Não constitui novidade o facto do Hospital Dr. João de Almada encontrar-se numa situação de ruptura, derivada do facto de ter sido desvirtuada a sua função de unidade da Rede de Cuidados Continuados em um lar de apoio às designadas altas problemáticas. E, num lar, explicou ao DN Juan Carvalho, líder dos enfermeiros na Região, a necessidade de enfermeiros não é a mesma do que num hospital. "Não há doentes, mas utentes. Só que estes utentes não têm as mesmas características dos idosos que estão noutros lares, não têm autonomia, não vão passear, muitos não conseguem comer sozinhos. Algumas destas pessoas precisam de cuidados constantes, têm dependência de 80% ou quase a 100%". Ora, é precisamente aqui que o problema se coloca.
Para mim é chocante verificar a diferença entre o discurso político e a realidade. Chocante constatar que um governo que se diz social, depois de tantos anos de governação, depois de tantos alertas quer na Assembleia quer através da comunicação social, se mantém insensível ao drama dos idosos, dos acamados, dos que não têm família ou por ela são negligenciados. São mais de 700 aqueles que esperam por um lugar num lar de natureza pública. Muito grave é ainda constatar-se que os considerados no rol das "altas problemáticas" ocupam, indevidamente, por incapacidade governativa, um espaço cuja vocação não é aquela para a qual neste momento está destinado. Isto é espantoso quando em causa está o discurso político de boca cheia, como se todos fossemos cegos ou uma cambada de mentecaptos!
Mas a vergonha não se fica por aí, a maior vergonha está nos injustificáveis gastos (não investimentos) em projectos que deveriam se situar na primeira das terceiras prioridades, entre outras, concretamente, os milhões em estádios e equipas de futebol profissional.
Dói constatar que nem no Outono da vida muitos não são minimamente respeitados.
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