Adsense

sábado, 21 de novembro de 2009

ADVERSÁRIOS E INIMIGOS

Acabei de escrever o meu artigo de opinião para o Diário de Notícias, cuja publicação está agendada para o dia 26. Nele desenvolvo um determinado raciocínio, baseado na frágil democracia que, por aqui, ainda temos. Curiosamente, esta manhã, li um artigo do Dr. Francisco Gomes, inserto no Jornal da Madeira. Compagina-se, a espaços, com o que escrevi. Com uma diferença, enquanto o articulista do JM despacha para o Continente os males da intolerância democrática, eu situo-os na Região Autónoma da Madeira. Ora, diz, o Dr. Francisco Gomes:
"(...) Existe, em Portugal, uma tendência infeliz para confundir adversários políticos com inimigos e diferenças ideológicas com guerras pessoais. Existe, também, uma outra propensão para avaliar a qualidade de uma proposta ou iniciativa exclusivamente tendo em consideração o partido ou grupo social que a sugere. Na minha perspectiva, estes hábitos são contraproducentes por duas razões diferentes.
Por um lado, impedem o desenvolvimento espontâneo dos debates sociopolíticos e a consideração objectiva das diferentes ideias que neles emergem, levando muitos dos seus intervenientes a pensar que o que outrem faz, apenas porque provém de outro partido ou organização, está mal por definição. Esta não pode ser a postura de quem escolhe estar na política. Uma boa medida ou um bom projecto ou são bons para o país e para os cidadãos ou não o são. Se são, há que os apoiar. Se não são, há que criticar e apresentar alternativas (...)".
Embora o autor destas linhas fale de Portugal (gostaria de acreditar na intenção de querer envolver as regiões autónomas) todo o articulado situa-se, porém, no contexto continental do que propriamente aqui, daí que eu seja levado a considerar que o seu texto tenha objectivos que isolam a Madeira. Se assim não é, como compreender o facto do primeiro-ministro debater, quinzenalmente, a governação, haver debate sobre assuntos de "oportunidade política", os deputados subordinarem-se a um regimento democrático, não castrador da palavra e, entre outras possibilidades, a Assembleia poder promover comissões de inquérito, etc., e aqui tal não seja possível! Aqui, a prática normal é a do chumbo a tudo e "ouvidos de mercador" a todas as propostas dos partidos da oposição. Não há adversários, há inimigos. "Inimigos da Autonomia", como já foi dito.
Agora, em abstracto, independentemente de ser conhecido o posicionamento político do Dr. Francisco Gomes, aquele excerto do seu texto tem a minha total concordância. Só que é preciso olhar e reflectir sobre o comportamento político local, enquanto região autónoma e com órgãos de governo próprio para que o produto da escrita possa contribuir, pedagogicamente, para uma práxis política melhor.

Sem comentários: