Uma professora questionou porque é que não se entrega o planeamento e recuparação aos "sábios"? Queria ela certamente dizer, às pessoas do "conhecimento". Pois é, porque o que existe é uma cultura de auto-suficiência onde qualquer um, com o poder ditado pelo voto, arvora-se em dono e senhor de um pseudo-saber. A ignorância altifalante abafa o estudo e aquele que o tenta fazer corre o risco de ser rotulado de palhaço!
Há momentos que são tão infelizes que o melhor é esquecer. Esta manhã, a propósito de uma proposta apresentada pelo PCP, um senhor deputado da maioria, ao terminar a sua intervenção, disse que o "caixote do lixo" era o destino daquela iniciativa. Ter-se-á tratado de um mero deslize? Enfim, só a consciência do Deputado o dirá. Mas isso pouco me interessa.
Para mim, o importante é determinar se os comportamentos desta natureza, por um lado, se não ajudarão a degradar a imagem do Parlamento, por outro, se palavras e atitudes semelhantes não estão a contribuir para acicatar um deplorável ambiente no primeiro órgão de governo próprio. Eu considero que sim.
Aliás, quem está no uso da palavra, não raramente tem de confrontar-se com palavras bem audíveis, do tipo "palhaço", e fazer que não escutou. Eu que pertenci à Legislatura de 1996/2000, noto a diferença. Não está sequer em causa os chumbos, a atitude manifestamente pouco democrática imposta pelo peso de uma maioria absolutíssima, mas a qualidade e o respeito. Que havia excessos, obviamente que sim (sempre os houve), mas que não roçavam o nível do que hoje acontece. Eu lamento, porque uma coisa é debater com alma, com fervor, com entusiasmo as propostas que se apresentam, outra, é o aviltamento, a baixeza, a ofensa em crescente descontrolo. Há que travar esta situação, pedindo contenção e respeito.
Ainda ontem assisti, na Universidade da Madeira, a uma sessão sobre as causas e consequências da tragédia de 20 de Fevereiro. A palavra foi dada aos especialistas, engenheiros, arquitectos e biólogos, entre outros. Uma reflexão serena, distendida, profunda, em um fim de tarde que constituiu um hino à cidadania de que tanto precisamos de exercer. Lá mais para o final, uma professora, questionou porque é que não se entrega o planeamento e a recuparação aos "sábios"? Queria ela certamente dizer, às pessoas do "conhecimento" que podem ajudar a decisão política. Pois é, Caríssima Amiga, porque não temos uma verdadeira cultura para o fazer, e o que existe é uma cultura de auto-suficiência onde qualquer um, com o poder ditado pelo voto, arvora-se em dono e senhor de um pseudo-saber. Sabe, a ignorância altifalante abafa o estudo e aquele que o tenta fazer corre o risco de ser rotulado de palhaço!
Por esta via, muito dificilmente, alguém, de qualidade, quererá sentar-se na Assembleia, simplesmente porque esses não estão para serem enxovalhados. Há que reciclar os comportamentos desprestigiantes.
Ilustração: Google Imagens.
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