Nada justifica, a não ser a falta de senso e a ânsia de todos os dias ter alguma coisa para inaugurar (há nisto qualquer coisa de patológico), que o futebol, sobretudo o de natureza profissional, aos olhos da opinião pública, seja considerado uma prioridade. Não estão aqui os valores de uma e de outra obra, se considerarmos os 40 e tal milhões para o estádio do Marítimo e os valores que estão em causa para pôr a funcionar uma infra-estrutura hospitalar. O que está aqui em causa é como se olha para as coisas, como delas se fala e como se publicitam estas iniciativas. Chega a ser pornográfica a leviandade com que se derrama dinheiro em iniciativas que não constituem uma prioridade social, em relação a outras reclamadas pelas pessoas, pelos técnicos e pelos políticos mais atentos.
Este Hospital Central, ou melhor, os hospitais da Madeira estão a rebentar pelas costuras. Todos sabem disso. Não há dinheiro para nada. Assoberbados de dívidas e que são do conhecimento público, agora, até material de uso corrente vai faltando, sendo necessário que os serviços, com muita boa vontade e espírito de entreajuda, vão colmatando as insuficiências de uns em relação aos outros. Enquanto isto acontece, falam de futebol, de transferências milionárias, de uma fugaz passagem por uma competição europeia, de dinheiro, muito dinheiro para realizar um "campeonato regional" travestido de série nacional de uma qualquer divisão, falam de boca cheia como se nada se estivesse a passar no seio das famílias madeirenses, já não falo sequer daqueles que vivem nas margens dos direitos sociais, mas daqueles que convencionámos designar por classe média.
Há muita maldade por aí e muita gente a fingir aquilo que não é e, porventura, nunca foi. Passam pela sociedade como homens de solidariedade, homens de bem, homens que alardeiam um sentimento de benfeitor, fazem voluntariado, pertencem a organizações de caridade, têm acesso aos centros de decisão onde podem influenciar comportamentos e atitudes políticas, mas preferem o silêncio, a medição das palavras, os salamaleques perante o poder político e o económico, que mais parecem travestis desta trágico-comédia regional.
O problema agora é saber como se sai desta teia quando, hoje, mais um capítulo da novela "Os Delfins" dá a entender que estão todos mergulhados numa relação azeda a avaliar pelas palavras ditas. E ninguém pode esperar que nada de bom dali saia. A lógica que ali preside é idêntica à do Partido Revolucionário Institucional (PRI) que liderou, hegemonicamente, o México entre 1929 e 2000 (81 anos). Os princípios são os mesmos (poder e mais poder) e a atitude mental é idêntica à mexicana.
Ora, a solução para a Madeira não passa por aí, mas pela mudança substancial dos comportamentos políticos. E isso necessita que a Região, todo o seu Povo, tome consciência que esta terra que amamos só pode ter futuro se mudar de paradigma, o que implica outras pessoas, outros actores políticos, que apareçam sem manhas, com as mãos limpas, com inovação, com criatividade e com um alto sentido de responsabilidade. Acredito que é possível, acredito que este povo saberá se "levantar do chão" e tomará nas suas mãos o seu destino, distante de intermediários (os novos colonos) que tornaram a Região insustentável no número de desempregados e de pobres.
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