Preferia, menos ostentação e festa e mais recato, menos show e mais atitudes serenas e contextualizadas com o momento que se vive.
A abordagem que aqui vou fazer não é de fácil interpretação, mas é o meu sentimento que aqui está.
Ora, eu sei que, todos os dias, há uma página de gente que morre. Eu sei que o tempo não volta atrás, enfim, eu sei que a vida continua. Tem de continuar. Mas sei, também, que nos recentes e trágicos acontecimentos de 20 de Fevereiro, morreram 42 pessoas. Sei que oito estão dados como desaparecidos, alegadamente, estão, algures, soterrados. Sei que lá por cima, nas terras mais altas, muita gente vive com a alma completamente destroçada. Sei que os apoios tardam e que a fome (de tudo) não pode esperar. Sei que há empresários aflitos e com a suas vidas emparedadas. Sei de tudo isto e que o Homem, o político, insensível a estas questões determina, friamente, que o espectáculo tem de continuar. E é aqui que, sem miserabilismos, a minha consciência dita que deveria existir moderação, contenção e sentido de respeito pelas feridas que estão bem abertas. É-me difícil aceitar desfiles solidários (talvez solitários), "after party" animado, concertos, bailes e muitas outras iniciativas com o carimbo da solidariedade, quando, simultaneamente, confrontamo-nos com muita dor, eu diria, profunda dor. Preferia, menos ostentação e festa e mais recato, menos show e mais atitudes serenas e contextualizadas com o momento que se vive.
Ainda não tinham enterrado os mortos e já falavam na festa da flor. Há, por aqui, uma incalculável frieza humana como se tudo se justificasse a luz da promoção da Madeira. É evidente que há necessidade de angariar receitas, mas também é evidente que se torna necessário bom senso e equilíbrio nas atitudes que se tomam. Não quero com isto dizer que a opção deveria ser a de fumo preto no braço, xaile negro e baba e ranho pelos quatro cantos da Região. Não é disso que falo, nem é do desfile de Domingo próximo que me estou a referir, mas de um respeito e de uma memória que implicaria serenidade e inteligência nas opções.
Estarei errado? É o que sinto...
Ilustração: Google Imagens.
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