Toda a gente sabe que os políticos menos bem intencionados são hábeis em desviar as atenções daquilo que realmente é importante. Há sempre um fait-divers desenhado para tentar distrair. Nestas manobras de diversão o Senhor Presidente do Governo é doutorado. Ele sabe como criar o facto, como geri-lo e recolher os dividendos. O almoço previsto para o dia 19, na Quinta Vigia, certamente pago com os nossos impostos, com o presidente do Marítimo, o treinador e o capitão de equipa, constitui uma dessas encenações. O repasto não foi marcado para um ou dois dias depois da tal declaração onde sublinhou o necessário "saneamento" de jogadores, mas para quinze dias depois. O objectivo, está fácil de perceber, é o de fazer render o peixe.
Ora, o Presidente não se desloca ao Parlamento para discutir a gravosa situação do desemprego, a situação caótica em que se encontram as contas públicas, o estado da economia da Região, o drama da avassaladora pobreza, a aflitiva situação de uma grande parte dos empresários, as dificuldades orçamentais do sistema de saúde, o problema do turismo e dos transportes, enfim, nada disto para ele é importante relativamente ao que se passa no mundo do pontapé na bola. Melhor dizendo, o Presidente chuta para a frente e desce ao nível do peão.
Já em tempos aqui transcrevi uma passagem de um texto (irónico) do sociólogo Lucien Romier (1885-1944): "uma equipa de futebol por cada 1000 habitantes e o problema social estará resolvido". Não sei se o Presidente leu este texto do citado sociólogo mas conhece o comportamento das massas. Ele sabe, porque assumiu há muitos anos, que a longevidade do seu governo dependeria do controlo sobre a Igreja, a comunicação social, o sistema educativo (professores) e sobre o desporto (futebol). É precisamente isso que está a acontecer.
Considero, assim, que este repasto envergonha uma Região quando nos dois pratos da balança colocam-se, em um lado, as responsabilidades do Governo nas múltiplas áreas da governação, no outro, a prioridade dada ao futebol profissional. Mais importante seria, já que tanto interesse nutre pelo desporto, que tivesse um almoço de trabalho para tratar de saber da pouca-vergonha de um desporto escolar à míngua de apoios que possibilitem desenvolver o respectivo sentido educativo.
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