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domingo, 18 de abril de 2010

SEM DESTINATÁRIO

Os lugares que ocupam, com dignidade e zelo, não ponho isso nem minimamente em causa, obriga-as a uma contenção nas atitudes e nas palavras, sem que daí advenha qualquer condicionamento na sua liberdade.

Sempre considerei abusivo os partidos de poder confundirem o exercício governativo com o poder partidário. Todos sabemos que a fronteira é ténue e que as tentações são muitas. No mínimo, do comportamento visível deve sobressair uma imagem discreta e de responsabilidade. Quem ocupa cargos de alguma ou grande responsabilidade, de liderança ou de apoio ao vértice estratégico, na configuração organizacional de Mintzberg, deve ter presente que a sua postura não pode nem se deve confundir com a do cidadão normal. Há um dever de reserva e de distanciamento que deve estar, permanentemente, acautelado.
A propósito, há dias, um Educador Social, a propósito de questões desta natureza a que o díálogo nos conduziu, dizia-me: - imagine que me chega às mãos uma criança, vítima de maus tratos, cujos pais são conhecidos e eu, por qualquer canal de comunicação que disponha, falo do caso, dos relatórios que possuo, etc.. Ora, certo e sabido que uma questão desta natureza conduzir-me-ia ao despedimento por justa causa, concluiu. Nem mais, disse-lhe, concordando.
Parece-me óbvio que em qualquer lugar que ocupemos, se impõe a observância dos nossos limites. Ou estamos ou não estamos. Não podemos é estar, e, ao mesmo tempo, comprometer a instituição à qual pertencemos. E atenção, não se trata de condicionamento do livre pensamento e da palavra, da liberdade de poderem opinar, mas de manterem uma atitude discreta, não interventora e, por vezes, até de ofensa sobre aqueles de quem depende.
Ao correr do pensamento e da digitação deste texto surge-me um segundo exemplo: imagine-se, na esfera privada, hipoteticamente, o secretário do Engº Belmiro de Azevedo, por qualquer canal de comunicação, inclusive, no direito que tem a possuir um blogue pessoal, transcrever e opinar sobre posições do presidente do conselho de administração, ou de outros elementos internos ou externos ao grupo? Não faz sentido e, dependendo das posições assumidas, certo e sabido que tal empregado teria problemas profissionais. Na política exige-se o mesmo.
Há, neste quadro de referências que, em abstrato, equaciono, pessoas que conheço e que muito respeito, independentemente do posicionamento político-partidário, que a política regional, melhor dizendo, o ambiente facilitador e irresponsável na qual se transformou a política regional, gerem o processo comunicativo como se fossem pessoas iguais às restantes. Não são. Os lugares que ocupam, com dignidade e zelo, não ponho isso nem minimamente em causa, obriga-as a uma contenção nas atitudes e nas palavras, sem que daí advenha qualquer condicionamento na sua liberdade. São lugares de responsabilidade que obrigam ao sigilo e à abstenção de comentário. É assim com um gestor de conta bancário, é assim com um director de turma de escola, é assim com investigadores de processos judiciais (ainda recentemente, o Conselho Superior da Magistratura (CSM) deliberou que nenhum juiz pode comentar na praça pública casos judiciais, próprios ou alheios), obviamente, que deve ser assim na política. Não estou a ver, no plano político, o secretário do presidente da Assembleia da República, por exemplo, utilizar a informação privilegiada que dispõe, para em um qualquer canal de comunicação pessoal ou público, comentar a vida da instituição, desde o presidente aos grupos parlamentares. Seria um escândalo nacional. Nem se atreveria, obviamente.
Portanto, não se trata, repito, de condicionar, limitar o uso da palavra dita ou escrita, mas de saber utilizar os espaços institucionais que se ocupa, com a responsabilidade que dele próprio emerge. Aliás, a liberdade de expressão é um direito constitucional e está inscrita na Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Portanto, defendo que o dever de reserva não pode ser interpretado como imposição total do silêncio. Para mim trata-se de uma questão de bom senso e não de ataque seja lá a quem for. Até porque nada, rigorosamente nada, me move relativamente a essas pessoas.
Ilustração: Google Imagens.

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