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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A DIFICULDADE PARA CHEGAR À CHAVE...

A Região Autónoma da Madeira passa por uma fase muito conturbada nas suas finanças. A situação é de reconhecida aflição para encontrar meios que possibilitem "desencalhar" a nau. Tanto assim é que o Presidente do Governo Regional da Madeira, de resto sem qualquer novidade, já admitiu que os próximos dois anos serão muito difíceis e que vão obrigar a repensar o planeamento do seu Programa de Governo, apresentado em 2007. Melhor dizendo, o programa apresentado em 2004, uma vez que, nas eleições antecipadas de 2007, o programa proposto e assumido foi o de 2004. Por isso, à luz da história deste processo, a aflição não é uma questão nova. Há vários anos que a Oposição vem alertando para os erros da governação, consubstanciados na peregrina ideia de que "com dinheiro faço obras e com obras ganho eleições".
O problema é que as ditas obras físicas foram concretizadas, mas, paradoxalmente, a população ficou mais pobre. Não é apenas a questão do desemprego (embora seja mais estrutural do que conjuntural) mas a pobreza que alastrou e a mentalidade que estagnou. Há, em tudo isto, um efeito de soma, isto é, as aflições orçamentais vêm de longe e são a consequência de um ultrapassado e inadequado modelo económico. Tem razão o Deputado Dr. Carlos Pereira (PS) quando sublinha que é "um paradoxo andarmos há dois anos a ouvir Jardim dizer que iria resolver os problemas, daí ter provocado eleições antecipadas, para agora ele dizer que os próximos dois é que serão complicados. É uma burla, uma mentira vendida aos madeirenses e que agora estão a pagar" (...) a situação difícil da economia regional arrasta-se desde 2000, quando a Região começou a perder ritmo de crescimento, "porque deixou de ter capacidade de investimento e começou a endividar-se significativamente que é pago pelo orçamento regional". A acrescer, houve "uma má negociação dos fundos comunitários".
Esta é a realidade, por isso, não colhe a argumentação do presidente do governo, transmitida no artigo de opinião do JM de hoje, que "(...) se tivéssemos ido na “conversa” de “mais subsídios” para aqui, “borlas” acolá, mais uns euros para este e para aquele, mais despesa pública de mero consumo, não teríamos as disponibilidades, nem o aproveitamento dos Fundos Europeus, que permitiram a inadiável prioridade de modernizar o arquipélago, de construir o que era preciso fazer para criar novas, merecidas e justas condições de vida ao Povo Madeirense. Não cedemos à demagogia fácil e eleitoralista, a qual nos teria deixado tão mal como estávamos no início do período autonómico".
Ora, a questão não é essa, de mais subsídios e borlas, quando é conhecido o volume da subsidiodependência que atravessa toda a sociedade madeirense. E se houve demagogia e movimento eleitoralista, está aos olhos de todos que o governo, nessa matéria é, indiscutivelmente, o campeão e principal visado. Portanto, o problema é outro, foi e é de incapacidade para alterar o paradigma económico, foi e é de planeamento ajustado às necessidades, foi e é de crescimento e desenvolvimento sustentáveis, foi e é de paradigma educativo e foi e é de ceder à megalomania em detrimento das prioridades em todos os sectores e áreas de actividade.
Consequência do modelo económico e da rigidez partidária, hoje, a obra física não acompanha o nível económico, social e cultural da população. Estamos mais pobres, mais dependentes e sem capacidade para reagir às adversidades. Confrontamo-nos com uma população, com idades entre os 20 e os 40 anos, com baixa escolaridade e capacidade profissional que possibilite enfrentar com esperança os próximos tempos. Entrámos, infelizmente, em um círculo vicioso ou num puzzle onde faltam sempre peças para encaixar o sentido do desenvolvimento.
É por isso que venho, sistematicamente, a questionar as opções de política educativa, por entender que estas são determinantes no nosso futuro colectivo. E (re)começar agora implica ter a serenidade de esperar, no mínimo, 15 anos para que possamos dispor de uma geração mais aberta e preparada para a conquista do mundo.
Foto: Google Imagens.

2 comentários:

Roberto Pereira disse...

Não de estranhar a dificuldade. No Continente os socialista agem contra a crise com recurso ao déficite (já vai nos 9% do PIB) e no endividamente crescente (os pedidos de reorçamentação de empréstimos da República batem no tecto).
Mas para a Madeira, vão exigindo que se ataque a crise com base em ... endividamento zero. Ou seja, com o mesmíssimo orçamento que antes.
O mesmo?
O mesmo não. Pois a LFR tratou de cortar mais algumas centenas de milhões.
É o garrote...
E ainda vão dizendo (leia-se Carlos Pereira) que não existe.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Quer pelos relatórios do Tribunal de Contas quer ainda as análises locais, o problema da Região nunca foi a famigerada LFR mas uma política de "investimentos" que não teve em conta o desenvolvimento sustentável da Região.