades de resposta neste assunto.
È também de conhecimento publico as mil e uma sem-razões que a Republica Portuguesa , ao sabor dos mais variados Governos limitou, por razões diversas, mas nem sempre esclarecidas, as tentativas de uma real e justa Autonomia, somente atenuada nos últimos 20 anos pela União Europeia , e o sábio aproveitamento que fizemos nesta Ilha das verbas postas ao nosso dispor, mas não entregues de mão beijada. Foi necessário equipas de juristas , economistas, engenheiros e muita perícia técnica -financeira para as rentabilizar no tempo e no espaço, e sob condições controláveis pelas autoridades comunitárias. Ao contrário do chamado Continente, aqui isto é um facto. Era agora , ou nunca. PONTO .Pode-se discutir à posteriori se isto ou aquilo foi ou não acertado, ou quem beneficiou particularmente destes investimentos. São conhecidos de todos, aí estão. A cada um deles gerir essas fortunas face à comunidade onde estão inseridos.
Posto isto, e de uma maneira genérica, admitamos que a era pós-20013 já muito cerca, nos faz visionar um cenário de encruzilhada, onde uma vez mais passaríamos a depender ainda mais da Republica Portuguesa, sem ter ao nosso alcance as ferramentas jurídicas -constitucionais que nos permitissem , de uma maneira efectiva e actuante, lançar o desafio da nossa maturidade como Povo, sem enveredarmos por labirintos traiçoeiros, cujas consequências sociais seriam desastrosas, se não fossem ajuizadas com saber e muito sentido comum. E isto requer muito conhecimento, muitos enlaces, muitíssimos contactos. Muitos interesses a despertar, outros a sobrepesar, mas todos a considerar. O objectivo final seria garantia dentro das humanas previsões o futuro a longa prazo de uma Pátria que se afirma, a Pátria Madeirense.
Sem vos maçar muito, vejamos quais as primícias já reunidas para uma possível operação do “Grito da Liberdade”:
Um Território, com fronteiras naturais, sem conflitos de vizinhança.
Um Líder que mal que bem, unificou a maioria da População que habita esse território, e pode na devida altura ser o elo de consenso e união, marcando a vontade colectiva na sua grande maioria. Mesmo parecendo folclore foi esse o objectivo nestes últimos 30 anos, invertendo as atitudes de desprezo pelo Madeirense, para o orgulho de ser Madeirense , mesmo com as diferenças que nos marcam. Que muitas vezes nos distanciaram, mas que nos caracterizam, mesmo se isso nos faz apelidar de “ Povo Superior”.Queiramos ou não, não há outro líder que não seja AJJ. Podem cobrir-se de cinzas, espernear, argumentar enraivecidos, mas sem ele, tanto o PSD-M como a chamada Oposição,e isto escrito nos princípios de Maio de 2009, não têm capacidade de mobilização. PONTO.
Além disso, e aí está, dotamos-nos de portos, cuja finalidade ainda não está bem determinada. Mas ao construíamos com 80% de ajudas externas, ou construíamos neste contexto e espaço, ou nunca ,possivelmente.
Idem para as estradas, túneis, caminhos,e veredas, avenidas e habitação social, escolas , dispensários e centros de saúde, hospitais e clínicas, sem esquecer todas as obras anexas aos serviços sociais, muitos deles anexados à Igreja maioritária do nosso Povo. Factos.
Exportamos, pelas mais diversas razões o que melhor temos, por impedimento de os ocupar dignamente nesta Ilha ; O Madeirense, por norma, empreendedor e persistente.
Consequentemente, colonizamos , nós também, outros locais e Povos. Na devida altura influenciaremos, e já o estamos a fazer, as decisões politicas, diluindo pequenas Madeiras entre continentes,marcando a diferença da Nação Colonizadora agora presente entre Nós. Somos um elo de comunicação diferente, com os Povos ex-colonizados, pois sabemos o que é ainda estar colonizado. Que o digam os Madeirenses na Angola actual, e na diferença de trato que são beneficiários do Povo Angolano.
Temos uma Comunidade na Emigração das mais pujantes e acolhe-mo-los com toda a fraternidade quando as condições são adversas nos seus locais de residência. Escutem os Madeirenses -Venezuelanos, que ainda permanecem entre nós. Até já falamos “ mirês “.
Das equipas da construção saíram técnicos e pessoal especializado que agora começam a operar muito além das fronteiras nacionais. Deixarão as sementes, e frutificará a influencia para outros mais empreendimentos. Somos bons naquilo que fazemos, pois hemos feito na nossa própria Terra. Com são orgulho, mas de cabeça levantada. Longe vão os tempos do “Vera Cruz” e do “ Santa Maria” e da malinha de cartão na mão.
( continuação)
Mas isto ainda é insuficiente , embora imprescindível, para qualquer acção neste sentido, como é óbvio.
O que não temos:
Meios de sobrevivência sustentável. A tal economia tão fugidia e imprevisível num mundo global, onde se notou alguma ignorância daqueles que tanto doutoravam com as suas certezas.
A nossa maior industria, se o é, o Turismo,é volátil. Que o diga esta crise económica , e a chamada gripe A.
Importamos o que comemos, pescamos pouco e mal, cultivamos o que podemos, e depois de uma distribuição e procura de água, na qual gastamos muitos meios postos ao nosso dispor, continuamos a ser deficitários num contexto de consumo a médio espaço.
Exportamos pouco e mal. As guerrilhas entre concorrentes corroem a maioria das propostas no sentido de abarcar maior quota de mercados, e no caso da banana, é patético o que está acontecendo.
Não temos certamente consensos entre fracções politicas. Lamentavelmente, diga-se. Poucos foram e são aqueles que interpõem os seus interesses imediatos e muitas vezes privados, ao serviço da Causa Comum. As razões são variadas, mas todas poderiam ter tido solução, desde quando e sempre houvera um objectivo comum a atingir, no médio e largo prazo. Não havendo, houve que deixar essas facções se auto-mutilarem, até ao esgotamento paralisante. Estamos nesse ponto, o que não é aconselhável, mas necessário .Dessas cinzas surgirão certamente os novos Félix que compreenderão o Objectivo Final, e certamente marcharão lado a lado , no momento oportuno.
Longo vai o comentário, e podíamos continuar, com boa-fé e sentido comum a tentar reflexionar mais além da aldraba que nos impede ver para além do nosso próprio nariz, e análise dos nossos umbigos narcisistas.
De que comentavam os Cavalheiros ? Das despesas de quem ? E das “ amantes de que “ e “quando “ ? Das viagens “ secretas” e dos gastos provenientes do Erário Publico, é?E se justamente tudo isso fora por uma Causa do nosso próprio Povo, numa tentativa quase angustiante para Lhe encontrar uma saída neste beco de 500 anos ?Onde ficarão as “ D. Elias”, as reles a malvadas insinuações, as intrigas e vómitos, se tomamos por hipótese, tudo fora para clarificar, preparar, arquitectar, todo o Destino de um Povo que sempre teve nas nações Longínquas os naturais acolhedores deste Povo? Enquanto isso a Republica que ainda nos tutela,nos escarnecera, e escarnia. marginalizava,e marginaliza,como gente menor, com a altivez de um ex- Império de pacotilha disseminado pelos quatro cantos do mundo, agora enrugado e envelhecido, deixando já de parir crias para seu próprio sustento, tentando tragar o que ainda lhe resta de cauda vampiresa.
Para descanso das almas penadas, e outras andorinhas viajantes deste espaço; sou do PSD-M, sou do PS, adiro a todas as correntes e discursos, suporto malandros engravatados, ladroes com anel de licenciados, jornalistas lambões de gamela, comunistas, fascistas,empregados, desempregados, livres, com ou sem avental, desde sempre e quando sejam no momento exacto do encontro com a Historia, MADEIRENSES. Serão, são, meus irmãos de uma Causa Comum. Entretanto, divirtam-se, mas sempre com sentido-comum.
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