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terça-feira, 24 de novembro de 2009

NÃO HÁ PISCINAS A MAIS NA REGIÃO. O QUE EXISTE É INCOMPETÊNCIA A MAIS PARA AS GERIR

Domingo último, no meu habitual e quase crónico zapping, assisti, na RTP-Madeira, a uma parte de um programa desportivo. Quando por lá passei, talvez porque durante muitos anos estive ligado à natação, deixei-me ficar a ouvir comentários diversos sobre as piscinas da Região, as construídas e as que estão em curso ou planeadas, sobre os encargos de manutenção, a triste situação do complexo do Clube Naval do Funchal e, entre outros aspectos de pormenor, as críticas de um treinador (com toda a razão) sob a péssima rendibilidade do complexo da Penteada. Fiquei pasmado e triste com o quadro negro traçado pelos intervenientes.
Começo por dizer que abro aqui uma excepção para falar desta modalidade. Quando a deixei foi de vez. Já lá vão dezasseis anos. Mas, de facto, ela ocupou uma significativa parte da minha vida profissional e dela guardo momentos de grande felicidade, cujo topo foi atingido com a presença de um nadador nos Campeonatos do Mundo e nos Jogos Olímpicos de Seoul. Se abro uma excepção é porque não gostei do que ouvi.
Ora bem, começo por dizer que não há piscinas a mais na Região, o que existe é incompetência a mais para as gerir. Desde há muitos anos que as piscinas, ao contrário de outras modalidades, são fonte de lucro e não de prejuizo. Ademais, o acto de saber nadar (ainda por cima nas ilhas) é de importância fulcral no plano educativo. Por paradoxal que possa parecer, tínhamos uma altíssima taxa de pessoas que não sabiam nadar. Não posso quantificar neste momento, mas há dados dos anos 80 que eram aterradores. Recordo a realização de um estudo com 1000 alunos de uma escola do Funchal, pertencentes ao grau de ensino equivalente 2º ciclo actual. Tenho esse estudo guardado. Penso que, entretanto, a situação terá melhorado substancialmente, mas pressuponho que continuar a ser preocupante. Mas sobre isto não possuo dados e daí as minhas reservas.
Regresso ao mau funcionamento e prejuízo que dizem existir. Não entendo como é que uma piscina não gera receitas, no mínimo, para contrabalançar os encargos obrigatórios. Há tantas formas de o fazer sem andar de mão estendida a pedir subsídios ou a depender do erário público. Há poucas modalidades em que isto acontece. O problema está em saber se os responsáveis têm ou não formação e competência adequada para as gerir. Se não têm é o descalabro. É o que está à vista e que foi comentado. Não basta ter um curso e ser colocado ou destacado para o exercício de uma função. É fundamental saber fazer, experiência, capacidade criativa, inovação e apurado sentido gestionário promotor de receitas. Quando isso não acontece, normalmente, cumprem-se horários e outros que se responsabilizem pelas dívidas.

Recordo aqui, como mero exemplo, um trabalho que produzi no decorrer da parte curricular do Mestrado em Gestão do Desporto. Intitulou-se: "Estudo de um caso - Pressupostos de uma política de marketing no âmbito da construção de uma piscina". Esse estudo foi, posteriormente, publicado na revista de Ciências do Desporto (Ludens - Vol. 15 nº 1/2 Jan/Jun 1995). São oito páginas que incidem sobre a construção da piscina do Clube Naval do Funchal. Na síntese do trabalho pode ler-se: " (...) A partir da construção de um conjunto de cenários básicos referenciados como exemplo, é possível partir para a construção de um plano que garanta segurança ao investidor e a plena satisfação do consumidor do produto desporto".
O estudo foi realizado muito antes do início da construção do citado complexo e previa receitas proporcionais aos encargos de construção e de manutenção. Só que isto obrigou a estudar e a planear, atempadamente, as situações. Aliás, enquanto pela natação profissionalmente andei, os quadros competitivos nacionais e internacionais levaram-me a muitas cidades e a muitas piscinas e tive, por isso, a possibilidade de ver e a oportunidade de contactar e de tomar conhecimento sobre os aspectos gestionários. Nunca alguém me referiu que a instalação dava prejuízo, desde grandes infra-estruturas a pequenos espaços que pouco mais tinham do que um tanque de 16 metros.
Passaram-se alguns anos mas os pressupostos gestionários básicos mantêm-se. Portanto, trata-se de um problema de capacidade dos recursos humanos e não do número de instalações criadas, se bem que haja uma grelha internacionalmente aceite que, para uma dada população, se encontrem definidas as infra-estruturas desportivas necessárias. Basta aplicá-la. E aí, é verdade, parece-me notório um grave desfasamento entre a oferta e a procura em todos os domínios do sector desportivo regional. Mas essa é outra história, tem a ver com as linhas orientadoras da política desportiva.
Foto: Google Imagens - www.seixasemaria.com

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