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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

ESTAR NA ESCOLA NÃO É O MESMO QUE ESTAR NA PRAIA, NEM A ESCOLA É UM SALÃO DE FESTAS

Ontem, a Jornalista Ana Correia (DN) colocou-me três questões sobre a existência de uniformes e/ou batas no sistema educativo público. A sua peça jornalística, onde constam oportunos depoimentos de encarregados de educação, pode ser lida aqui.
Deixo as questões colocadas e as respectivas respostas.
1) Porquê defender o uso de fardas nas escolas? Acha que é uma medida que esbateria as 'diferenças' e os 'nichos' que se criam entre alunos?
No Regime Jurídico que propusemos há aspectos muito mais importantes do que os uniformes. De qualquer forma, já existem no sector público e todo o ensino particular há muito que têm o seu uniforme. Que razões levam a que o sector público seja diferente do privado? Devem é existir apoios para isso?
Só quem entra numa escola e vê o que por lá acontece, mormente, as formas de vestir pouco adequadas com a idade e com a instituição. Estar na escola não é o mesmo que estar na praia nem a escola é um salão de festas. Não se trata de qualquer autoritarismo nem de uma política de rebanho mas, a escola, deve dar sinais de igualdade e não permitir que uns sejam mais iguais do que outros. É evidente que qualquer medida deve ser integrada e conjugada com outras. Há dias, uma aluna, dizia ao Jornal Público que concordava pois assim não tinha que se preocupar com a roupa que traria para a escola e a própria Confederação Nacional de Pais apoia no sentido do esbatimento das desigualdades.
2) Seria uma medida a aplicar apenas no 1º Ciclo ou em todos os níveis de ensino?
Todos os graus de ensino. Os jovens sabem que a desigualdade existe. O que não deve é a escola ajudar nessa diferenciação. A educação também passa um pouco por aí. Eles devem diferenciar-se pelo seu rigor e empenhamento no estudo e não pela marca da camisa, da t-shirt ou das calças, do telemóvel ou dos ténis “adidas”, que muitas vezes conduzem à identificação junto de um grupo que relega os restantes. Pelo menos na escola são iguais. É evidente que o fracasso do sistema educativo não se deve ao uso ou não de uniformes, apenas esta pode ser mais uma peça de um complexo “puzzle” que poderá potenciar uma melhor escola. Acredito que um dia, com uma outra mentalidade e estádio cultural isto não faça sentido, por agora, torna-se necessário.
3) E os professores também deveriam usar batas?
Obviamente que sim, porque também aí existem muitos excessos. O professor deve ser uma referência para os alunos em todos os aspectos. Não basta ser professor, tem de ser educador. Dizia-me, há dias, um professor de sociologia que não conseguia leccionar sem fato e gravata, porque essa imagem, tarde ou cedo, iria repercutir-se nos alunos.
NOTA:
"Pressão" da roupa começa cedo
"Daniela Aguiar, presidente da Associação de Pais da Escola Básica Bartolomeu Perestrelo, vê a proposta do PS-Madeira com bons olhos, "já que muitas vezes as desigualdades notam-se precisamente nas roupas que os alunos vestem, porque há crianças que vêm de meios mais desfavorecidos e não têm acesso a determinadas roupas de marca", acrescenta. O recurso a uniformes faria com que as diferenças se esbatessem. "Aliás era por essa razão que não há muito tempo, o uso de batas era obrigatório nas escolas, mesmo nos níveis de ensino mais avançados", recorda.
Daniela Aguiar não esconde que a pressão em vestir de determinada forma como um passo para a aceitação num 'grupo', começa desde cedo. A presidente da Associação de Pais diz que o filho, que frequentou uma escola privada e usou farda até ao 4º ano, só quando passou para o 5º ano e para uma nova escola é que passou a ligar à roupa e às marcas que veste e que os colegas vestem. A 'uniformização' do vestuário, de acordo com Daniela Aguiar, iria contribuir, em última instância para que ao longo da vida, as crianças e jovens dessem "mais importância a questões fundamentais e menos a questões supérfluas". (texto publicado no DN)

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