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quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A FALÊNCIA DO SISTEMA DESPORTIVO

Na última edição de O Desporto Madeira pode ler-se interessantes declarações de Alcides Nóbrega, Presidente do Estreito de Câmara de Lobos. Escolho duas:
1ª "Os valores que o Estreito tem a receber da Administração Pública são, de longe, superiores a eventuais dívidas de prémios a atletas ou a fornecedores";
2º "Enquanto não forem tomadas decisões para que os clubes e associações recebam aquilo que têm em atraso da Administração Pública, será muito complicado avançar para novos objectivos".
Ora bem, não discuto, nem esse é o meu objectivo, a orientação gestionária do desporto definida pelo Grupo Desportivo Estreito de Câmara de Lobos, pois essa apenas diz respeito aos seus corpos sociais e sócios. O problema que se coloca é outro, é de política desportiva regional. Ora, quando se sabe que, em função dos contratos-programa há transferências por cumprir com mais de dois anos de atraso, tal significa duas coisas: desde logo que o Governo incentivou uma irrealista política de subsidiodependência de todo o associativismo sem ter em conta a sua capacidade de resposta aos compromissos assumidos; depois, o próprio associativismo que, em muitos casos, criou responsabilidades desproporcionais às dinâmicas que devem nortear a esmagadora maioria dos clubes, no quadro de continuadores da actividade escolar e veículos de cultura física nos meios onde se encontram sediados.
O que hoje existe é um "monstro" que o governo não consegue dominar. Sobre esta matéria há muito que se diga mas um aspecto parece-me evidente: estamos face à falência deste sistema desportivo. Desmontar e gerar as dinâmicas de um novo paradigma torna-se, por isso, urgente. Manter esta situação apenas irá gerar um cada vez maior sufoco financeiro quer para o governo quer para o associativismo. E tenhamos presente que só nos últimos oito anos foram disponibilizados mais de 242 milhões de euros ao desporto. Uma factura muito alta para, ainda por cima, a Madeira continuar no último lugar da taxa de participação desportiva da Europa (22%).

3 comentários:

Scherzan disse...

Se me permite, muitas vezes o dinheiro è muito mal administrado dentro portas nas associações desportivas. Há sempre uma mão leve que consegue dar "o jeitinho". Mesmo assim, não se justifica com os resultados obtidos (e não sei de onde vem essa percentagem de participação) a quantidade de dinheiro que se desperdiça no desporto regional. Sobretudo quando as entidades culturais, de longe com muito mais empenho e dedicação à causa de praticam, passam "fome" em virtude de um constante "corte de verbas".
Pergunto-me porquê. Quando a mim, quem mas representa a região e consequentemente leva o bom nome são sempre estas instituções. O desporto, é praticado em todo lado segundo os mesmo parâmetros, agora a cultura regional é única e é o que realmente representa a RAM.
Nunca percebi como dar um pontapé numa bola, traz reconhecimento às ilhas...
E os que todos os dias se esfolam para sem qualquer ganho, representarem o bom nome pelo mundo fora.
Sonho com uma região, "realmente" turística, onde a cultura (sobretudo a tradicional) tem um papel de destaque na vida madeirense. Até porque...faz sentido!

André Escórcio disse...

Gostei muito do seu comentário. É muito bom sentir que não estamos sós na defesa dos princípios e dos valores. Quando sublinha que "(...)nunca percebi como dar um pontapé numa bola, traz reconhecimento às ilhas..." sei, perfeitamente interpretar o alcance das suas palavras. E já que fala de cultura, há muito que defendo um desporto entendido como bem cultural e não um desporto que apenas serve os desígnios de alguns. Melhor dizendo, prefiro, na nossa terra, uma desporto ao serviço do desenvolvimento (das pessoas) e não um desporto ao serviço da política.
Quando à taxa de participação desportiva, ela deriva de um estudoi realizado, de dez em dez anos, ao nível de toda a Europa, subordinado a um protocolo idêntico para todos os países e que engloba desde os 15 aos 74 anos. Como vê, engloba uma grande parte dos escolares (15 e mais anos)e, mesmo assim, não conseguimos passar os 22%. Com uma curiosidade, é que apenas 8% pratica-o três vezes por semana. Trata-se de uma taxa que nos coloca em último lugar da Europa.

André Escórcio disse...

Um anónimo acaba de escrever um comentário que, por uma questão de princípio, recuso a publicação. Tem todo o direito de criticar a gestão do Presidente do Grupo do Estreito, todavia, espero que o faça de uma forma diferente. Estou certo que compreenderá e fico a aguardar a sua análise.