"(...) No vocabulário ‘reformista’ do quotidiano entraram, estão muito na moda e usufruem de alta cotação novas palavras e expressões: ‘criatividade’, ‘inovação’, ‘flexibilidade’, ‘adaptabilidade’, ‘modernização’, ‘aprendizagem para a mudança’ etc. Estes termos camuflam as suas verdadeiras motivações e intenções e escondem a velhice e velhacaria da maldade. ‘Convidam’ as pessoas a deixar de ser o que são e a tornar-se naquilo que ainda não são, a aderir ao veloz e voraz e a rejeitar o estável e durável, a apreciar o frenesim e desdenhar da serenidade, a optar por ligações frouxas e ligeiras e por parcerias e compromissos que possam a toda a hora ser revogados e abandonados. Despromovem a incapacidade, a defeitos e a factores de prejuízo e insucesso os conhecimentos e saberes sólidos, a vinculação e fidelidade ao profundo e consistente, as atitudes e comportamentos louváveis, as habilidades e virtudes confiáveis. E promovem a competências, a mais valias e requisitos desta hora a disposição para destruir o que está feito e quem o fez, o apego à superficialidade e leviandade, ao postiço e movediço, às aparências e simulações, ao frágil, efémero e supérfluo, ao passageiro, fugaz e instantâneo, ao plástico e ao reciclado, a adesão à volatilidade e à inevitabilidade da desagregação e fragmentação da vida, da sociedade e das suas instituições. A dinâmica do transitório e ilusório subjuga o perene. Enfim, agora vale a propensão para a flutuação de posições e opiniões, para deitar fora visões do mundo e confiar na desordem e espontaneidade, para aceitar e encarar “as novidades como inovações, a precariedade como um valor, a instabilidade como um imperativo, o hibridismo como riqueza”.
Avisadamente Zygmunt Bauman anota ainda: “’destruição criativa’ é a forma como caminha a vida líquida, mas o que esse termo atenua e, silenciosamente, ignora é que aquilo que essa criação destrói são outros modos de vida e, portanto, de forma indirecta, os seres humanos que os praticam. A vida na sociedade líquido-moderna é uma versão perniciosa da dança das cadeiras, jogada para valer. O verdadeiro prémio nessa competição é a garantia (temporária) de ser excluído das fileiras dos destruídos e evitar ser jogado no lixo. E com a competição se tornando global a corrida agora se dá numa pista também global”.
Ao cabo e ao resto, vivemos num tempo da pulsão da morte, em que esta, travestida de exclusão social, chega despida e nua antes da hora esperada, anunciando a sua presença irrevogável, apanhando as vítimas indefesas e acocoradas e proclamando o imperativo de nos acostumarmos e conformarmos à sua banalidade. Não vale a pena a imaginação humana procurar concorrentes e alternativas para ela. É deste jeito feio, medonho e grotesco que funciona hoje o mundo real. Sim, a exclusão dos outros tornou-se uma verdade banal, interiorizada e objectivamente praticada, mas que no entanto, talvez devido a alguma réstia de decoro ou vergonha ainda escondida, evitamos formular de maneira clara, inequívoca e explícita: as pessoas tentam excluir outras pessoas para evitarem serem excluídas (...)".
Avisadamente Zygmunt Bauman anota ainda: “’destruição criativa’ é a forma como caminha a vida líquida, mas o que esse termo atenua e, silenciosamente, ignora é que aquilo que essa criação destrói são outros modos de vida e, portanto, de forma indirecta, os seres humanos que os praticam. A vida na sociedade líquido-moderna é uma versão perniciosa da dança das cadeiras, jogada para valer. O verdadeiro prémio nessa competição é a garantia (temporária) de ser excluído das fileiras dos destruídos e evitar ser jogado no lixo. E com a competição se tornando global a corrida agora se dá numa pista também global”.
Ao cabo e ao resto, vivemos num tempo da pulsão da morte, em que esta, travestida de exclusão social, chega despida e nua antes da hora esperada, anunciando a sua presença irrevogável, apanhando as vítimas indefesas e acocoradas e proclamando o imperativo de nos acostumarmos e conformarmos à sua banalidade. Não vale a pena a imaginação humana procurar concorrentes e alternativas para ela. É deste jeito feio, medonho e grotesco que funciona hoje o mundo real. Sim, a exclusão dos outros tornou-se uma verdade banal, interiorizada e objectivamente praticada, mas que no entanto, talvez devido a alguma réstia de decoro ou vergonha ainda escondida, evitamos formular de maneira clara, inequívoca e explícita: as pessoas tentam excluir outras pessoas para evitarem serem excluídas (...)".
Nota:
Excerto de uma texto do Professor Doutor Olímpio Bento. Para reflectir.
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