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sábado, 24 de abril de 2010

SENTI-ME ENVERGONHADO!


Não pode haver paz e tranquilidade quando, muitos docentes, sentem a indisciplina e a violência ditada por uma sociedade ela própria violenta. Por isso, esse agradecimento aos professores por serem os obreiros dessa paz e tranquilidade, constitui uma habilidosa forma de os castrar no pensamento, de os ter submissos e de os manter calados.

Não consigo aguardar para daqui uns dias. A Educação corre a todo o momento na minha consciência. É natural que assim seja depois de um percurso que começou em 1969. É por isso que, ainda ontem, no discurso do Presidente do Governo Regional da Madeira, na abertura dos trabalhos do V Congresso do Sindicato Democrático de Professores, me tivesse sentido envergonhado. É isso mesmo, senti vergonha, perante convidados, alguns vindos de fora, não tivesse saído dali uma única ideia que, pelo menos para mim, me fizesse pensar, que me colocasse em uma posição de reflexão. Tudo lugares comuns, contradições e palavras ditas em função das características da plateia.
Disse que aprendeu muito enquanto, por algum tempo, exerceu funções de professor. Professor emprestado, sublinho. Eu digo, agora, que, infelizmente, não aprendeu nada. Porque se tivesse restado alguma coisa, nas funções governativas que depois veio a exercer, obviamente, teríamos sentido a influência dessa aprendizagem. Os factos provam que não se assistiu a um transfere entre a "aprendizagem" e as novas funções. Na escola, nas grelhas de avaliação dos alunos, isto é valorizado, saliento. Mas, adiante. Falar e agradecer o clima de tranquilidade e paz vivido nas escolas, é de sentir um aperto cá dentro, quando se sabe que a escola, hoje, é tudo menos isso. A Escola, hoje, em abstrato, é sofrimento para muitos docentes que a têm de gerir sem meios. Na Escola, hoje, não há paz e tranquilidade, existe, sim, medo, demissão e aceitação de uma hierarquia política esclerosada. Não pode haver paz e tranquilidade quando, muitos docentes, sentem a indisciplina e a violência ditada por uma sociedade ela própria violenta por múltiplos factores. Por isso, esse agradecimento aos professores por serem os obreiros dessa paz e tranquilidade, constitui uma habilidosa forma de os castrar no pensamento, de os ter submissos e de os manter calados. É, por isso, que o Presidente se opôs aos "sectores corporativos" da sociedade por serem um contraponto à "democracia representativa". No essencial, deduz-se das suas palavras, que o Presidente o que deseja é que ninguém se movimente, ninguém diga NÃO e, por extensão, todos se subordinem à interpretação da "Democracia" que entende ser a melhor. Foi e é por isso que, naquele discurso, não falou das questões mais importantes da Educação, do sistema organizacional, dos currículos e dos programas. Não falou do número de alunos por escola e por turma, não falou de professores que desesperam, há cinco anos, para progredirem na carreira, não falou do seu chumbo à proposta de contagem integral do tempo de serviço congelado, para efeitos de progressão na carreira, que deu origem a uma petição assinada por 4000 professores, não falou da dignificação da carreira docente, não falou dos novos tempos e das necessárias respostas, não falou da Acção Social Educativa face ao número de pobres que por aí andam nas escolas, não falou da indisciplina e da violência, não falou (nem podia falar) das propostas que, sistematicamente, são chumbadas na Assembleia Legislativa da Madeira, não falou de uma tal comissão criada para estudar a avaliação do desempenho e que não há maneira de publicar uma ideia, enfim, passou ao lado de tudo quanto é importante, quando ele estava ali, na reunião magna de um sindicato. Repito, senti-me envergonhado, porque, por este andar, tudo vai continuar na mesma, simplesmente, porque é evidente um vazio de ideias. Gostaria de ter aprendido qualquer coisa. Não aprendi. O sindicato merecia melhor.
Nota:
Acabei de escutar o discurso do Dr. Jaime Freitas, presidente eleito do SDP. Considero que seria um bom contributo para o sistema educativo se o remetesse ao Presidente do Governo, ao Secretário da Educação e aos Directores Regionais do sector educativo.
Ilustração: Google Imagens.

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